Maior colônia japonesa do mundo se une em São Paulo pela dor da tragédia
Liberdade reuniu nesta quinta-feira pessoas de diversas religiões na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa para homenagear as vítimas
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2011 às 19h28.
São Paulo - A dor pela tragédia vivida no Japão chegou também ao bairro da Liberdade, local no centro de São Paulo que abriga grande parte da maior colônia japonesa no exterior e que, nesta quinta-feira, se juntou para prestar homenagem às vítimas do terremoto e do tsunami de sexta-feira passada.
A vida cotidiana nas ruas da Liberdade, um bairro de classe média com arquitetura e decoração que remetem às de qualquer cidade japonesa, não é a mesma depois da catástrofe que deixou, pelo menos, 11,5 mil mortos ou desaparecidos, dizem os moradores.
A emigração em massa de japoneses ao Brasil começou em junho de 1908 com a chegada ao porto de Santos do navio Kasato Maru, que trouxe a bordo 781 cidadãos japoneses para trabalhar nas plantações de café.
A migração continuou com o passar das décadas e no estado de São Paulo vive, atualmente, mais de um milhão de imigrantes japoneses e descendentes que se integraram à sociedade brasileira sem perder seus costumes e constituem a maior comunidade japonesa do mundo.
As organizações de imigrantes calculam que em todo Brasil vivem mais de 1,8 milhão de japoneses e descendentes até a segunda geração.
Muitos desses descendentes nascidos no Brasil foram há anos para o país de seus pais ou avôs em busca de um futuro melhor baseado na prosperidade econômica japonesa, mas foram surpreendidos pela tragédia, o que obrigou alguns a retornarem para São Paulo.
Pelas bancas de jornais da Liberdade passam, todos os dias, milhares de japoneses, idosos em sua maioria, que querem ter desde cedo e em sua própria língua as últimas informações sobre a situação em sua pátria.
"Infelizmente não é um motivo de alegria para nós que vivemos disto, mas as vendas de jornais japoneses dispararam nos últimos dias. Também cresceu a demanda por publicações da comunidade japonesa", disse à Agência Efe o comerciante Alejandro Okada.
Na banca de Okada, os pedestres param para ler as manchetes presas nas paredes e outros, que não sabem japonês, olham com assombro as fotografias do desastre, renovadas todos os dias.
Okada detalhou que nos dias seguintes ao terremoto e ao tsunami os moradores do bairro queriam saber sobre a quantidade de vítimas e os lugares arrasados, mas agora estão mais preocupados pelo perigo de uma catástrofe nuclear na usina de Fukushima.
A Liberdade, com suas ruas repletas de letreiros comerciais em português e japonês, e iluminado com lanternas vermelhas, é um bairro alegre e cheio de visitantes em busca de gastronomia japonesa, mas desde sexta-feira passada o ambiente é menos festivo.
"As feiras na Liberdade não são as mesmas depois do terremoto e para a do próximo sábado esperamos uma grande quantidade de pessoas com doações para serem enviadas ao Japão porque sabemos que alguns produtos importados começaram a acabar", assinalou à Efe o comerciante Norio Yamusha.
O bairro, que também abriga imigrantes de outros países do Extremo Oriente, reuniu nesta quinta-feira pessoas de diversas religiões na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa para homenagear as vítimas.
O culto ecumênico realizado por um monge budista, um pastor evangélico e um padre católico, terminou com uma oferenda de flores depositada em um altar pelos quase 500 participantes da cerimônia.
O cônsul japonês em São Paulo, Kazuaki Obe, destacou a participação no ato dos cônsules de países como Espanha e Estados Unidos, e assinalou que toda a ajuda que estão recebendo para seus compatriotas será enviada ao Japão por meio da Cruz Vermelha Internacional.