Netanyahu lançou sua ofensiva anti-iraniana diante de um poderoso lobby americano pró-Israel, na véspera de um discurso solene na terça-feira no Congresso (Nicholas Kamm/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de março de 2015 às 16h58.
Washington - O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, elogiou nesta segunda-feira, em Washington, a aliança entre Israel e os Estados Unidos, apesar da crise relacionada ao acordo nuclear iraniano que os americanos esperam concluir, mas que o Estado hebreu espera ver fracassar.
Netanyahu lançou sua ofensiva anti-iraniana diante de um poderoso lobby americano pró-Israel, na véspera de um discurso solene na terça-feira no Congresso que, segundo o dirigente, não "tem a intenção de mostrar falta de respeito em relação ao presidente" Barack Obama.
Porque esta "missão histórica" de três dias em solo americano, nas palavras de Netanyahu, foi planejada sem o conhecimento da Casa Branca, provocando a ira da presidência americana contra seu aliado israelense.
"Vocês estão aqui para dizer ao mundo que o anúncio do fim da relação com os Estados Unidos é não só prematuro, mas falso", declarou o primeiro-ministro israelense, diante de 16.000 delegados do grupo de lobby American Israel Public Affairs Committee (AIPAC).
Nos Estados Unidos, onde viveu e país com o maior número de judeus no mundo (de 4,5 a 5,7 milhões) depois de Israel, Netanyahu defendeu a força da aliança histórica entre os dois países.
"Apesar de discordâncias pontuais, a amizade entre a América e Israel se reforça década após década e irá suportar o desacordo do momento para se fortalecer ainda mais no futuro", prometeu o primeiro-ministro, ovacionado pela plateia.
Ele não entrou em detalhes sobre a disputa sobre o programa nuclear do Irã, guardando sua munição para o Congresso na terça-feira.
Estados Unidos e Israel em desacordo
Netanyahu exortou mais uma vez o mundo a impedir a República islâmica iraniana - inimiga de Israel - a possuir um dia a bomba atômica.
"Israel e os Estados Unidos estão de acordo que o Irã não deve possuir armas nucleares. Mas estamos em desacordo sobre a melhor maneira de impedir o desenvolvimento dessas armas", explicou o líder israelense.
Israel acredita que um acordo em preparação entre as grandes potências do grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) e o Irã não o impediria de se dotar de uma bomba.
Uma arma nuclear nas mãos do poder xiita é um alerta para Israel, mas também para Washington, que, apesar de investir na via diplomática, não descarta a opção militar contra Teerã.
Depois de um ano e meio de negociações internacionais e um texto provisório em novembro de 2013, o Irão e o 5+1, especialmente os Estados Unidos e Teerã, esperam alcançar até 31 de março um acordo político completo e definitivo. As partes têm até 30 de junho/1º de julho para concluir os detalhes técnicos do acordo.
Em troca de garantias sobre a natureza cível e pacífica do seu programa nuclear, o Irã obteria um levantamento gradual das sanções dos Estados Unidos, da União Europeia e da ONU.
A comunidade internacional poderia, então, esperam acabar com mais de uma década de tensão e crise no Oriente Médio.
Poucos dias antes da visita de Benjamin Netanyahu a Washington, a tensão cresceu entre os dois aliados, com a Casa Branca lamentando uma viagem "destrutiva para os fundamentos das relações americano-israelenses", em crise há meses.
Netanyahu respeita Obama
A relação pessoal entre Obama e Netanyahu também tem sido, notoriamente, muito ruim nos últimos anos e nenhuma reunião está prevista entre os dois líderes.
Mas o primeiro-ministro de Israel, prometeu que seu discurso ao Congresso não será "desrespeitoso" para o presidente da primeira potência mundial e aliado militar de Israel.
A embaixadora americana na ONU, Samantha Power, também reafirmou para a AIPAC a solidez dos laços entre os dos países, ao mesmo tempo que a oposição de Washington a um Irã com poder militar atômico.
"Os Estados Unidos tomarão as medidas necessárias para proteger a sua segurança nacional e a de seus aliados mais próximos. A diplomacia é o caminho que preferimos para alcançar o nosso objetivo comum", disse Power.
"Mas se a diplomacia falhar, não permitiremos jamais, como todos aqui, ao Irã adquirir armas nucleares", assegurou.
Por sua vez, o secretário de Estado americano, John Kerry, encontra-se na Suíça para uma reunião com o chanceler iraniano Mohammad Javad Zarif, com quem negocia há meses a questão nuclear.
Trinta e cinco anos após a ruptura das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Irã, consecutivo à Revolução Islâmica, o presidente Obama fez da aproximação com Teerã uma prioridade da sua política externa.