Exército se retira de aeroporto; Moscou quer cessar-fogo
Tropas ucranianas se retiraram do aeroporto de Lugansk, no momento em que Moscou exige um cessar-fogo imediato
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2014 às 13h21.
Donetsk - As tropas ucranianas se retiraram nesta segunda-feira do aeroporto de Lugansk, reduto dos separatistas pró- Rússia no leste do país, no momento em que Moscou exige que um cessar-fogo imediato e sem condições seja discutido nesta segunda-feira pelo grupo de contato em Minsk.
Esta retirada de Lugansk soma-se a uma série de derrotas do Exército ucraniano que, segundo jornalistas da AFP no local, parece ter abandonado uma vasta zona do sudeste da região de Donetsk, entre o reduto rebelde de Donetsk, a fronteira russa a leste e o porto estratégico de Maiupol ao sul, às margens do Mar de Azov, sem realmente combater as forças adversárias.
Também ocorre quando representantes da Ucrânia , da Rússia e da OSCE que formam o "grupo de contato" se reuniram na capital da Belarus, no dia seguinte às declarações de Vladimir Putin, sugerindo pela primeira vez a ideia de um status de soberania para as regiões rebeldes do leste. Também participa das discussões Andrei Purguine, vice-primeiro-ministro da República autoproclamada de Donetsk.
Kiev e o Ocidente acusam, com o apoio de fotografias de satélite, a Rússia de enviar tropas ao leste da Ucrânia, o que Moscou nega.
O ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, chegou a assegurar que não haveria "nenhuma intervenção militar russa" na Ucrânia e considerar que um "cessar-fogo imediato e incondicional" deve ser discutido nesta segunda-feira em Minsk.
Risco de uma grande guerra
O primeiro-ministro polonês Donald Tusk, escolhido para presidir o Conselho Europeu, alertou para os perigos de uma guerra "não apenas no leste da Ucrânia", em um discurso pronunciado na segunda desta segunda-feira, por ocasião das cerimônias que marcam o 75º aniversário da agressão da Alemanha nazista contra a Polônia, que começou a Segunda Guerra Mundial.
Por sua vez, Kiev informou sobre combates entre paraquedistas ucranianos e "um batalhão de tanques das forças armadas russas para defender o aeroporto de Lugansk"
No final da manhã, os militares ucranianos receberam a ordem e se retiraram do aeroporto de Lugansk e da localidade de Gueorguiivka, perto do aeroporto e a 18 km de Lugansk, segundo declarou o porta-voz militar Andrei Lysenko.
"Pela precisão dos disparos, são atiradores das Forças Armadas russas", disse.
O ministro da Defesa ucraniano Valeriy Gueleteï, afirmou no domingo à noite na televisão que as tropas russas também haviam aparecido em Donetsk, capital regional e reduto da rebelião pró-Rússia.
O conflito no leste da Ucrânia, que matou cerca de 2.600 pessoas desde meados de abril, atingiu uma nova etapa na semana passada, depois de relatos consistentes sobre a presença de tropas regulares russas na Ucrânia, mais de 1.000 segundo a Otan, 1.600, de acordo com Kiev.
Segundo a ONG russa Comitê das Mães de Soldados, até 15.000 soldados russos foram enviados à Ucrânia ao longo dos últimos dois meses, e centenas de pessoas foram mortas nos combates.
"A situação se agravou nos últimos dias, a Ucrânia enfrenta uma agressão direta e não mais dissimulada do Estado vizinho", afirmou nesta segunda-feira o presidente ucraniano Petro Poroshenko.
Perto de Donetsk, sinais de uma retirada das forças legalistas ucranianas aumentam, de acordo com um jornalista da AFP.
O posto de controle militar de Mariïnka, na saída oeste, não existia mais nesta segunda-feira. Perto de Berezové, ao sul do reduto separatista, um tanque do exército e dois veículos militares de transporte de tropas foram abandonadas.
No centro de Donetsk, nenhum bombardeio foi ouvido na noite.
Putin apela ao "bom senso"
Enquanto os insurgentes ganham terreno, Vladimir Putin defendeu no domingo pela primeira vez a "soberania" para as regiões separatistas.
A escalada ocorre antes de uma cúpula da Otan, nos dias 4 e 5 de setembro no Reino Unido, onde um encontro está previsto entre o presidente ucraniano e Barack Obama. Kiev reviveu seus planos de adesão à Otan e espera uma "ajuda prática" e "decisões cruciais" da Aliança no final do encontro.
A Comissão Europeia deve, por sua vez, começar nesta segunda-feira a trabalhar em novas sanções contra a Rússia.
Estas medidas devem ser apresentadas até o final da semana para os líderes europeus, que tomarão uma decisão "em função da evolução da situação no terreno".
O presidente russo Vladimir Putin apelou nesta segunda-feira para o "bom senso" e disse esperar que nem a Rússia nem a UE cause "danos com suas respectivas escolhas".
Diante dessa ameaça, a moeda russa caiu nesta segunda-feira a um novo recorde em relação ao dólar, valendo 37,30 rublos.