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Migrantes continuam cruzando fronteira dos EUA, apesar das novas restrições de Biden

Presidente norte-americano assinou um decreto na terça-feira para impedir a entrada de migrantes em busca de asilo que tentem cruzar fora dos postos fronteiriços oficiais

Um grupo de migrantes espera na fila da fronteira entre os EUA e o México, em Jacumba Hot Springs, Califórnia, em 5 de junho de 2024 (Paula RAMON/AFP)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 6 de junho de 2024 às 17h11.

Freddy Sánchez caminhou com a família durante horas sob um sol escaldante até entrar em território americano graças a uma brecha na fronteira no deserto da Califórnia, apenas um dia depois de o presidente americano, Joe Biden, anunciar novas restrições à migração.

“Mesmo que digam que deveriam fechar as fronteiras, nunca conseguirão fechá-las porque, queiram ou não, é uma fonte de trabalho para muitas pessoas”, disse Sánchez, um dos muitos que chegaram na quarta-feira, 5, em busca de asilo na pequena comunidade de Jacumba Hot Springs, na fronteira entre os Estados Unidos e o México.

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O homem de 37 anos, que viajou durante semanas por terra saindo de seu país natal, a Guatemala, ouviu falar das mudanças na fronteira na terça-feira, um dia antes de cruzar para os Estados Unidos.

"Pensei nisso e desanimei. Mas disse, 'Não, em nome de Deus vamos chegar lá'. E aqui estamos, mais dentro do que fora", comemorou.

Alex Román, um colombiano de 31 anos que percorreu o mesmo caminho doloroso e desértico que Sánchez e sua família, também ouviu falar do decreto quando estava do lado mexicano. "Bom, tínhamos que seguir em frente. Porque todo o dinheiro que é investido para vir para essa terra... Como voltar sem tentar?", disse.

Aos pés do muro, cerca de 80 migrantes de Índia, China, Honduras, Nicarágua, Turquia, República Dominicana e Jordânia aguardavam uma oportunidade para defender seus casos.

"Nada mudou"

Biden assinou um decreto na terça-feira para impedir a entrada de migrantes em busca de asilo que tentem cruzar fora dos postos fronteiriços oficiais, em uma tentativa de neutralizar as críticas à sua gestão.

O número de travessias ilegais ao longo da fronteira de 2.800 milhas atingiu novos recordes durante a administração do democrata, totalizando 10.000 em um único dia em dezembro do ano passado, algo que os republicanos atacam incansavelmente.

O número diminuiu nos últimos meses, mas a questão é amarga para Biden, que busca a reeleição, enquanto a campanha de seu rival Donald Trump, focada em uma mensagem anti-migração, ganha seguidores com a promessa de deportar milhões e reforçar a fronteira.

A medida anunciada pelo presidente democrata permitiria “suspender a entrada” de migrantes quando a média diária de apreensões ultrapassasse as 2.500 durante uma semana consecutiva.

Este número é inferior à média diária desde fevereiro de 2021, destacou na terça-feira Adam Isacson, especialista em migração do centro de estudos Escritório de Washington para a América Latina, pelo que a medida deve entrar em vigor imediatamente.

Porém, não houve mudanças na quarta-feira em Jacumba Hot Springs.

“Nada mudou”, disse um oficial da patrulha fronteiriça, sob a condição do anonimato, depois de contar as dezenas de migrantes que aguardavam para serem transferidos para os centros de processamento.

Quarta-feira foi mais um dia na fronteira: cerca de 4.000 migrantes foram detidos pelas autoridades, de acordo com dados não oficiais citados pela imprensa americana.

"Terra prometida"

Biden, que enfrentará uma revanche acirrada com Trump pela Casa Branca, tem sido fortemente criticado pela medida, uma das mais restritivas em questões de migração promovida por um democrata.

O decreto é semelhante ao que Trump emitiu em 2018, quando era presidente, e que foi bloqueado judicialmente graças a uma ação judicial da ONG União Americana pelas Liberdades Civis, que também pretende ir a tribunal contra a medida de Biden.

Uma das diferenças é que o decreto contempla exceções para casos como o de menores desacompanhados de adultos. Na quarta-feira, dois adolescentes da Jordânia atravessaram sozinhos para os Estados Unidos.

“Os pais deles ficaram no México”, disse uma voluntária que ajudou os jovens com comida e água enquanto esperavam pela patrulha de fronteira. “Eles vieram juntos, mas no último minuto, assustados com o decreto, decidiram não atravessar e mandá-los. O tio deles mora aqui”, disse a mulher, que conversou com os irmãos.

Perto dali, um grupo de migrantes da Colômbia e do Peru chegou caminhando, exausto, depois de atravessar por outra brecha no imponente muro fronteiriço, o qual as pessoas usavam para amarrar trapos e se proteger do sol quando os termômetros se aproximavam dos 40ºC.

Para os migrantes, muitos dos quais denunciam torturas, ameaças e todo o tipo de calamidades econômicas em seus países de origem, não existe nenhum decreto ou obstáculo físico que os desencoraje de tentar a sorte no Norte.

“Há pessoas aqui de muitos países (...) É uma questão global”, disse Alex Román. “Acredito que é algo que nunca vai acabar, porque para todos os Estados Unidos são o sonho americano, a nossa terra prometida”.

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