Habitantes de Fallujah têm medo de retornar à cidade
As autoridades iraquianas disseram que a cidade tinha sofrido pouca destruição, insistindo na possibilidade de milhares de civis deslocados retornarem para casa
Da Redação
Publicado em 28 de junho de 2016 às 12h58.
Quando seu filho de 5 anos lhe pediu que o matasse porque não aguentava mais sentir fome, Umm Essam sentiu que nunca poderia voltar a Fallujah se conseguisse fugir da cidade iraquiana .
No domingo, as forças iraquianas recuperaram o controle da cidade localizada a cerca de 50 km de Bagdá , expulsando os últimos combatentes do grupo Estado Islâmico (EI) após mais de um mês de combates.
As autoridades iraquianas disseram que a cidade tinha sofrido pouca destruição, insistindo na possibilidade de milhares de civis deslocados como Um Issam e sua família de retornar para casa.
Mas a libertação de Fallujah não poderá apagar as cicatrizes profundas de seus habitantes, submetidos por mais de dois anos ao reinado tirânico do EI, e depois, vítimas do cerco e privados de comida na batalha travada pelas forças pró-governo.
Depois de tanto sofrimento, Uum Issam, de 42 anos, acredita que ela nunca poderá ser feliz em sua cidade.
"Meu filho me pediu para matá-lo porque ele estava com tanta fome que não conseguia aguentar (...) Meu Deus, você pode imaginar, isso é o que ele me disse, e ele tem cinco anos! ", conta ela, balançando a cabeça como se quisesse apagar esta memória.
Poucos meses antes, ela abortou, após entrar em pânico pelo bombardeio aéreo de um edifício vizinho ao hospital onde estava.
"Perdi meus gêmeos (...) Fui ao hospital porque não tinha mais comida para os meus filhos", relata, segurando a mão de um de seus nove filhos.
Lembranças ruins
Atrás dela, no campo de deslocados de Amriyat al-Fallujah, o Conselho Norueguês de Refugiados distribui kits básicos para os recém-chegados.
Cada família recebe uma tenda com seis colchões, utensílios para cozinhar, lâmpada de acampamento, uma lona e uma garrafa de água.
"É muito quente aqui, há muita poeira e não tem comida suficiente ou água, mas podemos sobreviver", diz Umm Issa.
"Eu não quero voltar para Fallujah. Sofremos muito lá. Com os americanos, a Al-Qaeda, o Daesh (sigla em árabe do EI), a fome", enumera, referindo-se aos combates mortais em Fallujah em 2004 entre a Al-Qaeda e os militares americanos.
"Eu não sei o que vai acontecer, mas esta cidade é amaldiçoada e eu não quero voltar"
Desde que fugiu de Fallujah, em 16 de junho, ela continua a esperar por seu marido, detido pelas forças iraquianas como milhares de pessoas fugindo da cidade, para verificação.
Como as operações militares continuam em torno de Fallujah para proteger a área, a crise humanitária está se tornando mais aguda e o número de deslocados continua a crescer.
As organizações humanitárias temem um desastre, enquanto as temperaturas ultrapassam os 45 graus.
Dez dias após sua chegada, a família Kefieh Saleh ainda não recebeu tenda ou colchão para dormir. "Meu marido ajuda as pessoas no campo a montar suas tendas, mas nós não temos uma", afirma.
Medo
Ela e seus filhos dormem no chão de uma mesquita pré-fabricada. Apesar da fuga dos extremistas, a família tem medo de voltar para sua casa na área de Saqlawiya, a noroeste de Fallujah.
"Não é seguro e eu não acho que vai melhorar", observa Kefieh.
O premiê iraquiano, Haider al-Abadi, reconheceu no domingo, durante seu discurso de vitória em Fallujah que uma grande tarefa de desminagem é necessária antes que os civis possam retornar.
O medo da violência sectária também desencoraja os deslocados a voltar para casa. De maioria sunita, os moradores relataram abusos por parte das milícias xiitas que participaram da retomada de Fallujah.
"Muitos homens desapareceram, alguns de nossos vizinhos foram mortos pelos al-Hachd Chaabi", as unidades paramilitares xiitas de mobilização popular, diz Kefieh.
Testemunhas, autoridades locais, bem como organizações de direitos humanos relataram abusos por parte das milícias no início da ofensiva.
"Deus é minha testemunha, eu não vou voltar. Eu vou encontrar um outro lugar onde estaremos seguros, talvez Erbil ou Sulaymaniyah no Curdistão", conclui.
Quando seu filho de 5 anos lhe pediu que o matasse porque não aguentava mais sentir fome, Umm Essam sentiu que nunca poderia voltar a Fallujah se conseguisse fugir da cidade iraquiana .
No domingo, as forças iraquianas recuperaram o controle da cidade localizada a cerca de 50 km de Bagdá , expulsando os últimos combatentes do grupo Estado Islâmico (EI) após mais de um mês de combates.
As autoridades iraquianas disseram que a cidade tinha sofrido pouca destruição, insistindo na possibilidade de milhares de civis deslocados como Um Issam e sua família de retornar para casa.
Mas a libertação de Fallujah não poderá apagar as cicatrizes profundas de seus habitantes, submetidos por mais de dois anos ao reinado tirânico do EI, e depois, vítimas do cerco e privados de comida na batalha travada pelas forças pró-governo.
Depois de tanto sofrimento, Uum Issam, de 42 anos, acredita que ela nunca poderá ser feliz em sua cidade.
"Meu filho me pediu para matá-lo porque ele estava com tanta fome que não conseguia aguentar (...) Meu Deus, você pode imaginar, isso é o que ele me disse, e ele tem cinco anos! ", conta ela, balançando a cabeça como se quisesse apagar esta memória.
Poucos meses antes, ela abortou, após entrar em pânico pelo bombardeio aéreo de um edifício vizinho ao hospital onde estava.
"Perdi meus gêmeos (...) Fui ao hospital porque não tinha mais comida para os meus filhos", relata, segurando a mão de um de seus nove filhos.
Lembranças ruins
Atrás dela, no campo de deslocados de Amriyat al-Fallujah, o Conselho Norueguês de Refugiados distribui kits básicos para os recém-chegados.
Cada família recebe uma tenda com seis colchões, utensílios para cozinhar, lâmpada de acampamento, uma lona e uma garrafa de água.
"É muito quente aqui, há muita poeira e não tem comida suficiente ou água, mas podemos sobreviver", diz Umm Issa.
"Eu não quero voltar para Fallujah. Sofremos muito lá. Com os americanos, a Al-Qaeda, o Daesh (sigla em árabe do EI), a fome", enumera, referindo-se aos combates mortais em Fallujah em 2004 entre a Al-Qaeda e os militares americanos.
"Eu não sei o que vai acontecer, mas esta cidade é amaldiçoada e eu não quero voltar"
Desde que fugiu de Fallujah, em 16 de junho, ela continua a esperar por seu marido, detido pelas forças iraquianas como milhares de pessoas fugindo da cidade, para verificação.
Como as operações militares continuam em torno de Fallujah para proteger a área, a crise humanitária está se tornando mais aguda e o número de deslocados continua a crescer.
As organizações humanitárias temem um desastre, enquanto as temperaturas ultrapassam os 45 graus.
Dez dias após sua chegada, a família Kefieh Saleh ainda não recebeu tenda ou colchão para dormir. "Meu marido ajuda as pessoas no campo a montar suas tendas, mas nós não temos uma", afirma.
Medo
Ela e seus filhos dormem no chão de uma mesquita pré-fabricada. Apesar da fuga dos extremistas, a família tem medo de voltar para sua casa na área de Saqlawiya, a noroeste de Fallujah.
"Não é seguro e eu não acho que vai melhorar", observa Kefieh.
O premiê iraquiano, Haider al-Abadi, reconheceu no domingo, durante seu discurso de vitória em Fallujah que uma grande tarefa de desminagem é necessária antes que os civis possam retornar.
O medo da violência sectária também desencoraja os deslocados a voltar para casa. De maioria sunita, os moradores relataram abusos por parte das milícias xiitas que participaram da retomada de Fallujah.
"Muitos homens desapareceram, alguns de nossos vizinhos foram mortos pelos al-Hachd Chaabi", as unidades paramilitares xiitas de mobilização popular, diz Kefieh.
Testemunhas, autoridades locais, bem como organizações de direitos humanos relataram abusos por parte das milícias no início da ofensiva.
"Deus é minha testemunha, eu não vou voltar. Eu vou encontrar um outro lugar onde estaremos seguros, talvez Erbil ou Sulaymaniyah no Curdistão", conclui.