Hezbollah caminha para vitória em eleições legislativas no Líbano
Movimento político sunita, do qual participa o primeiro-ministro Saad Hariri, perdeu cadeiras no Parlamento após eleição com baixo engajamento da população
AFP
Publicado em 7 de maio de 2018 às 20h42.
O movimento xiita Hezbollah segue à frente nas eleições legislativas no Líbano , as primeiras em quase uma década, enquanto o primeiro-ministro sunita, Saad Hariri, e seu partido surgem como os perdedores - apontam as primeiras estimativas dos movimentos políticos.
Hariri anunciou que seu movimento político sunita perdeu um terço de suas cadeiras no Parlamento. Ele indicou que os resultados, que ainda não foram anunciados oficialmente, dão a seu Movimento Futuro 21 cadeiras do total de 128 do Parlamento. Na legislatura anterior, tinham 33.
Por sua vez, o Hezbollah celebrou uma "grande vitória" nas eleições legislativas.
"Há uma grande vitória moral e política pela escolha da resistência", declarou Hassan Nasrallah, o líder desse movimento aliado ao Irã, durante um discurso transmitido pela televisão, sem divulgar ainda o número de cadeiras que teriam sido obtidas por seu partido e por seus aliados.
Os resultados da eleição devem ser oficializados ainda hoje.
Realizadas no domingo, as eleições foram marcadas pela baixa participação, que chegou a 49,2%, contra os 54% de 2009, e pela emergência de candidatos da sociedade civil que desafiaram a oligarquia política tradicional e que podem ter conseguido algumas cadeiras.
A política sectária de distribuição do poder no Líbano implica que nenhuma aliança do Parlamento de 128 cadeiras gozará de uma maioria estável. Muito popular em seus bastiões, o Hezbollah parece, porém, consolidar sua posição em favor das alianças que poderá selar, ou renovar.
Horas depois de iniciada a apuração, as estimativas do partido xiita indicam que o movimento se impôs em quase todas as circunscrições nas quais tinha candidatos.
Os resultados oficiais serão anunciados ao longo do dia, mas essas primeiras tendências deixam transparecer que o Hezbollah deve, junto com seus aliados, poder compor mais facilmente uma maioria sobre temas-chave. Entre eles, o das armas, das quais nunca se desfez desde a guerra civil (1975-1990).
A ONU disse que espera "a formação rápida de um governo" e chamou "os atores políticos libaneses" a manter uma atitude responsável nos próximos dias para proteger a estabilidade do país.
Em um contexto de fortes tensões regionais pelo papel do Irã, principal base de sustentação do movimento xiita, "o Hezbollah aparece em boa situação para ter maior influência no processo decisório" no Líbano, disse à AFP o cientista político Karim el-Mufti.
Hariri perdedor
O primeiro-ministro sunita, Saad Hariri, principal figura do grupo rival, e seu partido Corrente do Futuro estão entre os perdedores dessas legislativas.
Apoiada pela Arábia Saudita, a sigla "perderia algumas cadeiras", afirmou El Mufti, acrescentando que sua recondução ao cargo de chefe de governo "não está ameaçada".
Esse revés acontece seis meses depois de sua rocambolesca renúncia de Riad. Inconformada com os compromissos do premiê com o Hezbollah iraniano, a Arábia Saudita deixou, finalmente, o filho do ex-premiê assassinado Rafic Hariri voltar para o Líbano.
Em Beirute, o novo equilíbrio de forças no Parlamento deixaria o Partido Cristão, do presidente Michel Aoun, com o papel de árbitro.
"O maior ator será o grupo do presidente Aoun, que ficará entre os blocos não alinhados, e o Hezbollah se beneficiará, com isso, da ausência de uma ampla coalizão" opositora, explicou o cientista político Imad Salamey.
Criado nos anos 1980, no fragor da revolução islâmica iraniana para lutar contra Israel, o Hezbollah combate atualmente na Síria ao lado do governo de Bashar al-Assad.
As últimas legislativas no Líbano foram em 2009. Depois disso, o Parlamento prorrogou três vezes seu mandato, alegando riscos de segurança vinculados à guerra na Síria.
No domingo, as cédulas usadas parecem ter confundido alguns eleitores. Alguns também disseram ter se decepcionado com a enorme rede de alianças eleitorais, que faz alguns partidos trabalharem juntos em alguns distritos e competirem em outros.
Apesar da baixa participação, levando-se em conta que esse pleito recebeu cerca de 800.000 novos eleitores, a nova lei permite que pequenos partidos apoiados pela sociedade civil possam entrar no Parlamento.
Duas mulheres - a jornalista de televisão Paula Yacoubian e a escritora Joumana Haddad - estão posicionadas para obter uma cadeira no Parlamento. Em suas candidaturas, as duas defenderam que se desafie as dinastias políticas, as quais ambas consideram corruptas.