Para o ministro das Relações Exteriores da Guatemala, Carlos Ramiro Martínez, o trabalho temporário é uma "clara medida de ajuda" (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 18h03.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, reúne-se nesta quarta-feira, 28, com seus pares do México e Guatemala, em Washington, para abordar a migração irregular, uma das questões que mais preocupa os americanos a poucos meses das eleições presidenciais.
Uma funcionária americana que pediu anonimato afirmou que serão feitos anúncios, como a criação de "uma célula operacional" entre os três países para resolver os problemas migratórios. Também divulgarão que a Guatemala sediará a próxima reunião ministerial da Declaração de Los Angeles sobre Migração em abril, acrescentou a fonte.
O número recorde de migrantes e solicitantes de asilo que chegam aos Estados Unidos se tornou uma dor de cabeça para o presidente democrata Joe Biden, a quem os republicanos acusam de não fazer o suficiente para resolver esta questão.
Desde janeiro de 2023, a patrulha fronteiriça dos Estados Unidos já interceptou mais de 2,7 milhões de migrantes em situação irregular na fronteira com o México, dos quais mais de 800 mil eram mexicanos e mais de 285 mil, guatemaltecos, segundo dados oficiais.
O governo Biden permanece em contato constante com seu vizinho do sul e está convencido de que a recém-chegada ao poder do progressista Bernardo Arévalo na Guatemala será uma grande ajuda.
No início da reunião, Blinken afirmou que "os países de origem, de trânsito, de destino devem trabalhar juntos porque nenhum país por si só pode enfrentar este desafio de forma eficaz".
"Esta particularidade geográfica nos coloca como países que enfrentam a maioria das fases do ciclo migratório", concordou a chanceler mexicana, Alicia Bárcena. Por isso, as delegações destes três Estados examinarão as causas da migração, como a corrupção, que Arévalo prometeu combater.
Bárcena insistiu na busca por soluções "com um olhar mais regional", uma vez que permitem desenvolver "uma espécie de modelo único de migração" que possa servir "até para outras regiões do mundo".
"Nós vemos os migrantes como pessoas em mobilidade laboral" que "buscam oportunidades" e para transformá-los em uma opção, "temos que nos direcionar às causas profundas", à raiz, disse ela, afirmando que buscam fortalecer vias regulares para que estas pessoas "encontrem" as oportunidades.
O governo Biden criou uma série de "vias legais" para imigrar aos Estados Unidos, como a possibilidade de marcar entrevistas através de um aplicativo de celular (CBP One), realizar os trâmites nos países por onde os migrantes passam ou solicitar permissões humanitárias e de reagrupamento familiar.
Estas vias incluem vistos de trabalho, que são muito importantes tanto para o governo do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador quanto para Arévalo.
Para o ministro das Relações Exteriores da Guatemala, Carlos Ramiro Martínez, o trabalho temporário é uma "clara medida de ajuda".
"Raízes, causas, talvez sejam palavras que acrescentamos a uma palavra que resume tudo o que é desenvolvimento, que é o que não temos", declarou.
A Guatemala tem uma "dívida social acumulada ao longo de décadas" e mesmo que se faça um esforço nos próximos quatro anos, "não corrigirá este cenário, se não lançar bases para que um novo país seja construído", analisou, reconhecendo que o Estado tem a obrigação de "gerar e oferecer oportunidades" para que as pessoas "não migrem".
A reunião acontece um dia antes de Biden e Donald Trump, seu possível rival nas eleições de novembro, viajarem até a fronteira com o México para discutir a crise migratória.
O México, cujas eleições acontecem em junho, exige insistentemente a regularização de milhões de migrantes que vivem nos Estados Unidos, uma das promessas de campanha do atual presidente americano que nunca se concretizou devido à oposição republicana.
Estes últimos fizeram da crise migratória sua principal bandeira, ao ponto de condicionarem a ajuda militar à Ucrânia a uma política mais dura nesta questão.
Biden cedeu e negociou durante meses um projeto de lei de imigração que não foi aprovado porque a Câmara dos Representantes, de maioria republicana, o considera muito fraco.
Isto permite proibir temporariamente que pessoas peçam asilo quando a fronteira com o México estiver sobrecarregada e endurece o padrão de entrevistas em que se avalia se existe a possibilidade de a pessoa ser perseguida ou torturada caso retorne a seu país.