Aleppo: estes movimentos ocorrem duas semanas após o governo anunciar uma operação para reconquistar o leste rebelde da cidade (Abdalrhman Ismail / Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de outubro de 2016 às 11h14.
As forças regulares sírias avançaram sobre o território controlado pelos rebeldes dentro de Aleppo nesta quinta-feira, reconquistando grandes setores na devastada cidade, horas após Damasco anunciar que reduziria os bombardeios.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), as tropas leais a Damasco controlam agora metade do distrito de Bustan al-Basha, perto do centro da cidade, dividida em setores controlados pelos rebeldes (leste) e pelas forças do governo (oeste).
"É o avanço de forças mais importante do regime em Aleppo desde 2013", disse o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Estes movimentos ocorrem duas semanas após o governo anunciar uma operação para reconquistar o leste rebelde da cidade, depois do colapso de uma última trégua negociada entre Estados Unidos e Rússia.
Esta ofensiva começou com intensos bombardeios aéreos e de artilharia pesada, que deixaram mais de 270 mortos, segundo o OSDH.
Na quarta-feira, o Exército sírio anunciou de surpresa que reduziria o bombardeios "após o êxito de nossas Forças Armadas em Aleppo e a interrupção de todas as vias de abastecimento terroristas nos distritos orientais" da cidade.
O OSDH, com sede em Londres, mas que conta com uma ampla rede de informantes na Síria, acrescentou que nesta quinta-feira ocorreram menos bombardeios aéreos, mas no setor de Bustan al-Basha havia importantes confrontos. O exército sírio controla vários pontos de entrada no setor e a metade do bairro, disse.
Aleppo, destruída até o fim do ano
A intensa ofensiva do regime para reconquistar Aleppo pode terminar destruindo totalmente a cidade até o fim do ano, advertiu nesta quinta-feira o enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.
"Em um máximo de dois meses, dois meses e meio, o leste de Aleppo pode ficar totalmente destruído", disse De Mistura à imprensa em Genebra.
Ele também convocou os 900 combatentes extremistas da organização Frente Fateh al-Sham (ex-frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda) a abandonar o leste de Aleppo, e se propôs a escoltá-los pessoalmente.
Os rebeldes sírios mantêm alianças de circunstância com grupos extremistas em seu combate ao governo. Segundo Moscou, a trégua do mês passado, que durou uma semana, fracassou porque Washington não cumpriu com sua parte do acordo: convocar os rebeldes a se afastar dos grupos extremistas.
Desde 22 de setembro, os intensos bombardeios nos bairros rebeldes desta cidade do norte da Síria destruíram infraestruturas civis, entre elas o principal hospital.
A ofensiva do regime foi denunciada pelas potências ocidentais, que responsabilizam a Rússia e evocam "crimes de guerra".
Washington decidiu suspender suas negociações com Moscou, que participa ativamente junto ao governo de Damasco da guerra na Síria.
"Contatos persistem" entre Rússia e EUA
No entanto, o secretário de Estado americano, John Kerry, e seu colega russo, Serguei Lavrov, conversaram na quarta-feira sobre a Síria.
As autoridades americanas se esforçaram para ressaltar que "as discussões bilaterais" estão suspensas. Mas que "os contatos persistem", declarou Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado.
Russos e americanos trabalham há vários meses para encontrar uma solução à guerra na Síria, onde o conflito provocou a pior crise humanitária após a Segunda Guerra Mundial, e deixou mais de 300.000 mortos desde que começou com protestos pacíficos duramente reprimidos, em 2011.
Neste contexto, o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Marc Ayrault, viajava nesta quinta-feira a Moscou e na sexta-feira a Washington para tentar obter apoio a um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU para um novo cessar-fogo em Aleppo.
Os 15 membros do Conselho estudam desde segunda-feira a proposta francesa, que também contempla a permissão ao acesso de ajuda humanitária aos bairros sitiados pelo regime, e a interrupção dos voos de aeronaves militares sobre a cidade, projeto que a Rússia já declarou que não apoia, ao considerá-lo "politizado".
Em outras regiões da Síria, ao menos 29 rebeldes morreram e 20 ficaram feridos nesta quinta-feira em uma explosão na província de Idleb (norte), na fronteira com a Turquia, segundo o OSDH.
O grupo extremista Estado Islâmico (EI), que controla muitas regiões no norte e no leste do país, reivindicou o ataque, segundo o centro americano de monitoramento de sites islamitas (SITE).
Os combatentes rebeldes atacados formam parte das forças que participam da operação "Escudo de Eufrates", lançada em 24 de agosto pela Turquia na província síria de Aleppo e dirigida contra o EI, mas também contra as forças curdas, consideradas terroristas por Ancara.