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Hillary começa a definir o papel de Bill Clinton

Desde suas infidelidades até sua desregulação de Wall Street, o legado de Bill Clinton se transformou em um tema central na corrida à Casa Branca

Hillary e Bill Clinton: "se tiver a sorte de ser presidente e ele de ser o 'primeiro-cavalheiro', espero que ele se ponha a trabalhar para que salários subam" (Mike Segar / Reuters)
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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2016 às 10h24.

Washington - "Dois pelo preço de um". Com esse lema, Bill e Hillary Clinton disputaram as eleições de 1992, e agora tentam repetir a fórmula com um papel destacado para o ex-presidente na política econômica de sua esposa, uma incumbência sem precedentes que inquieta alguns e dá munição ao rival republicano Donald Trump.

Desde suas infidelidades até sua desregulação de Wall Street, o legado de Bill Clinton se transformou em um tema central na corrida à Casa Branca, e Hillary começou esta semana a definir seus planos para seu marido, empenhada em transformar em um ativo o que muitos veem como um empecilho.

"Já disse a meu marido que, se tiver a sorte de ser presidente e ele de ser o 'primeiro-cavalheiro', espero que ele se ponha a trabalhar para que os salários subam", disse Hillary em um ato de campanha na segunda-feira passada em Kentucky.

A favorita nas primárias democratas detalhou que a tarefa de seu marido será "revitalizar a economia" com foco nas áreas mais pobres do país, com a experiência de ter governado durante o período mais longo de crescimento econômico na história dos Estados Unidos.

Embora tenha esclarecido que Bill Clinton não faria parte de seu gabinete, não está claro como o ex-presidente seria encaixado no esquema econômico tradicional do governo americano, que inclui o Departamento do Tesouro e o Conselho de Assessores Econômicos.

"Esta nomeação como 'czar econômico' poderia certamente complicar a relação da Casa Branca com as agências e funcionários do gabinete encarregados da economia", declarou à Agência Efe Anita McBride, que foi chefe de gabinete de Laura Bush e estuda o legado das primeiras-damas para a American University.

Encarregar o cônjuge do presidente de um papel-chave em uma área política destacada envolve riscos, segundo Christopher Arterton, professor de gestão política na Universidade de George Washington.

"Quando Bill Clinton foi eleito e pôs Hillary a cargo de seu plano de saúde, houve todo tipo de críticas, as pessoas perguntavam quem a havia escolhido", lembrou Arterton à Efe.

"Algumas (críticas) eram hipócritas, porque o presidente pode se apoiar em muitos assessores que não são escolhidos nas urnas. Mas algo havia de verdade nessa sensação de que o cônjuge do presidente não é o mesmo que um assessor normal", acrescentou.

Se esse cônjuge é, além disso, um ex-presidente, e um tão ambicioso como Bill Clinton, a situação pode se tornar ainda mais incômoda para os demais assessores.

O colunista do jornal "Washington Post", Paul Waldman, resume assim a situação: "Alguém pode imaginá-lo ligando para o secretário do Tesouro ou o presidente do Conselho de Assessores Econômicos a qualquer hora do dia ou da noite" para compartilhar suas ideias.

"Teriam que responder a ligação e levá-la a sério, porque um presidente deve ser escutado. Uma vez que comece a defender uma medida em particular, todo o mundo saberá, e isso lhe dará peso nas deliberações do governo", escreveu Waldman.

Para Arterton, no entanto, Hillary Clinton não pode ter um ex-presidente na ala leste da Casa Branca e não lhe dar "uma série de responsabilidades claramente definidas".

"Acredito que, dentro da área limitada (da economia), os membros da Administração darão por certo que Bill fala em nome da presidente, portanto não espero que haja mais conflito" do que normalmente surge entre a Casa Branca e outras agências, opinou.

Mas há outro potencial problema para Bill: os desafios econômicos dos Estados Unidos são agora muito diferentes do que os da década de 90, e os eleitores democratas rejeitam dois princípios básicos de sua presidência: o estímulo ao livre-comércio e as medidas de desregulação de Wall Street.

Trump tomou nota disso e recentemente lançou uma pergunta a seus seguidores no Twitter: "Como pode a desonesta Hillary pôr seu marido a cargo da economia quando foi responsável pelo NAFTA (sigla em inglês de Tratado de Livre-Comércio da América do Norte), o pior acordo econômico na história dos EUA?".

Bill Clinton também pode apresentar problemas a sua esposa em outros âmbitos: parte da estratégia de Trump para novembro consiste em criticar a personalidade de Hillary e, em particular, sua reação perante as infidelidades de seu marido.

E, ao mais puro estilo de Trump, nada está vetado nessa caçada: ele tachou o ex-presidente de "estuprador", em alusão à acusação de Juanita Broaddrick de que Clinton a violentou em 1978, algo que este nega desde que a denúncia foi feita, em 1999.

Segundo Arterton, no entanto, "a maioria dos eleitores" prefere não dar mais atenção à "libido de Bill", e em geral, o carismático ex-presidente apresenta mais elementos "positivos que negativos" à campanha de Hillary.

O que está claro é que a sombra da presidência de Bill Clinton será decisiva nas eleições de novembro e que, se o ex-presidente voltar à Casa Branca, será difícil mantê-lo longe do Salão Oval.

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Desde suas infidelidades até sua desregulação de Wall Street, o legado de Bill Clinton se transformou em um tema central na corrida à Casa Branca, e Hillary começou esta semana a definir seus planos para seu marido, empenhada em transformar em um ativo o que muitos veem como um empecilho.

"Já disse a meu marido que, se tiver a sorte de ser presidente e ele de ser o 'primeiro-cavalheiro', espero que ele se ponha a trabalhar para que os salários subam", disse Hillary em um ato de campanha na segunda-feira passada em Kentucky.

A favorita nas primárias democratas detalhou que a tarefa de seu marido será "revitalizar a economia" com foco nas áreas mais pobres do país, com a experiência de ter governado durante o período mais longo de crescimento econômico na história dos Estados Unidos.

Embora tenha esclarecido que Bill Clinton não faria parte de seu gabinete, não está claro como o ex-presidente seria encaixado no esquema econômico tradicional do governo americano, que inclui o Departamento do Tesouro e o Conselho de Assessores Econômicos.

"Esta nomeação como 'czar econômico' poderia certamente complicar a relação da Casa Branca com as agências e funcionários do gabinete encarregados da economia", declarou à Agência Efe Anita McBride, que foi chefe de gabinete de Laura Bush e estuda o legado das primeiras-damas para a American University.

Encarregar o cônjuge do presidente de um papel-chave em uma área política destacada envolve riscos, segundo Christopher Arterton, professor de gestão política na Universidade de George Washington.

"Quando Bill Clinton foi eleito e pôs Hillary a cargo de seu plano de saúde, houve todo tipo de críticas, as pessoas perguntavam quem a havia escolhido", lembrou Arterton à Efe.

"Algumas (críticas) eram hipócritas, porque o presidente pode se apoiar em muitos assessores que não são escolhidos nas urnas. Mas algo havia de verdade nessa sensação de que o cônjuge do presidente não é o mesmo que um assessor normal", acrescentou.

Se esse cônjuge é, além disso, um ex-presidente, e um tão ambicioso como Bill Clinton, a situação pode se tornar ainda mais incômoda para os demais assessores.

O colunista do jornal "Washington Post", Paul Waldman, resume assim a situação: "Alguém pode imaginá-lo ligando para o secretário do Tesouro ou o presidente do Conselho de Assessores Econômicos a qualquer hora do dia ou da noite" para compartilhar suas ideias.

"Teriam que responder a ligação e levá-la a sério, porque um presidente deve ser escutado. Uma vez que comece a defender uma medida em particular, todo o mundo saberá, e isso lhe dará peso nas deliberações do governo", escreveu Waldman.

Para Arterton, no entanto, Hillary Clinton não pode ter um ex-presidente na ala leste da Casa Branca e não lhe dar "uma série de responsabilidades claramente definidas".

"Acredito que, dentro da área limitada (da economia), os membros da Administração darão por certo que Bill fala em nome da presidente, portanto não espero que haja mais conflito" do que normalmente surge entre a Casa Branca e outras agências, opinou.

Mas há outro potencial problema para Bill: os desafios econômicos dos Estados Unidos são agora muito diferentes do que os da década de 90, e os eleitores democratas rejeitam dois princípios básicos de sua presidência: o estímulo ao livre-comércio e as medidas de desregulação de Wall Street.

Trump tomou nota disso e recentemente lançou uma pergunta a seus seguidores no Twitter: "Como pode a desonesta Hillary pôr seu marido a cargo da economia quando foi responsável pelo NAFTA (sigla em inglês de Tratado de Livre-Comércio da América do Norte), o pior acordo econômico na história dos EUA?".

Bill Clinton também pode apresentar problemas a sua esposa em outros âmbitos: parte da estratégia de Trump para novembro consiste em criticar a personalidade de Hillary e, em particular, sua reação perante as infidelidades de seu marido.

E, ao mais puro estilo de Trump, nada está vetado nessa caçada: ele tachou o ex-presidente de "estuprador", em alusão à acusação de Juanita Broaddrick de que Clinton a violentou em 1978, algo que este nega desde que a denúncia foi feita, em 1999.

Segundo Arterton, no entanto, "a maioria dos eleitores" prefere não dar mais atenção à "libido de Bill", e em geral, o carismático ex-presidente apresenta mais elementos "positivos que negativos" à campanha de Hillary.

O que está claro é que a sombra da presidência de Bill Clinton será decisiva nas eleições de novembro e que, se o ex-presidente voltar à Casa Branca, será difícil mantê-lo longe do Salão Oval.

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