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Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2013 às 17h25.
Cairo - O presidente deposto egípcio Mohamed Mursi reivindicou nesta segunda-feira sua legitimidade, na abertura de seu julgamento por suposta incitação ao assassinato de manifestantes, que foi adiado até 8 de janeiro.
Em sua primeira aparição pública desde que foi deposto e detido pelo exército, o primeiro presidente egípcio eleito democraticamente afirmou que continuava sendo "o presidente da República", acrescentando que era preciso julgar os líderes do golpe militar que o derrubou no dia 3 de julho.
Em tom de desafio, Mursi chegou vestido de terno, ao invés da roupa branca utilizada pelos detidos.
"Sou o doutor Mohamed Mursi, o presidente da República". "Este tribunal é ilegal", declarou.
"Isto foi um golpe militar. É preciso julgar seus líderes", ressaltou, acrescentando: "O golpe é uma traição e um crime".
No início da audiência, outros dois islamitas acusados, Essam al-Erian e Mohamed al-Beltagui, ambos líderes importantes da Irmandade Muçulmana, gritaram "Abaixo à lei militar!" e aplaudiram Mursi quando ele entrou na sala.
Do lado de fora do tribunal, manifestantes denunciavam um processo que consideram manipulado, ante uma forte vigilância policial e militar.
Partidários do presidente islamita deposto, na prisão ou dizimados pela implacável repressão das autoridades instaladas no dia 3 de julho pelo Exército egípcio, convocaram uma mobilização para esta segunda-feira. Milhares de partidários de Mursi se reuniram em frente ao Tribunal Constitucional, no sul do Cairo, enquanto outras dezenas seguravam cartazes com fotos de Mursi e críticas aos militares.
"O julgamento de Mursi é um julgamento de fachada. Os criminosos estão julgando o presidente legítimo", afirmou um simpatizante de Mursi, Ibrahim Abdel Samd.
As autoridades mobilizaram 20.000 homens no Cairo, cidade de 20 milhões de habitantes, e afirmam que estão prontas para responder a qualquer ato de violência.
Uma imagem extraída de um vídeo da TV estatal mostra o presidente deposto do Egito, Mohamed Mursi, em um tribunal do Cairo, em 4 de novembro de 2013.
Mursi responde por "incitação ao assassinato" de sete manifestantes ante o palácio presidencial, em dezembro passado.
Mursi, que esteve apenas um ano no poder, estava detido pelas mãos do exército em um local secreto desde sua deposição. Nos dias anteriores a sua queda, milhares de egípcios saíram às ruas pedindo sua partida, acusando-o de acumular o poder em benefício de seu movimento, a Irmandade Muçulmana.
Posteriormente, o novo poder reprimiu de forma sangrenta os manifestantes pró-Mursi, em particular desde 14 de agosto, quando policiais e soldados mataram centenas de seus partidários ao dispersar um protesto no Cairo. Desde então, mais de mil manifestantes morreram e mais de 2.000 membros da Irmandade Muçulmana foram detidos, incluindo seus principais líderes.
Mursi, que pode ser condenado à pena de morte ou à prisão perpétua, chegou nesta segunda-feira de helicóptero ao tribunal, situado na academia de polícia, adjacente à prisão de Tora, na qual estão detidos os principais líderes da Irmandade Muçulmana.
Com ele havia 14 co-acusados, ex-líderes do grupo e membros de sua guarda pessoal, também acusados de incitação ao assassinato no dia 5 de dezembro de 2012. Naquele dia, após seis meses no poder, Mursi estabeleceu por decreto que se situaria acima de qualquer controle judicial, o que motivou as manifestações ante seu palácio.
Estimando que a polícia não havia conseguido proteger o presidente, a Irmandade Muçulmana pediu que seus partidários desalojassem os manifestantes. Este recurso à violência reforçou a oposição que, seis meses mais tarde, saiu às ruas para exigir a queda de Mursi, o que ocorreu quando ele foi deposto pelos militares.
Para a Anistia Internacional, este processo é um teste para as autoridades interinas. Para a ONG, se o julgamento não for justo, é concebível que possa ter motivações ocultas.
Para Shadi Hamid, do Brookings Doha Center, é impossível que este julgamento, "sobretudo político", seja livre e justo.
Já as autoridades egípcias interinas negaram qualquer intenção política.