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Navalni, o opositor anticorrupção decidido a desafiar Putin

Navalni, que teve rejeitada sua candidatura às presidenciais, convoca seus simpatizantes à "greve" nas eleições de 18 de março

Opositor russo Alexei Nalvani: desde 2007, o advogado vem combatendo o governo (Sergei Karpukhin/Reuters)
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AFP

Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 17h13.

O advogado Alexei Navalni, um aguerrido militante contra a corrupção das elites na Rússia e carismático orador com ideias nacionalistas, continua decidido a desafiar Vladimir Putin, de quem se tornou o principal opositor, apesar de não poder participar das eleições presidenciais em março.

Ignorado pela mídia russa, sem representação no Parlamento e regularmente condenado na Justiça, este advogado de 41 anos conseguiu reunir no último ano dezenas de milhares de jovens de toda a Rússia, um país que parecia ter se tornado sem opositores após 18 anos de Putin no poder.

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Navalni, que teve rejeitada sua candidatura às presidenciais, convoca seus simpatizantes à "greve" nas eleições de 18 de março, embora também anuncie o envio de observadores para vigiar possíveis fraudes nos centros de votação.

Com seu Fundo de Luta contra a Corrupção, criado em 2012, ele explora este ponto fraco da Rússia de Putin e do partido no poder, o Rússia Unida, segundo ele, o "partido dos ladrões e dos fraudadores".

O incansável Navalni multiplica os golpes contra os intocáveis. Assim, processou o procurador-geral Yuri Chaika, Vladimir Putin, e publica em seu blog revelações sobre o patrimônio oculto das pessoas próximas do poder, às quais acusa de corrupção.

Desde 2007, o advogado vem combatendo o governo, comprando ações em empresas público-privadas, como a petroleira Rosneft e a gigante do gás Gazprom. Amparando-se em seu estatuto de acionista minoritário, exige transparência nas contas.

Discurso nacionalista

Formado no começo dos anos 1990 na universidade da Amizade dos Povos, em Moscou, Navalni passou pelo partido de oposição liberal Yabloko, do qual foi expulso em 2007 por suas posições nacionalistas, mas não deixou de contestar a legitimidade de Putin.

Navalni ganhou notoriedade nas eleições legislativas de dezembro de 2011, que geraram uma onda de protestos e nas quais o advogado se destacou por seu carisma e pela virulência de seus ataques contra o Kremlin.

Em setembro de 2013, teve seu primeiro êxito eleitoral na eleição municipal de Moscou. Surpreendeu ao ficar em segundo lugar, com 27,2% dos votos, logo atrás do prefeito em fim de mandato, o ex-chefe de gabinete de Vladimir Putin, Serguei Sobianin, um resultado que o confirmou como um personagem essencial da oposição.

Navalni também participou de manifestações com tintas racistas, como as da Marcha Russa. No entanto, nos últimos anos, distanciou-se destes movimentos e foi apagando gradativamente o tom nacionalista de seus discursos.

Em entrevista à AFP, disse estar "orgulhoso" de seu trabalho para conectar "os ramos tradicionais da oposição na Rússia, a liberal e a supostamente nacionalista".

Disse que mantém "posturas conservadoras" no plano migratório e que deseja a introdução de vistos para as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, de onde procede grande parte da imigração econômica na Rússia.

Julgamento e campanha

Desde 2013, este pai de família foi condenado a penas de prisão com direito a sursis por dois casos de desvios de recursos que ele tacha de políticos e que motivaram o repúdio de sua candidatura até 2028.

Em 2017, passou três vezes pela prisão, mas também recorreu à Rússia, reunindo milhares de partidários em cidades pouco acostumadas às manifestações e abrindo escritórios de campanha.

Em resposta a seus apelos, milhares de jovens, com frequência menores, foram às ruas, o que terminou com milhares de detidos.

Navalni é frequentemente tema de reportagens críticas divulgadas em horários de grande audiência nas emissoras de televisão públicas.

Sempre rejeitou suas condenações e assegura que nada pode abalar sua motivação, nem sequer as ameaças contra sua segurança e a de sua família.

"Eu me dedico à política há muito tempo, frequentemente sou preso [...], é parte da vida", relativiza. "Faço o trabalho de que gosto, as pessoas me apoiam, tenho muitos simpatizantes. O que pode fazer um homem mais feliz?", questiona.

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