Miguel Díaz-Canel é possível sucessor dos irmãos Castro em Cuba
A partir de 2018 o sucessor dos Castro deverá assegurar a continuidade do único regime comunista do Ocidente
AFP
Publicado em 5 de dezembro de 2016 às 12h45.
Última atualização em 19 de abril de 2018 às 12h00.
Pela primeira vez em meio século, uma pessoa que não combateu na Revolução e que não tem o sobrenome Castro pode assumir o comando de Cuba .
E todas as atenções agora estão voltadas para Miguel Díaz-Canel , atual vice-presidente de 56 anos.
Fidel Castro morreu e o mandato de seu irmão Raúl, de 85 anos, termina em 15 meses.
A partir de 2018 o sucessor dos Castro deverá assegurar a continuidade do único regime comunista do Ocidente que começou após a vitória da revolução em 1959, a apenas 150 km dos Estados Unidos.
Com o relógio em contagem regressiva, a possibilidade de uma mudança de geração recai em Díaz-Canel, um engenheiro eletrônico que veste jeans ou terno, não uniforme militar, e que se declarou favorável a uma maior abertura de internet na ilha.
"Atualmente, com o desenvolvimento das redes sociais (...) e da internet, proibir algo é quase uma quimera impossível, não tem sentido", disse em um discurso.
Alto e grisalho, tem fama de ser um homem simples. E muitos em Cuba o comparam com o ator Richard Gere. No entanto, sorri pouco e não se destaca por seu carisma ou oratória.
"O companheiro Díaz-Canel não é um novato nem um improviso", declarou Raúl quando o designou em 2013 para o segundo posto político em importância de Cuba.
Fidelidade
Durante décadas, muitos se perguntaram se a revolução poderia sobreviver sem seu líder máximo, que faleceu no dia 25 de novembro aos 90 anos e se retirou do poder em 2006 por motivo de doença.
No sábado, Raúl Castro prometeu fidelidade ao legado de seu irmão: "Diante dos restos de Fidel (...), juramos defender a pátria e o socialismo".
Assim como muitos cubanos, Tomasa Savatel tem uma fé quase cega nas decisões de Raúl. "E depois dele há outros", afirmou esta técnica de sistemas de 61 anos.
Nascido em 1960, Díaz-Canel é o rosto mais destacado desta geração que não pertence à revolução. "Segundo a lógica institucional, ele está na linha sucessória", afirmou Arturo López-Levy, da Universidade do Texas.
Mas também foi bastante simbólico o protagonismo do chanceler Bruno Rodríguez Parrilla, de 58 anos, durante o funeral de Castro.
Ele foi o único funcionário visto na foto da família, além de militares e de Díaz-Canel, na partida da caravana com os restos de Fidel de Havana a Santiago.
Também formam parte da nova geração Marino Murillo, de 55 anos, considerado o mentor das reformas econômicas recentes, e o único filho homem de Raúl Castro, Alejandro Castro Espín, coronel do Ministério do Interior.
Sob pressão
Restam ainda alguns da velha guarda, como José Ramón Machado Ventura, de 86 anos e segundo secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC), e Ramiro Valdés, de 84 anos, um dos barbudos que participou no dia 26 de julho de 1953 do histórico assalto ao Quartel Moncada.
Alguns dos homens de Fidel, como o vice-presidente Carlos Lage e o chanceler Felipe Pérez Roque, que pareciam as figuras de mudança em Cuba, saíram do radar, acusados de ter ficado tentados com o poder.
Mas Díaz-Canel seguiu uma carreira diferente.
Professor universitário em Villa Clara, líder da União de Jovens comunistas nesta província, desde 2003 é membro do seleto Burô político do partido e representou Cuba em várias viagens ao exterior.
E ficará sob os olhares de Raúl Castro, que não planeja se aposentar completamente, já que provavelmente permanecerá como o líder máximo do PCC.
"Díaz-Canel foi um bom soldado na sombra. De qualquer forma, tem diante de si três grandes desafios: o primeiro será lidar com os históricos; administrar uma geração que deseja mudanças; e com o Exército, mas neste ponto pode contar com o apoio de Alejandro Castro Espín", disse à AFP Christopher Sabatini, da Universidade de Columbia.
O sucessor dos Castro herdará um país com uma das taxas de envelhecimento mais altas da América Latina e onde muitos de seus jovens sonham em emigrar, com uma economia atingida pela crise na Venezuela, e Donald Trump governando os Estados Unidos.
Mas as coisas podem mudar rapidamente.
"Não vejo outro rival (que Díaz-Canel) nem outro cenário. Mas vimos no passado jovens preparados para a liderança, e que depois foram removidos do poder", disse Ted Piccone, do centro de estudos americanos Brookings Institution.