Jihadistas fazem Casa Branca reformular política de guerra
Um ano depois de um potencial ataque à Síria, governo de Obama caminha novamente para essa possibilidade
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2014 às 16h33.
Washington - Os sinais de uma possível ofensiva dos Estados Unidos contra os jihadistas do Estado Islâmico ( EI ) na Síria mostram uma mudança na política do governo de Barack Obama sobre as guerras no exterior, marcada ainda pelo trauma da era pós-Iraque.
Um ano atrás, Obama esteve prestes a bombardear a Síria, mas voltou atrás no último minuto, depois de dimensionar o isolamento político que sofreria em um país cansado de guerras.
Agora caminha novamente para perto desta possibilidade, mas é possível que os ventos políticos tenham mudado.
A execução do jornalista americano James Foley, que desde 2012 permanecia sequestrado na Síria, e o temor de que o país possa se converter em um paraíso terrorista significa um desafio à política externa do governo, construída com base de que "a maré da guerra está retrocedendo".
Além disso, abriu caminho para um debate sobre a segurança nacional na antessala da campanha para as eleições de 2016, que terminará apenas quando o próximo presidente decidir como exercerá o poderio dos Estados Unidos no exterior.
Antipatia
Obaman não escondeu sua antipatia aos compromissos sem data de partida no Oriente Medio, apesar de suas campanhas potentes, embora limitadas, contra a Al-Qaeda no Paquistão e na Líbia.
Mas a morte terrível de Foley foi um desafio direto ao governo, e é impossível pensar que o presidente não responderá.
Além disso, a possibilidade de que militantes ocidentais do EI possam levar o terror aos Estados Unidos simplesmente comprando uma passagem de avião também deixa Obama com uma guerra no exterior que não buscou, mas que talvez deva enfrentar.
Uma tentativa séria de deter o EI na difusa fronteira entre Iraque e Síria ameaça se converter no tipo de compromisso que o Executivo americano quer evitar.
No entanto, o Pentágono prepara opções para uma possível ação dos Estados Unidos contra os redutos do grupo na Síria, que se somaria aos ataques aéreos limitados que realiza há dias no norte do Iraque para proteger os funcionários americanos e evitar um genocídio da minoria yazidi.
Ponto de virada
O endurecimento da retórica americana gerou expectativas de que Obama lance em breve na Síria uma frente contra um grupo que na semana passada classificou de "câncer".
Um de seus principais conselheiros, Ben Rhodes, classificou a execução de Foley como ataque terrorista e advertiu: "Se você for atrás de norte-americanos, iremos atrás de você".
Por sua vez, um ex-funcionário de alto escalão da administração disse que a mudança na retórica poderia significar um ponto de viragem na Casa Branca.
"Para mim parece que aumentou a marcha, da segunda para a quarta, em como responder" ao EI, opinou.
Enquanto isso, os tambores de guerra soam novamente no Capitólio. "Até o momento este governo só se ocupou da contenção", disse à ABC News Michael McCaul, presidente do Comitê de Segurança Nacional da Câmara de Representantes.
"Precisamos expandir estes ataques aéreos, assim poderemos em última instância derrotar e eliminar" o EI, opinou.
2016
O repentino avanço dos jihadistas também está começando a impactar na incipiente corrida para as presidenciais de 2016.
As eleições americanas habitualmente giram em torno dos assuntos domésticos, mas diante da agitação em todo o mundo é certo que a disputa sobre o papel dos Estados Unidos no exterior abrirá caminho na campanha para eleger o sucessor de Obama.
Neste contexto, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, possível candidata dos democratas, afirmou publicamente que Obama não seguiu seu conselho de armar os rebeldes moderados na Síria, um movimento que, segundo assessores, poderia ter freado o avanço do EI.
Obama, pelo contrário, buscou se afastar da guerra contra o terror de seu antecessor, George W. Bush.
O EI também complicou a vida do senador Rand Paul, um republicano liberal, que advertiu em junho que o envolvimento dos Estados Unidos já havia criado um "país das maravilhas jihadistas".
Paul advertiu no domingo que a visão de Clinton poderia levar ao início de uma nova guerra no Oriente Médio.