Opaq começa a investigar suposto ataque químico na Síria
Equipe de investigadores da Organização para a Proibição de Armas Químicas deve iniciar apuração do suposto ataque que desencadeou bombardeios
AFP
Publicado em 15 de abril de 2018 às 17h38.
Última atualização em 16 de abril de 2018 às 11h01.
Uma equipe de investigadores da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) deve iniciar neste domingo (15) na cidade de Duma, perto de Damasco, a investigação sobre o suposto ataque químico que desencadeou os bombardeios ocidentais contra o regime de Bashar al-Assad.
"A missão de investigação chegou ontem [sábado, 14] em Damasco e deve ir hoje à Duma para começar seu trabalho", indicou o vice-ministro das Relações Exteriores da Síria, Ayman Susan, à AFP.
O regime anunciou no sábado a reconquista de todas as áreas rebeldes da região de Ghuta Oriental, nas proximidades da capital, após a evacuação dos últimos combatentes rebeldes de Duma, onde teria acontecido o ataque químico em 7 abril.
"Vamos deixar a equipe fazer seu trabalho de forma profissional, objetiva, imparcial e sem qualquer pressão", garantiu o vice-ministro. "Os resultados da investigação revelarão as acusações mentirosas", acrescentou.
No sábado, a OPAQ, uma organização com sede em Haia, explicou que continuaria a investigar o suposto ataque químico em Duma, apesar dos bombardeios dos Estados Unidos, França e Reino Unido, na Síria.
"A equipe de investigação da OPAQ continuará na Síria para estabelecer os fatos sobre as acusações de uso de armas químicas em Duma", disse a organização em um comunicado.
Estados Unidos, França e Reino Unido atacaram entre sexta-feira à noite e a madrugada de sábado alvos militares específicos na Síria para punir o regime de Damasco pelo suposto ataque químico contra civis na semana passada.
Washington e Paris afirmam ter evidências de que o regime sírio utilizou gás sarin e cloro no ataque químico em Duma. Mas a Síria, apoiada pela Rússia, nega essas acusações e acusa os rebeldes de "invenções".
Em 7 de abril, os socorristas das zonas rebeldes, os Capacetes Azuis, alertaram sobre um ataque químico que teria feito ao menos 40 mortos e centenas de feridos. As vítimas apresentaram sintomas como dificuldades respiratórias, queimaduras e salivação espumosa.
Investigação complicada
O trabalho será complicado para os investigadores que chegam no local mais de uma semana depois dos fatos, em uma área que desde então esteve sob o controle das tropas sírias e da polícia militar russa.
Os últimos combatentes rebeldes de Duma, juntamente com os civis, foram evacuados no sábado para áreas do norte da Síria, como parte de um acordo de rendição assinado com o regime em 9 de abril, dois dias após o suposto ataque químico.
Sujeita a um cerco sufocante durante cinco anos e submetida a violentos bombardeios do regime desde 18 de fevereiro, a cidade está devastada.
Em 2014, a OPAQ indicou que a Síria havia se desfeito de seu arsenal de armas químicas, mas uma missão conjunta com a ONU concluiu que Damasco tinha usado gás sarin em 2017 contra o vilarejo de Khan Sheikhun (noroeste), uma zona rebelde.
Os presidentes americano, Donald Trump, e francês, Emmanuel Macron, afirmam ter "provas" do uso de armas químicas para justificar as incursões contra três locais ligados ao programa de armas químicas do regime - no norte de Damasco e na província central de Homs - sem fazer vítimas.
Uma autoridade do governo americano indicou no sábado, que os Estados Unidos tinha informações "mais claras" sobre o uso de cloro em Duma, mas também "informações significativas que indicam uso de sarin", um poderoso gás neurotóxico.
"Pressão" diplomática sobre Assad
Esses ataques despertaram a indignação da Rússia e do Irã, aliados de Damasco.
Os russos condenaram "um ato de agressão contra um Estado soberano", mas não conseguiram obter uma condenação do Conselho de Segurança da ONU.
Não se espera novos bombardeios, mas o Pentágono garantiu que os Estados Unidos estariam prontos para uma nova ação em caso de novo ataque químico.
Após este episódio, França, Estados Unidos e Reino Unido pretendem relançar as negociações diplomáticas.
Paris, através de seu ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, pediu à Rússia que "pressione" Bashar al-Assad.
"Devemos agora esperar que a Rússia entenda que, depois da resposta militar (...), devemos unir nossos esforços para promover um processo político na Síria que permita uma saída para a crise", disse ele em uma entrevista no Le Journal du Dimanche.
"Hoje, o que bloqueia esse processo é o próprio Bashar al-Assad e a Rússia deve pressioná-lo", acrescentou.
Americanos, franceses e britânicos apresentaram à ONU um novo projeto de resolução sobre a Síria que deve ser discutido na segunda-feira, segundo diplomatas.
O texto aborda várias questões - armas químicas, ajuda humanitária e política - incluindo a criação de um novo mecanismo para investigar o uso de armas químicas.
Por sua vez, a Liga Árabe realiza a sua cúpula anual na Arábia Saudita, país que deu seu "total apoio" aos ataques ocidentais. A Síria foi suspensa da Liga em 2011 por causa das responsabilidades de seu presidente na guerra.