Maduro, Milei, Boeing e Irã: entenda a crise diplomática entre Venezuela e Argentina
A tensão entre os dois países remonta a 2022, quando um Boeing 747 da Emtrasur, subsidiária de carga da empresa estatal venezuelana Conviasa, pousou em Córdoba, em junho de 2022
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Publicado em 14 de março de 2024 às 15h45.
Última atualização em 14 de março de 2024 às 15h57.
Um conflito que se estende há dois anos entre Argentina e Venezuela ganhou mais um capítulo na última terça-feira, 12. Caracas fechou seu espaço aéreo para voos com origem ou destino no país governado por Javier Milei. Depois que o libertário assumiu a Casa Rosada em dezembro, as relações com o governo de Nicolás Maduro pioraram, com o venezuelano chamando o novo presidente de "erro da história" em janeiro. Mas como a crise começou?
A tensão entre os dois países remonta a 2022, quando um Boeing 747 da Emtrasur, subsidiária de carga da empresa estatal venezuelana Conviasa, pousou em Córdoba, em junho de 2022. A aeronave carregava peças automotivas vindas do México, com tripulação composta por 14 venezuelanos e 5 iranianos.
"Roubo"
No entanto, o avião não seguiu viagem, pois ficou retido na Argentina a pedido dos Estados Unidos. Quem estava a bordo do avião também foi detido, mas liberado em seguida.
A Casa Branca alegava que o Boeing, antes de ser da Emtrasur, pertencia à Mahan Air, uma linha aérea iraniana sancionada pelos Estados Unidos, que vendeu a aeronave para o regime de Maduro.
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Segundo Washington, a linha faz voos de apoio às Forças Quds, o braço de elite da Guarda Revolucionária do Irã. Desde que os Estados Unidos começaram a impor sanções mais severas ao Irã em 2019, Washington tem tratado a organização como uma "organização terrorista estrangeira".
O imbróglio se estendeu até 12 de fevereiro deste ano, quando uma decisão judicial concluiu que o voo da Boeing violou uma norma de exportações dos Estados Unidos. Segundo a decisão, o Boeing deveria ser entregue para os Estados Unidos, ordem que foi cumprida pelo governo de Milei.
“Mahan Air - conhecida por transportar armas e combatentes para o Corpo de Guardas Revolucionárias Islâmicas e o Hezbollah - violou nossas restrições de exportação ao vender este avião para uma companhia aérea de carga venezuelana. Agora, ele é propriedade do governo dos Estados Unidos", disse o Secretário Assistente de Fiscalização de Exportações dos Estados Unidos, Matthew S. Axelrod, em comunicado.
"Louco", "neonazista", "burro"
Em 16 de fevereiro, Nicolás Maduro falou sobre a situação em uma transmissão de TV. "Roubaram nosso avião... Milei, o bandido, roubou o avião da Venezuela. Javier Milei, o herói da extrema direita", disse. "Ele age como louco, ou é louco, ou ambos ao mesmo tempo."
Mas foi só nesta semana que o ditador venezuelano voltou a reclamar da situação no X, antigo Twitter.
“Foi cometido um crime contra um avião da Conviasa Emtrasur que foi sequestrado, tiraram as cores da bandeira, apagaram o nome de Luisa Cáceres de Arismendi e depois o cortaram em pedaços. Esse é o ódio que têm pela Venezuela revolucionária e bolivariana… É ultrajante! É um crime contra um avião que pertencia a todo o povo venezuelano…”, escreveu.
O Irã prometeu ajudar a Venezuela a recuperar o Boeing. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Nasser Kanaani, classificou a transferência do avião para os EUA como "ilegal", argumentando que violava a Carta das Nações Unidas. "A República Islâmica do Irã anuncia seu apoio decisivo aos esforços legais e diplomáticos da Venezuela para recuperar a propriedade e o acesso aos bens e pertences do país", afirmou.
A mais recente movimentação aconteceu, então, na última terça-feira, 12, quando Maduro anunciou que o espaço aéreo venezuelano estava fechado para todos os aviões que tenham como origem ou destino a Argentina, carregando cargas ou passageiros. Também na rede social X, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, chamou o governo de Milei de “neonazista” e “submisso” aos Estados Unidos.
Com a decisão, as operações da principal companhia aérea argentina, a estatal Aerolíneas Argentinas, são duramente afetadas. Os seus aviões precisam cruzar o espaço venezuelano para cumprir boa parte de suas rotas, como para os Estados Unidos, Punta Cana e República Dominicana.
Em resposta, o governo de Milei anunciou "ações diplomáticas". "A medida tem um custo econômico muito alto para as companhias aéreas, que usam o espaço aéreo da Venezuela", afirmou Manuel Adorni, porta-voz do presidente Javier Milei. "O que mais se pode esperar de um burro além de um coice? De um governo de ditadores, a única coisa que você pode esperar são questões que nem sequer merecem resposta. Ficamos tristes pelo fato de o povo venezuelano ser governado há tanto tempo por esses idiotas."