Homem declarado morto se candidata à presidência da Índia
Singh está há anos lutando sem sucesso para que o governo revogue sua certidão de óbito, emitida em 2003 a pedido de alguns familiares
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2012 às 10h32.
Nova Délhi - Candidatar-se à eleição presidencial da Índia foi a solução que pensou Santosh Kumar Singh, um cozinheiro de 32 anos, para demonstrar às autoridades indianas que continua vivo, após ser declarado morto há nove anos.
Singh, que nos últimos dias vem protestando no "manifestódromo" de Jantar Mantar, em Nova Délhi, está há anos lutando sem sucesso para que o governo revogue sua certidão de óbito, emitida em 2003 a pedido de alguns familiares.
"Algumas pessoas - conta à Agência Efe este homem pequeno e barbado, cozinheiro de profissão - me recomendaram cometer algum crime para notarem que estou vivo, mas prefiro usar um caminho correto no momento apropriado".
A desventura do surpreendente candidato começou com a chegada a seu povoado (Chitawni, na região de Uttar Pradesh) de uma equipe de filmagem sob as ordens do ator Nana Patekar, e Singh, órfão desde criança, conseguiu que este o contratasse como cozinheiro.
Singh se mudou para Mumbai com Patekar e ali se casou com uma mulher de casta intocável, com a qual teve um filho, mas ao voltar à sua cidade natal, no ano de 2003, descobriu que alguns de seus tios e primos tinham denunciado seu desaparecimento e simulado seus rituais funerários.
Embora a discriminação por casta esteja proibida na Índia, em muitas zonas rurais casar-se com uma pessoa "intocável", o mais baixo grupo da escala social hindu, ainda é considerado uma desonra e traz consigo a perda do próprio status.
Para Singh, romper com o tabu de casta significou, além disso, perder 12 hectares de terra, que foram herdados por seus familiares quando foi emitida sua certidão de óbito.
"Fui declarado morto. Quando me queixei perante o governo, me disseram que (com as terras) havia muito dinheiro em jogo e que seria melhor que eu me mudasse e vivesse minha vida", comenta Singh, que denuncia ter sido agredido por servidores públicos.
A Índia realizará sua eleição presidencial agora em julho, mas trata-se de uma votação parlamentar na qual o candidato governamental, Pranab Mukherjee, parte com vantagem, e Singh não tem chances de ser eleito.
Mas seu método de protesto, candidatar-se à presidência, ocorreu após ele constatar que a luta na justiça, uma briga diária pelos tribunais durante os últimos anos, era cara demais e ameaçava a própria manutenção de sua família.
Agora, este cozinheiro rural passeia pelas ruas de Nova Délhi com um cartaz no qual se lê "Uttar Pradesh me declarou morto, mas estou vivo", e uma cópia dos papéis que evidenciam sua surpreendente situação.
"Isto é como sofrer um problema físico e mental. Como você se sentiria se fosse declarado morto? Estou vivendo como se estivesse deitado em uma pira funerária", assegura o candidato, que diz não contar com apoio econômico de nenhum tipo.
Uttar Pradesh é uma das regiões indianas menos desenvolvidas, e são frequentes as denúncias de más práticas administrativas, corrupção e ineficácia das forças de segurança, muito mal treinadas em relação às das grandes cidades do país.
De tempos em tempos aparecem na imprensa local casos de cidadãos como Santosh Kumar Singh, que optam por protestar com medidas incomuns.
Há seis meses um encantador de serpentes jogou uma bolsa cheia destes répteis em um escritório do Governo indiano em Uttar Pradesh como forma de protestar pela falta de resposta oficial a seu desejo de montar um serpentário.
Os funcionários em questão tiveram que sair correndo para salvar suas vidas, mas um protesto deste nível não é algo que o "morto" Santosh Kumar Singh faria, em parte por seu próprio sentimento de responsabilidade com a sua família.
"Não queria que se sentissem mal. Não estou contra ninguém, e na realidade não quero ser presidente. Só me candidatei para mostrar que estou vivo", assegura este cozinheiro, antes de sair para uma entrevista a uma rádio local.
"A Índia era grande, foi uma nação grande, é grande e será grande, mas na administração rural há muita corrupção. Ali nem todos somos iguais. O peixe grande come o pequeno", conclui.
Nova Délhi - Candidatar-se à eleição presidencial da Índia foi a solução que pensou Santosh Kumar Singh, um cozinheiro de 32 anos, para demonstrar às autoridades indianas que continua vivo, após ser declarado morto há nove anos.
Singh, que nos últimos dias vem protestando no "manifestódromo" de Jantar Mantar, em Nova Délhi, está há anos lutando sem sucesso para que o governo revogue sua certidão de óbito, emitida em 2003 a pedido de alguns familiares.
"Algumas pessoas - conta à Agência Efe este homem pequeno e barbado, cozinheiro de profissão - me recomendaram cometer algum crime para notarem que estou vivo, mas prefiro usar um caminho correto no momento apropriado".
A desventura do surpreendente candidato começou com a chegada a seu povoado (Chitawni, na região de Uttar Pradesh) de uma equipe de filmagem sob as ordens do ator Nana Patekar, e Singh, órfão desde criança, conseguiu que este o contratasse como cozinheiro.
Singh se mudou para Mumbai com Patekar e ali se casou com uma mulher de casta intocável, com a qual teve um filho, mas ao voltar à sua cidade natal, no ano de 2003, descobriu que alguns de seus tios e primos tinham denunciado seu desaparecimento e simulado seus rituais funerários.
Embora a discriminação por casta esteja proibida na Índia, em muitas zonas rurais casar-se com uma pessoa "intocável", o mais baixo grupo da escala social hindu, ainda é considerado uma desonra e traz consigo a perda do próprio status.
Para Singh, romper com o tabu de casta significou, além disso, perder 12 hectares de terra, que foram herdados por seus familiares quando foi emitida sua certidão de óbito.
"Fui declarado morto. Quando me queixei perante o governo, me disseram que (com as terras) havia muito dinheiro em jogo e que seria melhor que eu me mudasse e vivesse minha vida", comenta Singh, que denuncia ter sido agredido por servidores públicos.
A Índia realizará sua eleição presidencial agora em julho, mas trata-se de uma votação parlamentar na qual o candidato governamental, Pranab Mukherjee, parte com vantagem, e Singh não tem chances de ser eleito.
Mas seu método de protesto, candidatar-se à presidência, ocorreu após ele constatar que a luta na justiça, uma briga diária pelos tribunais durante os últimos anos, era cara demais e ameaçava a própria manutenção de sua família.
Agora, este cozinheiro rural passeia pelas ruas de Nova Délhi com um cartaz no qual se lê "Uttar Pradesh me declarou morto, mas estou vivo", e uma cópia dos papéis que evidenciam sua surpreendente situação.
"Isto é como sofrer um problema físico e mental. Como você se sentiria se fosse declarado morto? Estou vivendo como se estivesse deitado em uma pira funerária", assegura o candidato, que diz não contar com apoio econômico de nenhum tipo.
Uttar Pradesh é uma das regiões indianas menos desenvolvidas, e são frequentes as denúncias de más práticas administrativas, corrupção e ineficácia das forças de segurança, muito mal treinadas em relação às das grandes cidades do país.
De tempos em tempos aparecem na imprensa local casos de cidadãos como Santosh Kumar Singh, que optam por protestar com medidas incomuns.
Há seis meses um encantador de serpentes jogou uma bolsa cheia destes répteis em um escritório do Governo indiano em Uttar Pradesh como forma de protestar pela falta de resposta oficial a seu desejo de montar um serpentário.
Os funcionários em questão tiveram que sair correndo para salvar suas vidas, mas um protesto deste nível não é algo que o "morto" Santosh Kumar Singh faria, em parte por seu próprio sentimento de responsabilidade com a sua família.
"Não queria que se sentissem mal. Não estou contra ninguém, e na realidade não quero ser presidente. Só me candidatei para mostrar que estou vivo", assegura este cozinheiro, antes de sair para uma entrevista a uma rádio local.
"A Índia era grande, foi uma nação grande, é grande e será grande, mas na administração rural há muita corrupção. Ali nem todos somos iguais. O peixe grande come o pequeno", conclui.