Mundo

Itália quer extradição de Cesare Battisti

Battisti teve a "prisão preventiva decretada" pela justiça do Mato Grosso do Sul nesta quinta-feira

Battisti: ele foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios ocorridos na década de 1970 (Nacho Doce/Reuters)

Battisti: ele foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios ocorridos na década de 1970 (Nacho Doce/Reuters)

A

AFP

Publicado em 5 de outubro de 2017 às 20h55.

O governo italiano confirmou, nesta quinta-feira (5), sua vontade de obter do Brasil a extradição do ex-militante de extrema esquerda Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália e detido ontem na fronteira brasileira com a Bolívia.

Battisti teve a "prisão preventiva decretada" pela justiça do Mato Grosso do Sul nesta quinta-feira, após ser ouvido por videoconferência pelo juiz Odilon de Oliveira a partir de Corumbá.

Segundo a imprensa local, o juiz se decidiu pela prisão preventiva por haver indícios de que Battisti pretendia "escapar do Brasil".

A Itália reclama há anos a extradição do militante, condenado por assassinatos e símbolo dos "anos de chumbo" e dos grupos armados italianos.

"Hoje trabalhamos com o embaixador (italiano no Brasil, Antonio) Bernardini para trazer Battisti para a Itália e entregá-lo à Justiça. Continuamos trabalhando com as autoridades brasileiras", declarou o ministro italiano das Relações Exteriores, Angelino Alfano.

Ex-integrante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, Battisti, hoje com 62 anos, foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios ocorridos na década de 1970 e fugiu para o Brasil em 2004, onde viveu na clandestinidade. Foi detido no Rio de Janeiro em 2007.

Dois anos depois, a pedido de Roma, o Supremo Tribunal Federal autorizou sua extradição, que foi negada em 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde 2007, Battisti ficou detido por quatro anos antes de ser posto em liberdade em junho de 2011.

O último pedido de extradição por parte da Itália foi em 25 de setembro e, segundo a imprensa italiana, o presidente Michel Temer teria-se mostrado favorável, o que pode ter motivado a "tentativa de fuga" de Battisti para a Bolívia.

O italiano foi preso ontem em Corumbá, cidade fronteiriça com a Bolívia, levando mais de R$ 10 mil em dinheiro. É suspeito de cometer crime de evasão de divisas.

No Brasil, é preciso declarar a saída do país de quantias superiores a R$ 10 mil.

"Doutrina Mitterrand"

Em junho de 1979, Battisti foi preso em Milão como parte da investigação de um dos assassinatos. Acabou condenado a 12 anos de prisão por participar de um grupo armado, mas escapou da prisão de Frosinone, perto de Roma. Fugiu para a França e, depois, para o México, antes de retornar para a França.

Em território francês, beneficiou-se do compromisso do então presidente, o socialista François Mitterrand, de não extraditar qualquer militante de extrema esquerda que tivesse renunciado à luta armada. Uma posição conhecida como "Doutrina Mitterrand".

Após sua conversão a escritor de livros policiais, Battisti deixou a França em 2004 diante da perspectiva de ser extraditado para a Itália. O então presidente francês, o conservador Jacques Chirac, era a favor dessa medida.

Na época, Battisti se beneficiou do apoio de personalidades e intelectuais, como o romancista Fred Vargas, o filósofo francês Bernard-Henri Lévy e o abade Pierre.

Dessa forma, conseguiu fugir para o Brasil com uma falsa identidade e, segundo ele, com a ajuda dos serviços secretos franceses.

"O que eu quero?", dizia naquela época, "uma reconciliação com o povo italiano. É necessária uma anistia, outros países fizeram isso".

Em 2015, Battisti se casou com uma brasileira no estado de São Paulo.

Acompanhe tudo sobre:ItáliaPolícia FederalPrisões

Mais de Mundo

Companhias aéreas retomam gradualmente os serviços após apagão cibernético

Radiografia de cachorro está entre indícios de esquema de fraude em pensões na Argentina

Trump conversa com Zelensky e promete "negociação" e "fim da guerra" na Ucrânia

Legisladores democratas aumentam pressão para que Biden desista da reeleição

Mais na Exame