Boris Johnson: quando questionado sobre se haveria progresso nas conversas, o primeiro-ministro britânico respondeu que isso dependeria dos "amigos", e da intenção deles de se comprometerem (Peter Nicholls/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2019 às 06h46.
Última atualização em 21 de agosto de 2019 às 07h11.
Boris Johnson tenta passar a bomba do Brexit para as mãos de Angela Merkel e Emmanuel Macron. O primeiro-ministro britânico, em sua primeira viagem oficial desde que assumiu o posto em julho, viaja nesta quarta-feira, 21, a Berlim para encontrar a chanceler alemã. Na quinta, se reúne com o presidente francês em Paris.
Nos dois encontros, o objetivo é o mesmo: tentar convencer os dois mais importantes líderes da União Europeia a renegociar o acordo de saída do Reino Unido, na esperança de que eles convençam os demais chefes de Estado do bloco.
Os líderes europeus têm se negado a reabrir as conversas sobre o Brexit com Johnson, alegando que eles já assinaram um acordo com sua antecessora, Theresa May. O acordo feito por ela foi rejeitado pelo Parlamento britânico três vezes, o que culminou em sua renúncia em junho.
Devido ao comportamento impulsivo de Johnson, analistas políticos não estão confiantes de que a viagem do inglês vá conseguir cumprir seus objetivos. Sem uma nova negociação, o Brexit acontecerá sem acordo no dia 31 de outubro, data limite concedida pelo bloco para a saída do Reino Unido.
Uma saída desordenada teria grande impacto na economia do Reino Unido. Na última sexta-feira, 16, o jornal Sunday Times revelou documentos do governo britânico que apontam que, sem um acordo de transição, poderiam faltar combustíveis, remédios e alimentos na ilha.
Além disso, a fronteira da Irlanda com a Irlanda do Norte poderia ser fechada bruscamente, o que obrigaria os dois governos a verificar todas as pessoas e mercadorias que transitam entre os dois países.
O cenário sem acordo não é positivo para a Europa também, mas os governos da Alemanha e da França garantem que estão preparando suas economias para essa opção. Ao anunciar o encontro com Johnson, Merkel disse que está pronta para qualquer desfecho. “Acho que é sempre melhor que a saída aconteça com um acordo do que sem. Mas, se isso não for possível, estaremos preparados para a alternativa também”, afirmou.
Um documento do Ministério das Finanças da Alemanha indica que há “alta probabilidade” de um Brexit sem acordo, mas enfatiza que Berlim deve se manter firme e que os países da União Europeia precisam estar unidos, “sem perder a calma”, diante desse cenário.
Segundo a emissora alemã Deutsche Welle, o governo alemão já aprovou mais de 50 leis para proteger o país nesse sentido e contratou mais 900 funcionários da alfândega para cuidar dos requerimentos de liberação de bens nas fronteiras, que devem aumentar em um Brexit desordenado.
Se Merkel e Macron não aceitarem renegociar o acordo, Johnson poderá argumentar para o Reino Unido que tentou evitar a saída brusca do bloco, mas que os líderes europeus não colaboraram com seus esforços. “Estamos prontos para trabalhar com nossos amigos e parceiros para obter um acordo, mas se você quer uma boa saída para o Reino Unido, você deve estar pronto para sair sem um”, disse o primeiro-ministro na segunda-feira.