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Negociações correm para conter aquecimento global

Negociações da conferência da ONU sobre o clima entraram em etapa decisiva para alcançar um consenso e limitar o aquecimento global

Aquecimento global: "temos que agir agora", disse o secretágio-geral da ONU (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2014 às 21h14.

Lima - As negociações da conferência das Nações Unidas sobre o clima entraram em uma etapa decisiva nesta terça-feira para alcançar um consenso sobre medidas para limitar a dois graus Celsius o aquecimento global até 2100, com um pedido de urgência do secretário-geral, Ban Ki-moon.

"Ainda há uma chance de manter em menos de 2ºC o aumento da temperatura, mas a janela de oportunidades pode se fechar em breve", disse Ban, que impulsiona as negociações da conferência COP20, que terminará na próxima sexta-feira, em Lima.

"Trago uma mensagem de esperança, mas também de urgência. Temos que agir agora", insistiu Ban perante a sessão plenária.

A COP20 deve costurar as ações que serão apresentadas dentro de um ano na conferência de Paris, para ali alcançar um acordo multilateral que enfrente as mudanças climáticas.

Se não forem tomadas medidas, o nível atual de emissões de gases levará a um aumento das temperaturas em entre 4° C e 5° C até 2100, uma perspectiva de ameaça a segurança alimentar e o acesso à água potável, provocando eventos climáticos extremos.

"O planeta tem febre"

A temperatura média do planeta já subiu 0,8º C com relação a era pré-industrial.

Christiana Figueres, secretária executiva da convenção das mudanças climáticas da ONU, também instou aos ministros que acelerem os acordos, enquanto pediu para preservar a equidade.

"A história nos julgará não só pela quantidade de toneladas de gases de efeito estufa, cujas emissões poderemos reduzir, mas também por nossa capacidade de proteger os mais vulneráveis, para aliviar a pobreza e para criar um futuro de prosperidade para todos", disse em sua intervenção.

Enquanto isso, o presidente da Bolívia, Evo Morales, instou "celebrar um acordo de mudanças climáticas baseado na proteção da vida e da Mãe Terra e não no mercado, no lucro e no capitalismo".

Além disso, lamentou que durante o encontro, "os países em vias de desenvolvimento tenham servido de fonte de legitimação de um diálogo unilateral e estéril".

Apesar de que até agora não houve um bloqueio no debate, que começou em 1º de dezembro passado, os países se mostram divididos sobre alguns temas fundamentais, entre eles os recursos para a adaptação e a mitigação que devem oferecer antes de junho próximo.

"Este é o momento de cumprir com o que se prometeu", disse Ban, ao enfatizar que este é o "nosso único mundo, com o qual temos uma responsabilidade moral e política".

"O planeta tem febre e a cada dia sua temperatura aumenta, insistiu.

Divisão de culpas

O ponto difícil da discussão é a forma como se medirá o cumprimento de cada país quanto à redução de emissões dos gases de efeito estufa.

Além disso, o tema da diferenciação das responsabilidades no aquecimento global divide os países.

Embora os países industrializados reconheçam sua responsabilidade na elevação das temperaturas da Terra, atualmente alguns países emergentes estão entre os principais emissores de gases de efeito estufa, como a China, em primeiro lugar, e a Índia, em quarto.

"Neste assunto, o mundo de 2015 ou de 2020 não é o de 1992", destacou na segunda-feira Miguel Arias Cañete, em alusão à convenção da ONU sobre o clima, que diferenciou responsabilidades em duas categorias de países: desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.

Nesta terça-feira, os ministros deverão abordar também o tema do financiamento para a adaptação, estabelecido em 100 bilhões de dólares ao ano a partir de 2020.

Povos indígenas

Paralelamente à conferência, celebra-se em Lima esta semana a "Cúpula dos Povos", que reúne comunidades indígenas e organizações sociais de defesa do meio ambiente.

Nesta terça, representantes dos povos indígenas apresentaram suas demandas a ministros e funcionários da ONU, em particular sobre direitos e preservação do território.

Os indígenas peruanos exigem na COP20 a titulação das terras onde vivem, muitas situadas na selva amazônica e em regiões andinas.

"Exigimos não um ou dois milhões de hectares, mas 240 milhões, para o resfriamento do planeta", enfatizou o líder indígena Edwin Vázquez.

Segundo um recente informe do instituto World Resources, as comunidades indígenas estão assentadas em 500 milhões de hectares de florestas no mundo. Mas com frequência carecem de titulação sobre estas terras.

Nesta quarta-feira, as organizações indígenas farão uma marcha em Lima, que esperam que seja multitudinária, liderada pelo presidente boliviano, Evo Morales.

Um novo estudo, publicado na revista científica Oikos, mostra que dois fatores principais são importantes para a sobrevivência das cabras: as horas de claridade do dia e a temperatura. Para os caprinos da Escócia, que sofrem com o frio das áreas mais elevadas do norte do país, o aquecimento global pode ser uma dádiva. A elevação das temperaturas parece estar tornando a vida um pouco mais fácil para os animais da região, que já começam a marcar território. O aumento da população de cabra selvagem e a mudança de seu habitat foi documentada pelo pesquisador britânico Robin Dunbar, da Universidade de Oxford e seu colega Jianbin Shi.
  • 2. Adeus ao cafezinho

    2 /8(Alex Silva)

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    O nosso querido cafezinho também corre riscos. Segundo uma nova pesquisa, publicada na revista científica Plos One, essa bebida tradicional pode sumir do cardápio dentro de 70 anos devido ao aquecimento global e às mudanças climáticas. O estudo realizado por pesquisadores do Royal Botanic Gardens da Grã-Bretanha, em colaboração com cientistas na Etiópia, constatou que entre 38 e 99,7% das áreas adequadas para o cultivo da espécie arábica desaparecerá até 2080 se as previsões do aumento das temperaturas se concretizarem.
  • 3. Aumento de problemas cardíacos

    3 /8(David Silverman/Getty Images)

  • É bom preparar o coração para as mudanças. Eventos climáticos extremos de calor e frio se tornarão mais comuns e isso vai colocar pressão sobre o coração das pessoas, dizem os cientistas. Um estudo publicado no British Medical Journal concluiu que a queda de temperatura de 1ºC em um único dia no Reino Unido está ligado ao aumento de 200 ataques cardíacos. Ondas de calor também geram efeito semelhante. Mais de 11 mil pessoas morreram por complicações cardíacas durante a onda de calor que atingiu a França na primeira metade de agosto de 2003, quando as temperaturas subiram para mais de 40ºC.
  • 4. Queda na capacidade trabalho

    4 /8(Getty Images)

    Um estudo publicado na revista científica “Nature Climate Change” sugere que o aumento da temperatura global nos últimos 60 anos reduziu a capacidade de trabalho em 10%. Pior, a previsão é de que “estresse térmico” poderá prejudicar ainda mais a aptidão do trabalhador para desempenhar suas funções nas próximas décadas. De acordo com a pesquisa, a capacidade de trabalho em 2050 será reduzida a 80% do que hoje.
  • 5. Maratonas mais lentas

    5 /8(Einar Hansen/ StockXchng)

    Embora o tempo dos vencedores de maratonas tenha melhorando gradativamente ao longo do século passado, essa tendência corre risco de diminuir diante do aumento das temperaturas. Um estudo da Universidade de Boston indica que o aquecimento global poderá tornar as maratonas mais lentas, afetando o tempo das vitórias. Mantida a tendência de aquecimento atual, de 0.058°C por ano, até 2100, a chance de detectar uma "desaceleração consistente no tempo de vitória da maratona" é de 95%, diz o estudo.
  • 6. Uvas não curtem calor, logo...

    6 /8(Getty Images)

    As uvas vinícolas são uma das culturas mais sensíveis ao calor, chuvas, incidências de sol e mudanças bruscas no clima. Não à toa, elas estão na mira do aquecimento global. Segundo estudos mais recentes, a produção de vinhos em regiões consagradas, como Bordeaux, na França, pode cair cerca de 60% até 2050. Em contrapartida, a mudança climática poderia também abrir outras partes do mundo para a produção de uvas, uma vez que os produtores teriam que procurar lugares mais altos e mais frios.
  • 7. Mais metano, mais aquecimento

    7 /8(Ian Joughin, University of Washington)

    Os efeitos do aquecimento global, acredite, também podem gerar mais aquecimento global. Estudo recente, publicado na revista Nature por uma equipe internacional de cientistas, mostrou que o degelo no continente antártico pode ser uma fonte importante, embora esquecida, de metano, um gás efeito estufa com potencial de aquecimento global 21 vezes maior do que o do CO2. Ou seja, o derretimento do gelo pode liberar milhões de toneladas desse gás na atmosfera e agravar o aquecimento global.
  • 8. Guarda-chuva para os Pólos?

    8 /8(Divulgação)

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