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“No governo Trump estou com medo sempre”, diz transgênero Laura Jane Grace

No Brasil em outubro para lançamento de livro e show, vocalista da banda de punk rock Against Me! fala da necessidade de políticas para transgêneros

"Eu acho que o papel do artista é sempre tentar falar a sua própria verdade", diz Laura Jane Grace (Ryan Lowry/Divulgação)

"Eu acho que o papel do artista é sempre tentar falar a sua própria verdade", diz Laura Jane Grace (Ryan Lowry/Divulgação)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 17 de outubro de 2018 às 07h15.

Última atualização em 17 de outubro de 2018 às 08h58.

São Paulo -- Ao redor do mundo transgêneros têm buscado meios de conquistar melhores condições de trabalho, saúde e moradia. No Brasil, a visibilidade de direitos para essa parcela dos cidadãos anda a passos lentos. Por aqui, o tempo médio de vida de uma pessoa trans é de apenas 35 anos. O país é, estatisticamente, considerado o que mais mata essa população, com uma morte a cada 48 horas, segundo dados da Associação Nacional dos Travestis e Transsexuais.

Para modificar esse cenário, algumas empresas criaram políticas específicas para a contratação e inclusão de travestis, transsexuais e transgêneros. Ao redor do mundo, ativistas também fazem a sua parte. Uma delas é a americana Laura Jane Grace, vocalista da banda de punk rock Against Me! que anunciou sua transição em 2012. Laura passa pelo Brasil em outubro em uma série de shows e para o lançamento do seu livro autobiográfico, lançado pela Powerline Books, no qual conta sobre sua infância, a relação com o pai militar, formação da banda, o casamento e o nascimento da filha. Tudo acompanhado pelo sentimento constante de disforia de gênero, classificado como “um forte e persistente desejo de identificar-se com o sexo oposto”.  Sobre isso, ela conversou com EXAME.

EXAME - As estatísticas mostram que ainda há muito a se fazer pela população trans, mas você acha que é um tema melhor resolvido nos últimos anos?

Laura Jane Grace - Nos Estados Unidos, meu país de origem, houve definitivamente um aumento na conscientização da mídia e de políticas em alguns estados. No geral, houve muita educação sobre quem somos e como devemos ser tratados, mas ainda não é o suficiente. Por exemplo, há pouco progresso no sentido de tornar os espaços públicos mais inclusivos. E então, muito progresso precisa acontecer em todas as áreas.

EXAME - Como o governo deve apoiar os LGBTI+?

Laura Jane Grace - No final do governo Obama, parecia que por um momento algum progresso real possivelmente aconteceria. Agora, no governo Trump, estou com medo sempre. Eu não confio no governo para me proteger e acho que a maioria das pessoas trans também não.

As pessoas transexuais devem ter os mesmos direitos humanos básicos que todas as outras, com acesso justo e indiscriminado a moradia, saúde e emprego. O mesmo vale para o acesso aos espaços públicos, livres do medo de serem perseguidas, atacadas ou assassinadas.

EXAME - Estamos em período eleitoral e ainda não sabemos o cenário brasileiro do próximo ano. A partir disso, qual é o papel dos artistas, como você, para mudar essa realidade para melhor?

Laura Jane Grace - Eu acho que o papel do artista é sempre tentar falar a sua própria verdade. Isso pode tornar o mundo um lugar menos solitário e assustador para uma pessoa que te admire. Tenho feito isso através das minhas músicas e ao contar sobre tudo que passei desde a minha infância até me reconhecer como a pessoa que sou hoje.

EXAME - No Brasil temos um movimento recente de empresas que reconhecem e respeitam a diversidade entre seus funcionários com projetos específicos. Você acha que grandes empresas podem ajudar transgêneros a obterem visibilidade?

Laura Jane Grace - Eu acho que as empresas precisam garantir que todos os funcionários possam trabalhar com segurança em um ambiente livre de assédio e danos. Além disso, todas as empresas precisam ter políticas de contratação indiscriminadas e diversidade no local de trabalho.

Como consumidora, recuso-me a apoiar negócios que atuem de outra forma. A discriminação nunca é boa para os negócios, seja para quem pretende trabalhar no local ou comprar um produto. Quando uma pessoa se sente confortável ela é mais feliz e produtiva, e isso gera grande vantagem para o empregador.

EXAME - Você sempre convida um transgênero para tocar em seus shows, como será em São Paulo?

Laura Jane Grace - Eu estou sempre esperançosa de ser capaz de montar diversas formações nos eventos em que tocamos ao redor do mundo. Estou ansiosa para conhecer membros da comunidade trans brasileira.

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