Mundo

Na reta final do mandato, Trump perde apoio e se volta contra aliados

Trump considera que seus aliados não o apoiaram o suficiente em suas falsas alegações de fraude eleitoral e também reclama que ninguém o defendeu das críticas após a invasão do Capitólio

Trump se voltou primeiro contra seu vice, Mike Pence, que certificou a vitória de Biden (Carlos Barria/Reuters)

Trump se voltou primeiro contra seu vice, Mike Pence, que certificou a vitória de Biden (Carlos Barria/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de janeiro de 2021 às 07h17.

O presidente Donald Trump está a cada dia mais isolado na reta final do mandato e a lista de aliados com quem está descontente não para de crescer. Ela inclui os deputados do Partido Republicano que votaram contra ele no processo de impeachment e até assessores muito próximos que o aconselharam durante os últimos anos na Casa Branca.

Trump mostra ressentimento principalmente com membros do seu staff. Ele considera que seus aliados não o apoiaram o suficiente em suas falsas alegações de fraude eleitoral. Também reclama que ninguém o defendeu das críticas após a invasão do Capitólio, por extremistas que ele incitou, ato que motivou a aprovação na Câmara de uma inédita segunda condenação em um processo de impeachment de um presidente americano.

Trump se voltou primeiro contra seu vice, Mike Pence, que certificou a vitória de Joe Biden na eleição presidencial no Congresso, não cedendo à pressão do republicano.

A partir daí, a ira presidencial foi se estendendo e hoje está direcionada ao seu advogado, Rudolph Giuliani, um de seus mais firmes defensores, à secretária de imprensa Kayleigh McEnany, ao conselheiro sênior Jared Kushner, que também é seu genro, ao conselheiro econômico, Larry Kudlow, ao conselheiro de Segurança Nacional, Robert O'Brien, e ao chefe de gabinete, Mark Meadows.

Giuliani é o que mais tem sofrido represálias. Trump instruiu assessores a não pagarem os honorários advocatícios do aliado. Ele também exigiu aprovar pessoalmente qualquer reembolso das despesas de viagem que seu defensor fez, a pedido do presidente, para contestar os resultados eleitorais em Estados-chave. Assessores do presidente disseram que Trump expressou preocupação específica com uma cobrança de US$ 20 mil diários por seu trabalho na tentativa de anular a eleição presidencial.

Um dos poucos confidentes de Trump nos dias de hoje é o senador Lindsey Graham. Ele rompeu com o presidente na semana passada por causa da insistência de Trump em anular a vitória de Biden, mas acabou fazendo as pazes. Graham foi para o Texas na terça-feira, na última viagem presidencial programada de Trump, passando horas com ele a bordo do Air Force One.

"O presidente resolveu que tudo acabou", disse Graham, referindo-se à eleição. "Isso é difícil. Ele acha que foi enganado, mas nada vai mudar isso."

Ao mesmo tempo, Graham tranquilizou Trump sobre a possibilidade de ele perder seu mandato a poucos dias de deixar a Casa Branca. Para que isso ocorra, o Senado precisaria convocar uma sessão extraordinária antes do dia 20, o que já foi descartado pelo líder da maioria na Casa, o senador Mitch McConnell, que também se tornou um ex-aliado, apesar de ter sido o responsável direto pela rejeição do impeachment de 2019.

Uma das únicas defesas de Trump na Casa Branca veio de Jason Miller, um conselheiro político experiente. Ele não defendeu a conduta do presidente, mas argumentou que aqueles que votaram por seu impeachment pagariam um preço político. Ele enviou à imprensa uma pesquisa feita pela campanha de Trump que mostrava oposição dos eleitores do republicano ao impeachment, ao qual chamou de "censura Big Tech", uma referência ao Twitter e outras empresas de mídia social que suspenderam as contas do presidente.

Câmara

A raiva de Trump se estende aos deputados dissidentes de seu partido. Dez votaram a favor de sua condenação no processo de impeachment. O grupo representa uma pequena fração da legenda, mas ao apoiar a investida dos democratas incentivaram colegas do partido a fazer o mesmo em uma votação no Senado.

O voto mais simbólico contra Trump veio da deputada Liz Cheney, a terceira na liderança do partido na Câmara, que justificou sua posição em um duro comunicado. "O presidente dos Estados Unidos convocou essa turba, a reuniu e acendeu a chama desse ataque", disse Cheney na terça-feira ao se referir à invasão do Capitólio. "Tudo o que se seguiu foi obra dele. Nada disso teria acontecido sem o presidente", escreveu Liz, que é filha de Dick Cheney, ex-vice-presidente dos EUA, na gestão com George W. Bush outro figurão da legenda que atacou Trump após o cerco ao Congresso dos EUA.

Alguns dos deputados republicanos que votaram a favor do impeachment de Trump disseram que o fizeram de acordo com sua consciência. Eles quiseram manifestar sua raiva pelos eventos da semana passada e a culpabilidade de Trump por incitar a invasão ao Congresso, apesar de temerem uma nova escalada de violência e as ameaças aos legisladores. "Não há uma desculpa para as ações do presidente Trump", disse o deputado republicano David G. Valadao, descendente de portugueses, da Califórnia.

 

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)Impeachment

Mais de Mundo

Donald Trump anuncia Elon Musk para departamento de eficiência

Trump nomeia apresentador da Fox News como secretário de defesa

Milei conversa com Trump pela 1ª vez após eleição nos EUA

Juiz de Nova York adia em 1 semana decisão sobre anulação da condenação de Trump