Novo presidente da África do Sul apela ao legado de Mandela
Ramaphosa falou dos desafios econômicos como via para atenuar a pobreza e a desigualdade
EFE
Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 21h12.
Johanesburgo - O novo presidente da África do Sul , Cyril Ramaphosa, apelou nesta sexta-feira ao legado ético de Nelson Mandela para dar um "novo amanhecer" ao país e se comprometeu a revitalizar a economia criando empregos, especialmente para os jovens, e recuperando a confiança dos investidores.
"Devemos honrar 'Madiba' e esquecer a era da discórdia, da desunião e da desilusão. Devemos deixar para trás a era da falta de credibilidade nas instituições públicas e da desconfiança nos líderes", afirmou no discurso feito no Parlamento, um dia depois da sua posse.
O discurso presidencial, que marca anualmente o começo do ano legislativo numa sessão conjunta das duas câmaras parlamentares e com convidados de todos os setores sociais e do Judiciário, serviu para Ramaphosa anunciar as linhas que ele seguirá no seu governo.
"Este é o ano no qual daremos marcha a ré à corrupção nas nossas instituições públicas", disse em alusão aos anos de mandato do seu antecessor, Jacob Zuma, que renunciou na quarta-feira passada forçado pelo próprio partido.
Ramaphosa falou dos desafios econômicos como via para atenuar a pobreza e a desigualdade existentes desde antes da chegada da democracia (1994).
"Por muitos anos a nossa economia não cresceu no ritmo necessário para criar trabalho suficiente e para tirar o nosso povo da pobreza", afirmou.
Ele informou que trabalhará especialmente para diminuir os níveis de desemprego entre os jovens, um tema para o qual prometeu fazer uma cúpula que permita alinhar esforços de todos os setores. Além disso, considerou fundamental recuperar a confiança dos investidores, que querem uma "nova África do Sul", estimular o setor privado e aos pequenos empresários e reduzir a dívida pública, com "medidas difíceis" se for necessário.
O novo presidente prometeu melhorar as infraestruturas, o setor industrial, a gestão das empresas públicas (envolvidas em escândalos de corrupção) e fortalecer outras áreas importantes, como as de tecnologia e inovação, turismo e agricultura. Sobre essa última área ele disse que trabalhará na redistribuição de terras e que, como acertou o seu partido, o Congresso Nacional Africano (CNA), na sua última conferência, aplicará a medida da "desapropriação sem compensação".
Ramaphosa anunciou que manterá a promessa de Zuma de proporcionar educação superior gratuita, começando este ano pelo primeiro curso com estudantes procedente de famílias de baixa renda.
"Se quisermos romper o ciclo de pobreza temos que educar os filhos dos pobres", afirmou.
Outro ponto destacado foi a necessidade de garantir a inserção de mulheres na economia, especialmente as da população negra.
Apesar da maior parte do discurso ter sido voltado aos pontos fracos deixados pela gestão de Zuma, Ramaphosa teve agradeceu os anos de "serviço" do ex-presidente e os progressos realizados no mandato do antecessor. A menção teve recepção mista de aplausos - que a bancada governista puxou - sufocados por vaias.
"O nosso país entrou num período de mudança. Enquanto a mudança pode produzir incerteza, e até ansiedade, ela também oferece grandes oportunidades de renovação, revitalização e progresso. Juntos vamos fazer história. Fizemos antes e faremos de novo", encorajou.
O discurso será respondido pela oposição e debatido na próxima semana.