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Governo Milei será sustentado por acordos políticos na Argentina

“Liberdade Avança” não formou coalizão e mergulhou em negociações frenéticas com aliados para montar novo Gabinete

Desafio de Milei será transformar 55% dos votos das urnas em uma nova maioria, que supere a oposição peronista e kirchnerista (Divulgação: Tomas Cuesta / Correspondente autônomo/Getty Images)

Desafio de Milei será transformar 55% dos votos das urnas em uma nova maioria, que supere a oposição peronista e kirchnerista (Divulgação: Tomas Cuesta / Correspondente autônomo/Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 10 de dezembro de 2023 às 09h32.

Antes do segundo turno presidencial, Javier Milei dizia que estava pronto para assumir o poder. Tudo o que ocorreu após o novo presidente da Argentina derrotar o peronista Sergio Massa nas urnas mostrou que as declarações de Milei não eram verdadeiras. Nas últimas três semanas, o fundador e líder do partido de ultradireita “Liberdade Avança” mergulhou em negociações frenéticas com novos aliados para formar seu Gabinete, mas não tem, ainda, uma coalizão de governo.

Os acordos selados por Milei com seus dois principais sócios políticos, o ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) e a ex-candidata presidencial Patricia Bullrich, permitiram-lhe preencher os principais cargos do novo governo, mas tiveram um alto custo político interno: a entrada em cena dos dois implicou na perda de espaço e poder por parte de aliados que foram fundamentais durante a campanha.

Vice escanteada

Uma das mais prejudicadas foi a vice-presidente Victoria Villarruel, que pretendia controlar as pastas de Segurança e Defesa, entregues por Milei a Bullrich e Luis Petri, ex-companheiro de chapa da ex-candidata presidencial. Na Argentina, os vices carecem de funções que representem uma real fonte de poder, e Villarruel pretendia compensar isso com forte influência nas áreas nas quais se especializou como advogada, e, também, nas que mais tem interesse por sua própria agenda política — que gira em torno de segurança e temas militares.

Milei, segundo fontes, ficou incomodado com recentes atitudes de sua vice, que foram interpretadas por ele como sinalizações de que Villarruel teria um projeto de poder próprio. Sem o controle de ministérios, ela será apenas presidente do Senado, como é praxe na Argentina, e com uma bancada minoritária, de oito senadores — de um total de 72 cadeiras.

“O governo de Milei não será uma coalizão, o que existem são acordos individuais”, afirma o deputado Pablo Torello, do Proposta Republicana (Pro), fundado por Macri.

Torello é um liberal e, como o ex-presidente, sempre defendeu uma aproximação com Milei. A ideia enfrentou resistências dentro da aliança Juntos pela Mudança, que, após a vitória do ultradireitista, entrou numa crise da qual parece difícil que consiga sair.

“Milei nunca pensou que ganharia a eleição e não tinha equipe para formar um governo. O Pro vai apoiar tudo o que considerar que deve ser apoiado”, afirma Torello, que está encerrando seu mandato como deputado e será um dos soldados da tropa de Macri encarregados de, em suas palavras, “formar uma nova frente política de centro-direita na Argentina”.

Já o ex-presidente Macri é visto como um consultor externo do novo governo.

“O ex-presidente dará sua opinião quando for solicitada”, diz o deputado.

Mas não está claro como funcionará, na prática, o acordo entre Milei, Macri e Bullrich. O que se sabe é que, sem ele e outros com setores do peronismo, o novo presidente não teria conseguido armar um Gabinete tido como viável pelo setor privado, pelo mercado e aliados internacionais.

Alguns dos peronistas que aceitaram o convite de Milei para unir-se a seu governo — como funcionários ou sócios políticos — foram o ex-governador de Córdoba e ex-candidato, Juan Schiaretti; o deputado e ex-ministro Florencio Randazzo; e o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli (que foi vice de Néstor Kirchner e governador da província de Buenos Aires), que continuará no posto.

Milei também é próximo de figuras que integraram os dois governos do presidente peronista de direita Carlos Menem (1989-1999), considerado por ele um dos melhores do país.

Dolarização perde força

Até o segundo turno, o economista de maior confiança de Milei era Emilio Ocampo, autor do plano de dolarização que o novo presidente dizia ter escolhido na campanha. Ocampo acreditava ter lugar garantido como futuro presidente do Banco Central, caso Milei vencesse. Poucos dias após obter 55% dos votos, no entanto, Milei se distanciou e recorreu ao economista Luis Caputo, diretor da empresa de consultoria Anker América Latina e presidente do Banco Central no governo Macri, para assumir a pasta econômica e armar uma equipe encarregada de controlar o BC.

Se poucas semanas antes o novo presidente dizia que a dolarização não era negociável, a realidade se impôs: Ocampo dançou e Caputo acompanhou Milei aos EUA, onde chefiou as primeiras conversas com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“A consultoria de Caputo está no comando e vai liderar uma operação de emergência. O objetivo é evitar o calote da dívida, hiperinflação e confiscos bancários”, afirma Diego Guelar, ex-embaixador no Brasil e assessor internacional de Macri. “O sistema político está passando por uma profunda transformação e não sabemos ainda como sairá dela. O desafio é construir uma nova maioria antiperonista.”

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