Um possível governo com Kirchner deve afastar Argentina do Brasil
Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como candidata a vice, obteve 47% do votos em prévias para as eleições de outubro
Da Redação
Publicado em 12 de agosto de 2019 às 06h35.
Última atualização em 12 de agosto de 2019 às 11h00.
São Paulo - A Argentina começa a semana em renovado clima de tensão política e econômica depois de o atual presidente, Mauricio Macri , ter sofrido uma estrondosa derrota nas primárias realizadas neste domingo (11).
Os eleitores foram às urnas, em votação obrigatória, escolher os cabeças de chapa para o pleito de 27 de outubro — mas, como os nomes já estavam definidos, tratou-se, na prática, de uma enorme pesquisa eleitoral a dois meses das eleições.
Alberto Fernández, da Frente de Todos, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como candidata a vice, obteve 47% do votos, uma vantagem de quase 15 pontos percentuais para Macri, da coalizão Juntos pela Mudança, que tinha 32% com 80% das urnas apuradas.
O presidente argentino tem o apoio de influentes políticos de direita, como do americano Donald Trump e do brasileiro Jair Bolsonaro , mas sofre com as reiteradas dificuldades econômicas do país.
A economia do país encolheu 2,5% em 2018 e deve recuar mais 1,5% este ano, com a inflação na casa dos 40%. Ciente de que suas medidas liberais não alcançaram os resultados econômicos desejados, Macri anunciou como vice de sua chapa o senador Miguel Ángel Pichetto, ex-aliado de Kirchner e um dos principais nomes do peronismo, em junho.
O resultado das urnas tende a levar instabilidade para os mercados. Macri é um aliado essencial do Brasil nas negociações para um acordo entre Mercosul e União Europeia, além de a Argentina ser historicamente um grande mercado comprador de produtos brasileiros — foram 15 bilhões de dólares em 2018. Num cenário de guerra comercial global, seria péssimo para o governo Bolsonaro ter um governo kirchnerista no poder.
Na terceira posição vem o ex-ministro Roberto Lavagna, do Consenso Federal, com 8%. Se repetir o desempenho em outubro, o candidato kircherista seria eleito em primeiro turno — para o que precida de 45% dos votos ou de 10 pontos de vantagem.
“Tivemos uma eleição ruim e isso nos obriga a redobrar os esforços para que em outubro consigamos o apoio necessário para continuar com a mudança”, disse Macri.
E bota ruim nisso. Analistas calculavam que uma diferença na casa dos cinco pontos percentuais a favor de Fernández seria administrável para Macri, que tende aglutinar votos dos eleitores de centro na reta final da campanha. Em relatório, o banco Goldman Sachs afirmou que uma diferença acima de 7 pontos poderia ser “um obstáculo insuperável”.
Para piorar a situação governista, o ex-ministro da Economia de Cristina, Axel Kicillof, venceu as prévias para a província de Buenos Aires. Após a confirmação dos resultados, Fernández afirmou que “nunca fomos loucos governando”, além de ter tratado de reduzir a polarização: “acabou o conceito de vingança”. Além disso, twitou agradecendo a Roberto Lavagna, cujos 8% conquistados são, agora, mais do que essenciais para Macri.