Guerra contra as drogas nos EUA tem seus efeitos colaterais
No Congresso, Campbell pediu aos legisladores para mudar o rumo das prisões saturadas do país e reduzir o tempo em prisão dos condenados por tráfico de drogas
Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2015 às 09h54.
Washington - Quando, há 40 anos, os Estados Unidos pegaram em armas contra as drogas , os criminosos do varejo e dos becos sofreram o castigo desproporcional de uma guerra cega, cujos efeitos colaterais têm rostos como o de Debi Campbell, presa durante 16 anos por vender metanfetaminas.
"Merecia ir a prisão. Rompi a lei e, o mais importante, precisava ir para a prisão porque desesperadamente necessitava algo que me despertasse. Mas não precisava de 20 anos para aprender a lição", considerou Campbell, em liberdade desde 2010 e que transformou seu castigo na fonte de um ferrenho ativismo político.
Com voz firme, esta semana durante uma audiência no Congresso, Campbell pediu aos legisladores para mudar o rumo das prisões saturadas do país e reduzir o tempo em prisão dos condenados por tráfico de drogas, entre os quais se encontram majoritariamente afro-americanos e latinos.
Quando os rios de seringas e balas corriam pelas ruas dos EUA na década de 80, o Congresso aprovou uma lei para que os peões das esquinas e os reis do narcotráfico tivessem que cumprir um tempo mínimo em prisão sem importar se tinham vendido 280 gramas ou cinco quilos de heroína.
"Era viciada em metanfetamina. Comecei a vender para outros para poder fazer dinheiro. Não era um chefão das drogas nem um grande fabricante. Não estava sendo uma boa mãe, me tiraram a custódia das minhas filhas e imaginei que fazer mais dinheiro era uma forma de ter um lar e poder recuperá-las", relatou Campbell à Efe.
"Errei e aprendi com meus erros", acrescentou a mulher, de 60 anos, com quatro filhas e para a qual restam três matérias para acabar um dos dois cursos universitários que começou quando estava atrás das grades e passava as horas com revistas e cartas.
Pequenos traficantes como Campbell foram os vencidos da luta implacável contra as drogas, e os vencedores, as empresas privadas que tiraram proveito do aumento das taxas de encarceramento que transformam os EUA no país com mais pessoas atrás das grades do mundo, acima da China.
Com o objetivo de fazer o governo mudar de posição, legisladores republicanos e democratas apresentaram este mês no Congresso um novo projeto de lei para reduzir a extensão das penas por drogas e acabar com as penas perpétuas que a Justiça impõe a quem comete três destes crimes.
No entanto, as grandes companhias carcerárias como Corrections Corporation of America (CCA), GEO Group e Management and Training Corporation (MTC) já estão buscando novas formas de se beneficiar da reforma criminal, disse à Efe Benjamin Davis, do grupo In the Public Interest (ITPI), entidade civil com sede em Washington.
Por exemplo, segundo esta associação, em 2011, o GEO Group, que controla 66 prisões, comprou a companhia BI Incorporated (BI), que se dedica a produzir tornozeleiras eletrônicas que permitem controlar por GPS os condenados, em vez de encarcerá-los.
As companhias carcerárias, famosas pelas multimilionárias doações a congressistas, asseguram seu lucro graças a uma cota mínima de ocupação estipulada com o governo que lhes garante que, seja qual for a taxa de criminalidade, em suas camas dormirão um determinado número de réus.
A fim de transformar a reforma penal no selo da política interna de seu segundo mandato, o presidente dos EUA, Barack Obama, empreendeu uma campanha de pressão que o levou a defender o movimento "Black Lives Matter" ("As vidas negras importam"), surgido após a morte de afro-americanos por disparos de policiais brancos.
Transformado no presidente negro que alguns temiam e outros estavam esperando, Obama pôs rosto, afro-americano e latino, aos prejudicados na tenebrosa guerra contra as drogas que ficaram presos por tempos desproporcionais ou cresceram sem as histórias de seus pais antes de dormir.
"É difícil desempenhar o papel de pai durante um telefonema de 15 minutos por dia. Não houve mais histórias para as meninas, não houve ajuda com suas tarefas, nem reuniões de pais e professores na escola. Perdi muito e agora tenho muito que compensar", reconheceu Campbell, que conseguiu reduzir sua pena de 19 para 16 anos.
Quando saiu da prisão em 2010 e viu, pela primeira vez, que todo mundo pagava com cartões de crédito, Campbell sentiu que o tempo tinha lhe escorrido entre os dedos e decidiu defender as centenas de mulheres que, como ela, desconheciam os altos castigos que a Justiça impunha a que lidavam com drogas.
"Esta reforma deve ser só o começo", disse Campbell para o sério grupo de congressistas que têm o poder de acabar com a guerra antidrogas e assinar a paz com companhias carcerárias preparadas para enfiar nos bolsos dos políticos muitas "verdinhas".
Que pedirão em troca? Nos acordos de paz, como nas guerras, também há "efeitos colaterais".
Washington - Quando, há 40 anos, os Estados Unidos pegaram em armas contra as drogas , os criminosos do varejo e dos becos sofreram o castigo desproporcional de uma guerra cega, cujos efeitos colaterais têm rostos como o de Debi Campbell, presa durante 16 anos por vender metanfetaminas.
"Merecia ir a prisão. Rompi a lei e, o mais importante, precisava ir para a prisão porque desesperadamente necessitava algo que me despertasse. Mas não precisava de 20 anos para aprender a lição", considerou Campbell, em liberdade desde 2010 e que transformou seu castigo na fonte de um ferrenho ativismo político.
Com voz firme, esta semana durante uma audiência no Congresso, Campbell pediu aos legisladores para mudar o rumo das prisões saturadas do país e reduzir o tempo em prisão dos condenados por tráfico de drogas, entre os quais se encontram majoritariamente afro-americanos e latinos.
Quando os rios de seringas e balas corriam pelas ruas dos EUA na década de 80, o Congresso aprovou uma lei para que os peões das esquinas e os reis do narcotráfico tivessem que cumprir um tempo mínimo em prisão sem importar se tinham vendido 280 gramas ou cinco quilos de heroína.
"Era viciada em metanfetamina. Comecei a vender para outros para poder fazer dinheiro. Não era um chefão das drogas nem um grande fabricante. Não estava sendo uma boa mãe, me tiraram a custódia das minhas filhas e imaginei que fazer mais dinheiro era uma forma de ter um lar e poder recuperá-las", relatou Campbell à Efe.
"Errei e aprendi com meus erros", acrescentou a mulher, de 60 anos, com quatro filhas e para a qual restam três matérias para acabar um dos dois cursos universitários que começou quando estava atrás das grades e passava as horas com revistas e cartas.
Pequenos traficantes como Campbell foram os vencidos da luta implacável contra as drogas, e os vencedores, as empresas privadas que tiraram proveito do aumento das taxas de encarceramento que transformam os EUA no país com mais pessoas atrás das grades do mundo, acima da China.
Com o objetivo de fazer o governo mudar de posição, legisladores republicanos e democratas apresentaram este mês no Congresso um novo projeto de lei para reduzir a extensão das penas por drogas e acabar com as penas perpétuas que a Justiça impõe a quem comete três destes crimes.
No entanto, as grandes companhias carcerárias como Corrections Corporation of America (CCA), GEO Group e Management and Training Corporation (MTC) já estão buscando novas formas de se beneficiar da reforma criminal, disse à Efe Benjamin Davis, do grupo In the Public Interest (ITPI), entidade civil com sede em Washington.
Por exemplo, segundo esta associação, em 2011, o GEO Group, que controla 66 prisões, comprou a companhia BI Incorporated (BI), que se dedica a produzir tornozeleiras eletrônicas que permitem controlar por GPS os condenados, em vez de encarcerá-los.
As companhias carcerárias, famosas pelas multimilionárias doações a congressistas, asseguram seu lucro graças a uma cota mínima de ocupação estipulada com o governo que lhes garante que, seja qual for a taxa de criminalidade, em suas camas dormirão um determinado número de réus.
A fim de transformar a reforma penal no selo da política interna de seu segundo mandato, o presidente dos EUA, Barack Obama, empreendeu uma campanha de pressão que o levou a defender o movimento "Black Lives Matter" ("As vidas negras importam"), surgido após a morte de afro-americanos por disparos de policiais brancos.
Transformado no presidente negro que alguns temiam e outros estavam esperando, Obama pôs rosto, afro-americano e latino, aos prejudicados na tenebrosa guerra contra as drogas que ficaram presos por tempos desproporcionais ou cresceram sem as histórias de seus pais antes de dormir.
"É difícil desempenhar o papel de pai durante um telefonema de 15 minutos por dia. Não houve mais histórias para as meninas, não houve ajuda com suas tarefas, nem reuniões de pais e professores na escola. Perdi muito e agora tenho muito que compensar", reconheceu Campbell, que conseguiu reduzir sua pena de 19 para 16 anos.
Quando saiu da prisão em 2010 e viu, pela primeira vez, que todo mundo pagava com cartões de crédito, Campbell sentiu que o tempo tinha lhe escorrido entre os dedos e decidiu defender as centenas de mulheres que, como ela, desconheciam os altos castigos que a Justiça impunha a que lidavam com drogas.
"Esta reforma deve ser só o começo", disse Campbell para o sério grupo de congressistas que têm o poder de acabar com a guerra antidrogas e assinar a paz com companhias carcerárias preparadas para enfiar nos bolsos dos políticos muitas "verdinhas".
Que pedirão em troca? Nos acordos de paz, como nas guerras, também há "efeitos colaterais".