Militares começam a deixar praça após tentativa de golpe de Estado na Bolívia
Presidente Luis Arce trocou comando do Exército e novo líder determinou retirada de tropas
Repórter de macroeconomia
Publicado em 26 de junho de 2024 às 19h09.
Última atualização em 26 de junho de 2024 às 19h37.
Os militares que foram à sede do governo da Bolívia e que entraram à força no palácio presidencial deixaram a área no fim da tarde desta quarta, 26, segundo a imprensa boliviana. O caso foi denunciado como tentativa de golpe de Estado pelo presidente do país.
Os sites Erbol e La Razón mostraram imagens da partida das tropas, depois que o presidente Luis Arce nomeou um novo comandante do Exército, que ordenou a desmobilização.
A movimentação dos militares foi denunciada como tentativa de golpe de Estado pelo presidente Arce e outros membros de seu governo. Em seguida, vários líderes políticos do país, inclusive da oposição, condenaram a tentativa de golpe, o que ajudou a enfraquecer o movimento.
Os militares envolvidos na ação eram comandados pelo general Juan José Zuñiga, demitido do comando do Exército na terça, após fazer críticas ao ex-presidente Evo Morales.
"O povo não tem futuro. Estamos aqui para zelar pelo futuro de nossas crianças. Algumas elites se apossaram do poder do Estado. O pedido das unidades militares é se liberem rapidamente a todos os presos politicos, de Carlos Camacho, Jeanine Añez, generais, tenentes e capitães", disse Zuñiga à imprensa boliviana.
Ele se referia à acusados que foram condenados na Justiça por um golpe contra o então presidente Evo Morales, em 2019.
As tropas forçaram a entrada no palácio. Em seguida, o presidente e o general tiveram uma discussão dentro da sede do governo, cercados por militares. Arce pediu ao general que se retirasse. Zuñiga se recusou inicialmente, mas depois deixou o local.
Em seguida, Arce, nomeou um novo comando do Exército José Wilson Sánchez. "Peço, ordeno que todo o pessoal que se encontra mobilizado deve voltar às suas unidades", disse Sánchez, em discurso ao lado do presidente Arce. Após o discurso, as tropas começaram a se desmobilizar, segundo a imprensa boliviana.
Cenas de mobilização militar na Bolívia
Quem é Luís Arce?
Luís Arce, de 60 anos, é o presidente da Bolívia desde janeiro de 2020. Antes de comandar o país, ele atuou como ministro da Economia do país, em 2009, por nomeação do então presidente Evo Morales.
O político é considerado o pai do chamado "milagre econômico" boliviano, baseado em um modelo de desenvolvimento social comunitário produtivo.
Durante a sua gestão no ministério, Arce supervisionou a nacionalização de empresas de hidrocarbonetos, telecomunicações e mineração na Bolívia. Ele também exerceu protagonismo em um momento de rápida expansão da economia boliviana, com o PIB aumentando em 344% e a pobreza extrema reduzida de 38% para 15%.
Na época, o país passava por um processo de nacionalização dos hidrocarbonetos, que coincidiu com um boom sem precedentes dos preços do petróleo.
Em janeiro de 2020, Arce foi eleito candidato à presidência da Bolívia para as eleições nacionais de outubro de 2020 pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS-IPSP), junto com o ex-chanceler David Choquehuanca como candidato à vice-presidência. Arce foi eleito presidente com 55,1% dos votos.
Rivalidade com Evo Morales
A disputa interna entre apoiadores de Evo Morales e de Luis Arce começou quando Evo voltou à Bolívia em 2020, após passar um ano exilado na Argentina por causa do golpe de Estado que levou à derrubada de seu governo, em 2019. O ex-presidente começou a criticar algumas decisões de Arce e seu apoiadores.
Morales foi presidente da Bolívia por quase 14 anos, entre 2006 e 2019. Ele renunciou em novembro daquele ano, depois de acusações de fraude nas eleições que lhe dariam o quarto mandato consecutivo. Ele perdeu o apoio das Forças Armadas do país e viu protestos tomarem conta das ruas da Bolívia, e deixou o país após pressão pública dos militares.