São Paulo – Depois do fim de um frágil cessar-fogo entre os principais atores da guerra na Síria, um comboio de ajuda humanitária organizado pelo Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) e pelo braço sírio da Federação Internacional da Cruz Vermelha e Crescente Vermelho (FICV) foi atacado na província de Aleppo, uma das regiões mais devastadas pelo conflito.
Em razão da insegurança, a ONU se viu forçada a suspender o envio de comboios humanitários ao país, pelo menos até que uma nova avaliação da situação seja realizada. A região leste de Aleppo não recebe qualquer ajuda humanitária desde julho e estima-se que ao menos 275 mil pessoas estejam presas sem comida, água, abrigo e atendimento médico.
O comboio atacado era formado por 31 caminhões, dos quais 18 foram danificados. Segundo Stephen O’Brian, coordenador da OCHA, esse seria o primeiro de dois comboios organizados para abastecer a região e levava mantimentos suficientes para abastecer 185 mil pessoas por um mês. Parte da carga foi destruída e ao menos 20 civis e um voluntário foram mortos.
Ainda não há evidências de quem estaria por trás do ataque. De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma rede de ativistas sírios que monitora os desdobramentos da guerra civil no país, os aviões que realizaram o bombardeio não foram identificados, mas sabe-se que os grupos rebeldes não contam com força aérea.
“Se descobrirmos que esse ataque fez dos humanitários um alvo deliberado, ficará constatado um crime de guerra”, alertou O’Brian. “Queremos uma investigação imediata e imparcial desse incidente mortal. Os responsáveis têm de estar cientes de que um dia responderão por violações das leis internacionais de direitos humanos ”, pontuou o coordenador.
Aleppo em chamas
Localizada a pouco mais de 360 quilômetros da capital Damasco, a cidade de Aleppo, que fica na província de mesmo nome, se tornou um dos fronts mais importantes e violentos da guerra que já dura mais de cinco anos.
Ela é a segunda maior cidade da Síria e está dividida quase que meio a meio entre rebeldes e tropas do governo do presidente Bashar al-Assad desde 2012. Chegou a ser lar de 2,3 milhões de pessoas, mas hoje é ocupada por cerca de 400 mil. Muitas delas encontram-se presas em seus bairros sem qualquer tipo de assistência.
Na semana passada, um cessar-fogo apoiado pelos EUA e pela Rússia entrou em vigor e tinha como objetivo tentar colocar fim ao conflito em toda a Síria. Esse acordo, no entanto, acabou indo por água abaixo no último final de semana, quando as partes envolvidas se acusaram de ter violado a trégua, retomando os embates.
Em Aleppo, mostrou um levantamento do OSDH, ao menos 32 pessoas foram mortas após o fim do cessar-fogo na última segunda-feira.
A situação no país não para de se agravar. Intitulada pelo jornal americano The Washington Post como uma “mini guerra mundial” por conta da quantidade e dos atores envolvidos e pela complexidade da situação, a guerra síria já matou mais de 250 mil pessoas e feriu mais de um milhão, segundo números atualizados pela ONU.
Ao menos 4,8 milhões de sírios abandonaram o país, enquanto 6,5 milhões se deslocaram internamente. 13,5 milhões de pessoas estão desesperadas por ajuda humanitária. Dessas, 5,4 milhões estão em áreas de difícil acesso e 600 mil estão presas em zonas sitiadas.
A comunidade internacional parece estar longe de encontrar uma solução sustentável que possa dar fim ao conflito. Enquanto isso, a população síria agoniza entre bombardeios, tiroteios e ataques terroristas.
- 1. Frágeis e instáveis
1 /17(Paula Bronstein / Staff)
São Paulo – Guerras, governos à beira do colapso,
pobreza . Em muitos países do mundo, é essa a realidade de milhares de pessoas. Tais instabilidades, no entanto, muitas vezes transbordam fronteiras e podem impactar com severidade toda uma região. A crise de
refugiados global, que decorre de uma mistura de fatores que vão desde a guerra na Síria, passando pela pobreza e ameaças terroristas na África, é uma delas. Com o objetivo de observar quais são os países que hoje enfrentam as situações mais instáveis e quais fatores contribuem para esse cenário, a
The Fund for Peace, organização de pesquisa dedicada ao estudo de conflitos violentos e da segurança, desenvolveu o
Fragile States Index. O índice, que está em sua 12ª edição, analisou 178 países em mais de 100 fatores. A partir das pontuações obtidas por cada um, foi possível então classifica-los de acordo com a sua fragilidade. Quanto maior é a nota recebida, mais grave é a situação de determinado local.
EXAME.com compilou nesta matéria os 15 primeiros colocados no ranking dos mais frágeis, mostrando em uma tabela as suas pontuações gerais, bem como as obtidas em três indicadores principais. Veja abaixo:
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | Mostra a pontuação geral obtida por um país. |
Pressões demográficas | Incluiu a análise de informações como a incidência de desastres naturais, o estado do meio ambiente, a mortalidade e desnutrição. |
Pobreza e declínio econômico | Foi calculado a partir da avaliação de aspectos econômicos que envolvem desde o PIB per capita, inflação e desemprego. |
Direitos humanos e as leis | Leva em conta os graus de liberdade de imprensa e civis do local, assim como o respeito pelos direitos humanos e as leis. |
Neste ano, o ranking de países mais frágeis trouxe algumas novidades que sinalizam melhoras, ainda que tímidas, para alguns deles. Isso não significa, no entanto, que as instabilidades tenham sido finalmente controladas. Um exemplo é a situação Sudão do Sul, que há dois anos reinava soberano no posto de mais frágil. Em 2016, o país mais jovem do mundo passou para a 2ª colocação. O país vive em tensão desde a sua independência do Sudão em 2011 e a eclosão de uma
guerra civil que ainda não está totalmente resolvida. Desde o ano passado, vigora no
Sudão do Sul um delicado cessar-fogo entre governo e rebeldes, mas os conflitos não terminaram por completo. Neste mês, entretanto, a missão pacificadora da ONU em atividade no Sudão do Sul ganhará reforços em seu efetivo, a fim de ajudar na estabilização do governo. Veja nas imagens como está o ranking 2016 dos países mais frágeis, segundo o Fragile States Index.
- 2. 1º. Somália
2 /17(John Moore/Getty Images)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 114.0 |
Pressões demográficas | 9.7 |
Pobreza e declínio econômico | 9.0 |
Direitos humanos e as leis | 9.7 |
- 3. 2º. Sudão do Sul
3 /17(Anthony Nambwaya / Reuters)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 113.8 |
Pressões demográficas | 9.9 |
Pobreza e declínio econômico | 9.3 |
Direitos humanos e as leis | 9.7 |
- 4. 3º. República Centro Africana
4 /17(Getty Images)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 112.1 |
Pressões demográficas | 8.7 |
Pobreza e declínio econômico | 8.6 |
Direitos humanos e as leis | 9.9 |
- 5. 4º. Iêmen
5 /17(Anees Mahyoub / Reuters)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 111.5 |
Pressões demográficas | 9.5 |
Pobreza e declínio econômico | 9.4 |
Direitos humanos e as leis | 9.4 |
- 6. 4º. Sudão*
6 /17(Reuters)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 111.5 |
Pressões demográficas | 9.0 |
Pobreza e declínio econômico | 8.7 |
Direitos humanos e as leis | 9.3 |
*País está empatado com o Iêmen na 4ª posição. - 7. 6º. Síria
7 /17(REUTERS/Abdalrhman Ismail)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 110.8 |
Pressões demográficas | 8.4 |
Pobreza e declínio econômico | 7.8 |
Direitos humanos e as leis | 9.8 |
- 8. 7º. Chade
8 /17(Getty Images)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 110.1 |
Pressões demográficas | 9.9 |
Pobreza e declínio econômico | 8.0 |
Direitos humanos e as leis | 9.3 |
- 9. 8º. República Democrática do Congo
9 /17(Luc Gnago/Reuters)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 110.0 |
Pressões demográficas | 9.1 |
Pobreza e declínio econômico | 8.1 |
Direitos humanos e as leis | 10.0 |
- 10. 9º. Afeganistão
10 /17(Mohammad Ismail / Reuters)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 107.9 |
Pressões demográficas | 9.5 |
Pobreza e declínio econômico | 8.5 |
Direitos humanos e as leis | 8.7 |
- 11. 10º. Haiti
11 /17(Spencer Platt/Getty Images)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 105.1 |
Pressões demográficas | 9.2 |
Pobreza e declínio econômico | 8.9 |
Direitos humanos e as leis | 7.7 |
- 12. 11º. Iraque
12 /17(Thaier Al-Sudani / Reuters)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 104.7 |
Pressões demográficas | 8.1 |
Pobreza e declínio econômico | 6.8 |
Direitos humanos e as leis | 8.9 |
- 13. 12º. Guiné
13 /17(AFP)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 103.8 |
Pressões demográficas | 8.9 |
Pobreza e declínio econômico | 9.4 |
Direitos humanos e as leis | 7.9 |
- 14. 13º. Nigéria
14 /17(Stringer/Reuters)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 103.5 |
Pressões demográficas | 9.1 |
Pobreza e declínio econômico | 7.7 |
Direitos humanos e as leis | 9.1 |
- 15. 14º. Paquistão
15 /17(Arif Ali / AFP)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 101.7 |
Pressões demográficas | 8.9 |
Pobreza e declínio econômico | 7.4 |
Direitos humanos e as leis | 8.2 |
- 16. 15º. Burundi
16 /17(Reuters)
Indicador | Pontuação |
---|
Geral | 100.7 |
Pressões demográficas | 9.5 |
Pobreza e declínio econômico | 8.2 |
Direitos humanos e as leis | 8.5 |
- 17. Agora conheça os exércitos mais poderosos
17 /17(U.S. Air Force/Staff Sgt. Jason T. Bailey/Flickr)