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Jornalista deixa o Afeganistão após entrevista histórica com Talibã

Aos 23 anos, Beheshta Arghand entrou para a história ao se tornar a primeira mulher a entrevistar um membro do Talibã em rede nacional

Afeganistão: Beheshta Arghand deixou o país após entrevistar membro do Talibã ao vivo na TV (Hamad I Mohammed/Reuters)

Isabela Rovaroto

Publicado em 2 de setembro de 2021 às 14h13.

Última atualização em 2 de setembro de 2021 às 15h24.

Logo após o Talibã tomar o poder no Afeganistão , a âncora de televisão Beheshta Arghand entrou para história ao se tornar a primeira mulher a entrevistar um porta-voz do grupo em rede nacional.

Aos 23 anos, Beheshta fazia parte da equipe de jornalistas da TOLO, uma rede de notícias afegã, quando foi surpreendida por um membro do Talibã no estúdio pedindo para ser entrevistado. A entrevista ao vivo ganhou as manchetes do mundo todo.

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"Felizmente eu sempre visto roupas longas no estúdio porque temos pessoas diferentes com mentes diferentes", disse a jovem à Reuters em Doha, capital do Catar, onde vive desde que fugiu do Afeganistão em 24 de agosto com a ajuda do Prêmio Nobel vencedor Malala Yousafzai.

A entrevista em rede nacional faz parte de uma campanha do Talibã para mostrar um lado mais moderado do grupo. Eles prometeram respeitar os direitos das mulheres e incluir outras facções afegãs em um acordo de poder.

Apesar disso, Beheshta disse que o grupo ordenou que todas as mulheres usassem hijab e que, posteriormente, todas as âncoras fossem suspensas das emissoras. Ela também informou que o grupo islâmico pediu à mídia local que parasse de falar sobre a queda do governo.

Muitos de seus colegas já haviam deixado o Afeganistão naquela época, apesar de o Talibã dizer que a liberdade de mídia seria garantida e que as mulheres teriam acesso à educação e ao trabalho.

"Liguei para Malala e perguntei se ela poderia fazer algo por mim", disse Beheshta. A ativista Malala Yousafzai ajudou a colocá-la na lista de refugiados do Catar.

Malala, que demonstrou preocupação com a segurança de mulheres após a tomada do poder no Afeganistão, sobreviveu a um tiro do Talibã paquistanês em 2012, e é conhecida internacionalmente por seu engajamento na defesa da educação às mulheres.

Beheshta e sua família deixaram o país e se juntaram aos milhares de estrangeiros e cidadãos afegãos que participaram da caótica evacuação liderada pelos Estados Unidos.

Olhando para trás, a jornalista disse que percebeu quanto amava seu país e a profissão que escolheu. “Quando me sentei no avião, disse a mim mesma: agora você não tem mais nada”.

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