Hong Kong, um quebra-cabeça para o governo chinês
Tudo começou com um projeto de lei - já retirado de pauta - que teria permitido extradições de Hong Kong para o restante da China
AFP
Publicado em 5 de agosto de 2019 às 17h04.
Última atualização em 5 de agosto de 2019 às 17h05.
Ceder aos manifestantes ou enviar tanques? O governo de Pequim não tem uma solução ideal diante do desafio dos manifestantes de Hong Kong , o maior desde a retrocessão do território à China , em 1997.
Por causa de um projeto de lei - retirado de pauta - que teria permitido extradições de Hong Kong para o restante da China, a disputa se tornou um desafio para o poder de Pequim na ex-colônia britânica.
Confira abaixo algumas opções para o regime comunista:
1. Manter a estratégia
O governo chinês pode decidir seguir a mesma estratégia que vem adotando desde o início dos confrontos em junho: apoiar a polícia de Hong Kong e a chefe do Executivo local, a polêmica Carrie Lam.
"Pequim adotou uma estratégia de intimidação e se mantém à espera, pelo menos até setembro (começo do novo ano administrativo)", destacou o cientista político de Hong Kong Dixon Sing, destacando que muitos manifestantes são estudantes universitários, ou de Ensino Médio.
A expectativa do governo chinês é que o movimento pró-democrático perca força, como aconteceu durante a "Revolução dos Guarda-Chuvas" de 2014, que teve como saldo a detenção de seus líderes e nenhuma concessão por parte das autoridades.
Além disso, o presidente Xi Jinping deve se abster de adotar qualquer postura antagônica antes de 1º de outubro, data do 70º aniversário da fundação da República Popular. Uma escalada de tensão poderia ofuscar o gigantesco desfile militar previsto para acontecer em Pequim para celebrar a unidade do país.
2. Ceder
Outra possibilidade é satisfazer as exigências dos manifestantes, que pedem a saída de Lam, investigar os métodos da polícia e o enterro definitivo do projeto de lei sobre extradições. Por enquanto, o texto se encontra apenas suspenso.
"Não é impossível que Pequim faça algumas concessões menores em setembro", afirmou Sing.
Uma dessas concessões poderia ser, por exemplo, o sacrifício de Lam, que se tornou "uma decepção política colossal, tanto no nível local quanto internacional".
Uma reforma do sistema eleitoral para uma direção mais democrática parece algo mais hipotético, na medida em que pode levar a não ter mais eleitos pró-Pequim no Parlamento e no Executivo locais.
3. Aumentar a pressão
A propaganda de Pequim se tornou mais ameaçadora na semana passada, com a difusão de um vídeo do Exército chinês, fazendo demonstrações de operações do Batalhão de Choque nas ruas de Hong Kong.
Além disso, os principais jornais da China continental se mostram cada vez mais agressivos em relação aos manifestantes, classificando-os como uma minoria radical separatista. O incidente de sábado, no qual uma bandeira chinesa foi jogada na água no porto de Hong Kong, foi amplamente divulgado no continente.
Objetivo: reforçar a perspectiva de uma intervenção armada para convencer os manifestantes a ficarem em suas casas.
Xi Jinping "se volta para uma posição mais firme", afirma o cientista político Willy Lam, da Universidade China, de Hong Kong. "As chances de que Pequim adote medidas não violentas e uma atitude conciliadora são baixas", adverte.
Esta estratégia implica riscos, porém: a fuga de capitais e empresas estrangeiras.
4. Enviar o Exército
Pequim advertiu que sua guarnição local, com milhares de homens no centro de Hong Kong, pode se ver obrigada a "manter a ordem", se o Executivo local pedir.
O aumento da violência nas recentes manifestações pode dar um argumento para que o Exército intervenha, substituindo a polícia.
Esta intervenção, um último recurso, pode levar a um desastre financeiro na metrópole, assim como a uma condenação internacional.
"Isso comprometeria seriamente a legitimidade política de Xi Jinping e do Partido Comunista chinês, tanto em nível interno quanto externo, com uma condenação internacional similar à provocada pela repressão na praça Tiananmen, em Pequim, em 1989", adverte Michael Raksa, da Escola S. Rajaratnam de Estudos Internacionais de Singapura.
Para um governo que não tolera qualquer protesto interno, a agitação em Hong Kong "significa uma grave perda de prestígio", completa.