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Iraque contabiliza 200 mortos em manifestações contra o governo

"Sem escola, sem trabalho, até a queda do regime" gritavam estudantes que aderiram às manifestações que começaram no início deste mês

Iraque: dese o início do mês, mais de 200 pessoas morreram e 8 mil ficaram feridas (Abdullah Dhiaa al-Deeen/Reuters)
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AFP

Publicado em 28 de outubro de 2019 às 09h23.

"Sem escola até a queda do regime": de Bagdá a Basra, pelas ruas de Diwaniyah ou Nasiriyah, milhares de estudantes invadiram as ruas iraquianas nesta segunda-feira, ignorando os avisos das autoridades.

Desde o início de um movimento de protesto sem precedentes, em 1º de outubro, mais de 200 pessoas morreram e 8.000 ficaram feridas.

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O Exército ameaçou com sanções severas os funcionários públicos e estudantes que não se apresentassem ao trabalho ou na escola.

Mas nesta segunda-feira, o sindicato dos professores anunciou "quatro dias de greve geral". E, nas ruas, os iraquianos - que pedem empregos para os jovens, que representam 60% da população, e serviços públicos funcionais a um Estado devastado pela corrupção - estão mais decididos do que nunca.

Em várias províncias do sul, funcionários públicos, sindicatos e estudantes participaram de marchas.

A mobilização também está ganhando força na icônica Praça Tahrir, em Bagdá, lotada desde quinta-feira de tendas e barracas para distribuição de alimentos e proteção contra o gás lacrimogêneo das forças de segurança.

 

Protestos no Iraque

Os estudantes aderiram ao movimento no domingo, apesar da polícia de choque presente perto das universidades e do apelo do ministro da Educação Superior Qussaï al-Suheil para "manter as universidades afastadas" do movimento.

"Queremos que o governo renuncie imediatamente. Ou eles renunciam ou os tiraremos", declarou um estudante à AFP.

Em Diwaniya, 200 quilômetros ao sul de Bagdá, professores e estudantes decretaram um "sit-in de dez dias para que o regime caia", segundo um correspondente da AFP.

A maioria dos sindicatos aderiu ao movimento e piquetes bloqueiam as entradas dos prédios públicos.

A multidão grita "sem escola, sem trabalho, até a queda do regime", mas também "fora Irã", enquanto o grande vizinho xiita, como o sul do Iraque, luta com os Estados Unidos - seu inimigo jurado e outra potência ativa no país - para estender sua influência.

Jovens desempregados

Milhares de estudantes desfilam por Kut, Nassiriya, Hilla, Samawa e Basra (sul).

Em Kut, a maioria das repartições públicas permaneceu fechada por falta de funcionários, segundo um correspondente da AFP.

A província multiétnica de Diyala, na fronteira com o Irã, até agora isolada, entrou no movimento: dois membros do Conselho Provincial renunciaram e os piquetes bloqueavam administrações e universidades.

Na cidade xiita sagrada de Najaf, ao sul de Bagdá, algumas dezenas de estudantes religiosos se manifestaram.

Todos acreditam que o sistema introduzido após a queda do ditador Saddam Hussein em 2003 chegou ao esgotamento.

Em 16 anos, dizem, o complexo sistema de distribuição de cargos de acordo com confissões e grupos étnicos só fortaleceu o clientelismo de uma classe política inalterada, sem deixar um horizonte aberto para os jovens.

Protestos no Iraque

Os manifestantes querem uma nova Constituição, para substituir a votada em 2005 sob a supervisão americana, e que os "grandes peixes" da corrupção sejam obrigados a devolver o dinheiro público desviado, que representa o dobro do PIB do Iraque.

"Queremos a dissolução do Parlamento, um governo de transição, uma nova Constituição e eleições antecipadas sob a supervisão da ONU", afirmou um manifestante em Bagdá.

O Parlamento deve se reunir nesta segunda, pois, até agora, por falta de quorum, não conseguiu ir até o final de suas sessões.

Os cinquenta deputados do polêmico líder xiita Moqtada Sadr começaram no sábado um protesto de sentar nas ruas para exigir que as demandas dos manifestantes sejam respeitadas.

Quatro deputados - incluindo os únicos dois comunistas - anunciaram sua renúncia.

A maioria parlamentar do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, um independente sem base partidária ou popular que contava com Moqtada Sadr e a lista dos poderosos paramilitares pró-Irã do Hashd al-Shaabi, agora está em frangalhos.

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