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Extrema direita alemã comemora 'vitória histórica' nas eleições regionais

Partido Alternativa para a Alemanha obteve ampla vitória na Turíngia e se aproxima dos conservadores na Saxônia, de acordo com as pesquisas de boca de urna

As eleições foram um teste nessas duas antigas regiões da Alemanha Oriental e foram realizadas em uma atmosfera particularmente tensa (Westend61/Getty Images)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 1 de setembro de 2024 às 16h25.

O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) venceu as eleições na Turíngia neste domingo e está na cola dos conservadores na vizinha Saxônia, um resultado sem precedentes desde o período pós-guerra e um golpe para o chanceler alemão, Olaf Scholz, de acordo com as pesquisas de boca de urna.

As eleições foram um teste nessas duas antigas regiões da Alemanha Oriental e foram realizadas em uma atmosfera particularmente tensa, mais de uma semana após o triplo assassinato a faca de um homem sírio em Solingen, no oeste do país. O ataque chocou a Alemanha e alimentou o debate sobre imigração.

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Na Turíngia, um dos menores estados federados da Alemanha, onde a extrema direita é liderada por Björn Höcke, uma de suas figuras mais radicais, a AfD obteve uma ampla vitória com 30,5% a 33,5% dos votos, à frente da conservadora CDU (24,5%), de acordo com as pesquisas iniciais no fechamento das seções eleitorais transmitidas pelas emissoras públicas ARD e ZDF.

"Estamos prontos para assumir as responsabilidades do governo", disse Höcke à televisão estatal. A vitória da AfD na Turíngia não tem precedentes no país desde o período pós-guerra, embora seja improvável que o partido lidere a região, já que os outros partidos rejeitam qualquer coalizão com a extrema direita.

A AfD recebeu um “mandato claro para governar”, disse o líder nacional do partido, Tino Chrupalla, que afirmou que a legenda estava disposta a “conversar com todos os partidos”, enquanto a vice-líder da Alternativa para a Alemanha, Alice Weidel, comemorou o “sucesso histórico”.

Na Saxônia, onde também foram realizadas eleições, o partido conservador CDU, da ex-chanceler Angela Merkel, tem uma ligeira vantagem com 31,7% dos votos, seguido de perto pela AfD, com 31,4%.

"Os eleitores sabem que não formaremos uma coalizão com o AfD", disse o secretário-geral da CDU, Carsten Linnemann, neste domingo, argumentando que seu partido deveria liderar as negociações para formar um governo.

Sanção ao governo de Scholz

O novo partido BSW, formado pela ex-figura da extrema esquerda Sahra Wagenknecht, teve um avanço espetacular, com 12% a 16% em ambas as regiões, e pode ser fundamental na futura formação de governos regionais.

Tanto a AfD quanto o BSW seduziram os eleitores com sua virulenta retórica anti-imigração e com seus apelos à suspensão do fornecimento de armas à Ucrânia, uma posição popular nessas regiões da antiga República Democrática da Alemanha, onde o medo da guerra ainda está profundamente enraizado.

Os primeiros resultados também confirmam um golpe no governo de coalizão do primeiro-ministro Olaf Scholz com os Verdes e o liberal FDP, um ano antes das eleições parlamentares de 2025.

O Partido Social Democrata (SPD) do chanceler, que já era altamente impopular em seu mandato anterior, obteve entre 6,5 e 8,5%. Por sua vez, os Verdes deixarão o Parlamento da Turíngia, e os liberais do FDP não estarão mais representados em nenhuma das assembleias regionais.

Esses estados federados, que no sistema alemão têm prerrogativas importantes em educação e segurança, poderiam ser governados por amplas alianças heterogêneas que associam a direita e a esquerda.

Os líderes da AfD procuraram capitalizar a raiva causada pelo ataque em Solingen e acusaram os sucessivos governos federais de semear o “caos”. O suposto agressor, suspeito de ter ligações com a organização jihadista Estado Islâmico (EI), escapou de uma decisão de expulsão.

Sob pressão, o governo de Olaf Scholz anunciou um endurecimento das regras sobre porte de armas e controle de imigração.

‘Mudanças extremas’

"É preciso haver mudanças extremas [na área de imigração e] isso seria possível com a AfD", declarou Jörg, um eleitor do partido de extrema direita que não quis informar seu sobrenome.

O funcionário de 54 anos da indústria alimentícia da cidade de Ilmenau, na Turíngia, diz que é a favor de mais expulsões de criminosos estrangeiros.

A AfD, uma sigla eurocética quando foi formada em 2013, radicalizou-se após a grande crise migratória de 2015, a pandemia de Covid-19 e depois a guerra russa na Ucrânia, que enfraqueceu a principal economia da Europa.

O partido obteve várias vitórias eleitorais nos últimos meses e obteve seu melhor resultado nas eleições europeias de 9 de junho.

A antiga RDA provou ser um terreno fértil para a AfD, principalmente devido às desigualdades que persistem desde a reunificação do país em 1990. A profunda crise demográfica também desempenha um papel importa.

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