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Grécia tenta encher poço sem fundo para sair da crise

País negocia com seus credores como diminuir o déficit do país; mercado aposta em atraso nos pagamentos

Protesto em Atenas, na Grécia: país poderá aumentar ainda mais os esforços de austeridade (Aris Messinis/AFP)

Protesto em Atenas, na Grécia: país poderá aumentar ainda mais os esforços de austeridade (Aris Messinis/AFP)

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Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2011 às 17h57.

Atenas - Os credores da Grécia examinaram nesta quarta-feira em Atenas com o governo as perspectivas orçamentárias até 2015, diante da pressão de parte dos mercados, que aposta abertamente em um default do pagamento do país, apesar dos desmentidos oficiais.

Como na mitologia grega, quando as Danaides, as 50 filhas do rei Dânao, são condenadas no Inferno a encher sem parar um tonel sem fundo depois de terem matado seus maridos, o governo grego parece condenado a aumentar o esforço de austeridade para atingir a meta estabelecida: um déficit reduzido a 1% do PIB em 2015, contra cerca de 10% em 2010.

O tamanho do déficit orçamentário da Grécia para 2010 será revisado para cima, após a descoberta de um rombo de 500 milhões de euros nas contas da previdência social, em vez de um excedente de 900 milhões previsto, segundo a imprensa.

O governo grego já reconheceu que o déficit de 2010 será superior a 9,4% do PIB, como era esperado. Os números serão divulgados oficialmente pela Eurostat no dia 26 de abril.

Sem esperar por isso, as negociações desta quarta-feira com os três principais credores do país (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), "devem analisar o projeto de orçamento trienal", indicou à AFP uma fonte ministerial.

"O que deve ser feito é o mais difícil" comenta o economista Thibault Mercier (Paribas). "A Grécia fez muitos esforços para a recuperação, ela não pode continuar a ter que cortar despesas. É preciso gerar receitas, e esse é o principal desafio: arrecadar impostos, lutar contra a corrupção" comentou.

Diversas medidas são aguardadas, segundo o economista Platon Monokroussos (Eurobank): abolição das brechas fiscais, redução dos auxílios sociais ou a reforma salarial do funcionalismo público. Ele indicou que a taxa de substituição dos funcinários que se aposentam deverá passar de um para sete, em vez de um para cinco atualmente.

Resta saber se esse novo esforço será suficiente para que o país recupere a confiança dos mercados, que apostam em grande parte em uma nova restruturação inevitável da dívida pública, que deve superar 152% do PIB até o final do ano, apesar das medidas de suporte adotadas pela zona do euro.

Nem os desmentidos quase diários feitos pelo governo, nem o apoio do diretor-gerente do FMI quanto à vontade de Atenas de reembolsar integralmente a sua dívida parecem reduzir essas especulações.

Um porta-voz da Comissão tentou acalmar a situação nesta quarta-feira ao descartar uma restruturação e assegurar que Atenas está "nos trilhos" de seu plano de saneamento orçamentário.

O porta-voz da chanceler alemã Angela Merkel também assegurou que não acreditava em uma restruturação.

Enquanto a recessão asfixia a economia grega pelo terceiro ano consecutivo, a hipótese de uma restruturação estaria avançando até mesmo dentro do partido socialista, no governo.

Segundo a imprensa grega, a deputada Vasso Papandreou, um dos principais nomes do Pasok, surpreendeu os governistas na terça-feira à noite ao pedir que o governo tome a iniciativa de uma operação nesse sentido para limitar os danos.

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