Lula e Petro devem discutir eleições na Venezuela e guerra em Gaza em reunião na Colômbia
A reunião privada acontece na Casa de Nariño, sede da presidência colombiana, no dia 17 de abril
Agência de notícias
Publicado em 11 de abril de 2024 às 08h52.
Ospresidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, vão conversar sobre situação política na vizinha Venezuela, após as restrições eleitorais a opositores e sobre a guerra na Faixa de Gaza. Os assuntos estão na pauta da visita do brasileiro a Bogotá, na semana que vem.
Lula e Petro adotaram um tom semelhante sobre os dois assuntos nas últimas semanas, com críticas ao regime do aliado Nicolás Maduro e comparações entre o Holocausto e a ação militar de Israel contra o grupo terrorista Hamas, no território palestino.
A reunião privada acontece na Casa de Nariño, sede da presidência colombiana, no dia 17 de abril.O momento será dedicado a temas políticos sensíveis e a um balanço das relações entre os dois países. O formato previsto inclui a presença somente de presidentes, primeiras-damas, chanceleres e embaixadores de cada lado.
Lula e Petro vão conversar ainda sobre o "Consenso de Brasília", documento assinado após a reunião de presidentes sul-americanos em maio passado, e sobre os rumos da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que será presidida pela Colômbia em 2025.
Já durante a reunião ampliada, os presidentes que vão passar por uma série de temas políticos, econômicos e de cooperação, como a compra e venda de produtos a base de maconha medicinal, a transferência de conhecimento para produção da vacina da dengue, a interligação energética regional, de fibra ótica na Amazônia e a retomada de um corredor bioceânico intermodal.
Os governantes e suas equipes pretendem conversar sobre a implementação da Declaração de Belém (PA), assinada em agosto do ano passado depois de uma cúpula sobre a Amazônia convocada por Lula. A exploração do petróleo na região opõe os presidentes. Ambos vão discutir sobre a proteção florestal e as perspectivas para a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
Maduro
Ambos são aliados políticos históricos do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e emprestaram prestígio político para reabilitar o chavista internacionalmente. Ambos restabeleceram relações com o governo do país vizinho depois de presidentes anteriores cortarem laços. No entanto, passaram a fazer críticas inéditas em público, depois que a principal força de oposição venezuelana foi impedida de disputar as eleições presidenciais.
Maduro rebateu o tom mais crítico do brasileiro e do colombiano. Ele chegou a falar que as cobranças internacionais eram parte de um "circo".
A mudança de postura em relação a Caracas ocorreu porque a principal candidata de oposição nas eleições marcadas para 28 de julho, Corina Yoris, não conseguiu se inscrever no pleito. Ela havia sido escolhida de última hora, depois que o regime bolivariano insistiu em inabilitar a vencedora das primárias da Plataforma Unitária, María Corina Machado.
Lula e Petro haviam criticado pela primeira vez de forma dura o aliado Maduro, pela restrição da candidata Yoris, o que não recebeu explicações razoáveis, segundo o petista. Petro afirmou que havia um "golpe antidemocrático" em Caracas. Lula determinou uma nota do Itamaraty e classificou a situação como "grave".
Desde que assumiram o poder, Lula e Petro envolveram-se pessoalmente em promover um entendimento entre o chavismo e opositores. Eles participaram de conversas telefônicas e até presenciais com representantes de Maduro e com o próprio ditador. Nesta quarta-feira, dia 10, Petro e Maduro se reuniram em Caracas. Ele pediu por "paz política" na Venezuela.
Israel
Lula e Petro também acumulam crises diplomáticas com Israel. Ambos convocaram seus embaixadores de volta a Brasília e a Bogotá, em decorrência de discordâncias políticas e repúdio à guerra que o governo israelense promove na Faixa de Gaza, como reação ao ataque do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro do ano passado.
O petista passou a ser considerado persona non grata no país depois que comparou a campanha das Forças de Defesa de Israel (FDI) na Faixa de Gaza ao holocausto. Durante viagem à Etiópia, em 18 de fevereiro, ele dissera que "o que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus".
Lula se recusou a pedir desculpas, exigidas por Tel Aviv, e costuma insistir em considerar que o governo israelense promove um "genocídio" de palestinos. Ele apoiou o processo contra Israel, denunciado por genocídio, pela África do Sul, perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ).
Em março, Petro aderiu à retórica inaugurada por Lula na arena internacional. Ele mandou suspender a compra de armamentos israelenses, também falou em genocídio e comparou as ações militares de Israel ao holocausto, quando cerca de 100 palestinos foram mortos a tiros por disparos das FDI, enquanto buscavam comida famintos num comboio de ajuda humanitária.
"Pedindo comida, mais de 100 palestinos foram mortos pelo (primeiro-ministro israelense Binyamin) Netanyahu. Isso é chamado de genocídio e lembra o Holocausto, mesmo que as potências mundiais não gostem de reconhecê-lo", escreveu Petro em uma publicação em sua conta na rede social X, onde republicou uma mensagem de outra conta com um vídeo do massacre mostrando dezenas de corpos empilhados.
O colombiano ameaça romper relações com Tel Aviv se o governo Benjamin Netanyahu seguir descumprindo a determinação de cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Lula já fez cobranças similares e acusou Israel de ignorar as determinações liminares da CIJ, a fim de prevenir o genocídio e crimes de guerra.
Aliança
Lula e Petro são aliados políticos. O colombiano foi o primeiro presidente de esquerda a chegar ao poder em Bogotá.
Esta será a primeira visita bilateral do presidente Lula a um país latino-americano em 2024, um sinal de prestígio diplomático e a segunda vez no atual mandato. Ele foi a Letícia, cidade colombiana que faz fronteira com Tabatinga (AM), no ano passado, para uma conferência científica amazônica.
Desde que tomou posse, o petista esteve em Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Cuba, Guiana, São Vicente e Granadinas - na maior parte das vezes para participar de cúpulas de chefes de Estado e de governo.
Petro, por sua vez, veio três vezes ao País: na posse de Lula, na reunião de presidentes sul-americanos que almejava revigorar a Unasul e na Cúpula de Belém. Ele aproveitou as vindas ao Brasil para estender a Lula o convite e anunciar que o País seria homenageado na feira do livro. Os dois também se encontraram em Dubai, durante a COP28, maior encontro climático do mundo.
Em meados de maio, Lula avalia viajar ao Chile - para a segunda reunião de presidentes sul-americanos - promovida pelo presidente Gabriel Boric e esticar a passagem nos Andes na Bolívia, a fim de se encontrar com o presidente Luis Arce. O petista também irá ao Paraguai em junho, para a reunião semestral do Mercosul.