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Incêndio tira o brilho de Valparaíso e explana decadência

O incidente evidenciou as carências urbanísticas e a vulnerabilidade social desta cidade chilena

Casas destruídas são vistas depois de incêndio em Valparaíso, no Chile: 2,5 mil casas foram destruídas (REUTERS/Eliseo Fernandez)
DR

Da Redação

Publicado em 15 de abril de 2014 às 07h05.

Santiago do Chile - O voraz incêndio que desde sábado consome Valparaíso evidenciou as carências urbanísticas e a vulnerabilidade social desta cidade chilena, que lembra com nostalgia o passado próspero que a levou a ser batizada como "Joia do Pacífico".

Sua peculiar geografia urbana, com ruas estreitas e íngremes em colinas repletas de casas humildes, os fortes ventos e o descaso das autoridades confluíram em uma espécie de "tempestade perfeita" que deixou pelo menos 15 mortos, cerca de 2,5 mil casas destruídas e afetou mais de 11 mil pessoas.

Enquanto mais de mil bombeiros e brigadistas florestais lutam contra as chamas nas colinas da cidade, a discussão agora está centrada em estabelecer suas causas e em decifrar se a tragédia poderia ter sido evitada ou minimizada.

Para o arquiteto e urbanista Ivan Poduje, o gigantesco incêndio que afetou seis montanhas de Valparaíso não foi só o resultado de uma combinação trágica e fortuita de fatores, mas consequência da negligência das autoridades para um problema que era conhecido por todos.

"As consequências poderiam ser menores. Houve várias advertências por causa de incêndios anteriores, focos de risco foram detectados, mas nenhuma das recomendações foi acatada", declarou Poduje à Agência Efe.

Situada em frente ao oceano Pacífico, a cidade de Valparaíso tem uma pequena parte plana em frente à costa e está rodeada por 42 colinas que, com a passagem dos anos foram sendo povoadas, muitas vezes de maneira irregular e longe do controle das autoridades.

Segundo Poduje, o incêndio queimou as colinas da parte mais alta da cidade, onde mora a população mais pobre, longe das pitorescas casas de cores e os elevadores que chamam a atenção de milhares de turistas de todo o mundo que visitam a região.


"Nessa região há bairros vulneráveis, sem infraestrutura, perto de córregos que acumulam lixo", explicou o arquiteto.

Em sua opinião, parte da culpa é da prefeitura, que no plano urbanístico da cidade regularizou bairros que estavam em áreas de risco, dotando-os de luz, água e ruas.

Em 2008, a fragilidade da segurança nas colinas de Valparaíso ficou em evidência por causa de um incêndio que deixou quatro mortos e destruiu uma centena de imóveis.

Uma equipe de analistas recomendou derrubar as casas nas áreas mais altas e perigosas, limpar o lixo das ruas e córregos e construir corta-fogos e caminhos alternativos.

Poduje constatou em um percurso pela cidade no ano passado que nenhuma das medidas anteriores aconteceu, e divide as responsabilidades entre a prefeitura e o governo central.

A crise econômica e a negligência das autoridades estaduais também impactaram o cenário atual de Valparaíso.

"Nem o município nem o governo regional têm os recursos necessários para que Valparaíso possa resolver seus problemas de vulnerabilidade social e territorial", opinou Poduje.

Apesar do ambiente boêmio, da agitada vida noturna e do privilégio de ser Patrimônio da Humanidade da Unesco, a Valparaíso atual é apenas um vestígio da cidade sofisticada e elegante que foi no final do século XIX, quando se transformou na capital econômica do Chile graças ao comércio marítimo.

Seu porto era parada obrigada para os navios que uniam o Atlântico e o Pacífico através do Estreito de Magalhães, enquanto a chegada de imigrantes italianos, espanhóis e ingleses deu o ar cosmopolita à cidade.

O primeiro golpe que fez tremer os alicerces da bonança foi o terremoto de agosto de 1906, de 8,2 graus na escala Richter, que destruiu quase toda a cidade e deixou mais de três mil mortos.

Poucos anos depois, em 1914, a abertura do Canal do Panamá acentuou a decadência econômica e social da cidade, que continuou inexoravelmente até a atualidade.

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Sua peculiar geografia urbana, com ruas estreitas e íngremes em colinas repletas de casas humildes, os fortes ventos e o descaso das autoridades confluíram em uma espécie de "tempestade perfeita" que deixou pelo menos 15 mortos, cerca de 2,5 mil casas destruídas e afetou mais de 11 mil pessoas.

Enquanto mais de mil bombeiros e brigadistas florestais lutam contra as chamas nas colinas da cidade, a discussão agora está centrada em estabelecer suas causas e em decifrar se a tragédia poderia ter sido evitada ou minimizada.

Para o arquiteto e urbanista Ivan Poduje, o gigantesco incêndio que afetou seis montanhas de Valparaíso não foi só o resultado de uma combinação trágica e fortuita de fatores, mas consequência da negligência das autoridades para um problema que era conhecido por todos.

"As consequências poderiam ser menores. Houve várias advertências por causa de incêndios anteriores, focos de risco foram detectados, mas nenhuma das recomendações foi acatada", declarou Poduje à Agência Efe.

Situada em frente ao oceano Pacífico, a cidade de Valparaíso tem uma pequena parte plana em frente à costa e está rodeada por 42 colinas que, com a passagem dos anos foram sendo povoadas, muitas vezes de maneira irregular e longe do controle das autoridades.

Segundo Poduje, o incêndio queimou as colinas da parte mais alta da cidade, onde mora a população mais pobre, longe das pitorescas casas de cores e os elevadores que chamam a atenção de milhares de turistas de todo o mundo que visitam a região.


"Nessa região há bairros vulneráveis, sem infraestrutura, perto de córregos que acumulam lixo", explicou o arquiteto.

Em sua opinião, parte da culpa é da prefeitura, que no plano urbanístico da cidade regularizou bairros que estavam em áreas de risco, dotando-os de luz, água e ruas.

Em 2008, a fragilidade da segurança nas colinas de Valparaíso ficou em evidência por causa de um incêndio que deixou quatro mortos e destruiu uma centena de imóveis.

Uma equipe de analistas recomendou derrubar as casas nas áreas mais altas e perigosas, limpar o lixo das ruas e córregos e construir corta-fogos e caminhos alternativos.

Poduje constatou em um percurso pela cidade no ano passado que nenhuma das medidas anteriores aconteceu, e divide as responsabilidades entre a prefeitura e o governo central.

A crise econômica e a negligência das autoridades estaduais também impactaram o cenário atual de Valparaíso.

"Nem o município nem o governo regional têm os recursos necessários para que Valparaíso possa resolver seus problemas de vulnerabilidade social e territorial", opinou Poduje.

Apesar do ambiente boêmio, da agitada vida noturna e do privilégio de ser Patrimônio da Humanidade da Unesco, a Valparaíso atual é apenas um vestígio da cidade sofisticada e elegante que foi no final do século XIX, quando se transformou na capital econômica do Chile graças ao comércio marítimo.

Seu porto era parada obrigada para os navios que uniam o Atlântico e o Pacífico através do Estreito de Magalhães, enquanto a chegada de imigrantes italianos, espanhóis e ingleses deu o ar cosmopolita à cidade.

O primeiro golpe que fez tremer os alicerces da bonança foi o terremoto de agosto de 1906, de 8,2 graus na escala Richter, que destruiu quase toda a cidade e deixou mais de três mil mortos.

Poucos anos depois, em 1914, a abertura do Canal do Panamá acentuou a decadência econômica e social da cidade, que continuou inexoravelmente até a atualidade.

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