Montanha de lixo na Índia quase ultrapassa altura do Taj Mahal
A montanha de lixo em Nova Délhi, que cresce 10 metros a cada ano, já mede mais de 65 metros
AFP
Publicado em 4 de junho de 2019 às 17h01.
Em um subúrbio de Nova Délhi , a montanha de lixo mais alta da Índia (ao menos 60 metros) pode ultrapassar em altura o Taj Mahal, no ano que vem, tornando-se um símbolo fétido do que a ONU considera a capital mais poluída do mundo.
As aves de rapina sobrevoam o lixão de Ghazipur, cuja silhueta se distingue a vários quilômetros de distância. As vacas e cachorros errantes e os ratos pululam neste lugar que acumula parte dos resíduos desta cidade de 20 milhões de habitantes.
Com frequência o gás metano que é liberado dos resíduos provoca incêndios e leva-se dias para apagá-los. Pela colina corre o chorume, um líquido tóxico negro, que desemboca em um canal.
"Este odor fétido transformou nossas vidas em um inferno. As pessoas ficam doentes o tempo todo", conta Puneet Sharma, um morador de 45 anos.
Outro residente, Pradeep Kumar, tomou uma decisão: "Vou embora deste bairro pelos meus filhos. Tenho dois, um de oito anos e outro de quatro. E eles ficam doentes com frequência por causa da poluição".
Segundo o engenheiro-chefe para East Delhi, Arun Kumar, a montanha já mede mais de 65 metros e a cada ano cresce cerca de 10. As autoridades preveem que ultrapassará a altura do Taj Mahal (73 metros) em 2020.
No ano passado, ante a incapacidade das autoridades para resolver o problema do tratamento dos resíduos, o Tribunal Supremo da Índia comentou que em breve será necessário colocar sinais vermelhos no lixão para alertar os aviões.
O lixão abriu em 1984 e foi fechado em 2002 por saturação. Mas a cada dia centenas de caminhões continuam transportando resíduos, e agora os resíduos ocupam uma superfície equivalente a mais de 40 campos de futebol.
"Diariamente são descarregadas cerca de 2.000 toneladas de lixo em Ghazipur", afirmou um responsável do município de Nova Délhi que pediu anonimato.
Desmoronamento
Em 2018, as chuvas intensas causaram el desmoronamento de parte da montanha. Duas pessoas morreram e como consequência disso foram proibidas as descargas de lixo no local. A aplicação da medida durou apenas alguns dias, porque as autoridades não encontraram outro lugar para os resíduos.
O crescimento do lixão de Ghazipur está vinculado ao desenvolvimento da Índia e de sua sociedade de consumo, explica Chitra Mukherjee, diretora da ONG Chintan.
"Quando você ganha mais, quando sua economia cresce, você compra mais coisas. Não é necessário ser físico nuclear para perceber que quanto mais você compra, mais joga fora", acrescenta.
Segundo Shambhavi Shukla, pesquisadora do Centro para a Ciência e o Meio Ambiente de Nova Délhi, o metano que emana do lixo é ainda mais nocivo quando se mistura na atmosfera. Uma fábrica de incineração de resíduos adjacente emite também uma fumaça que deteriora ainda mais o ar que os moradores respiram.
Em seu consultório, a médica Kumud Gupta atende cerca de 70 pessoas por dia, incluindo bebês, com problemas respiratórios e gástricos devido à poluição do ar.
"O fato de respirar gases tóxicos pode causar doenças mortais, a longo prazo podem sofrer de câncer", afirma.
Segundo um estudo recente, o lixão de Ghazipur representa um risco de saúde para as pessoas que residem em um raio de até cinco quilômetros de distância.
A Índia gera por ano 62 milhões de toneladas de lixo e, segundo dados do governo, antes de 2030 esta cifra poderia chegar a 165 milhões de toneladas por ano.