EUA e UE pedem desescalada imediata na tensa fronteira Sérvia-Kosovo
A medida foi tomada por Kosovo depois de os sérvios erguerem barricadas no local, em uma das piores crises da região nos últimos anos
AFP
Publicado em 28 de dezembro de 2022 às 14h31.
Última atualização em 28 de dezembro de 2022 às 14h58.
União Europeia e Estados Unidos pediram, nesta quarta-feira, 28, que Kosovo e Sérvia tomem medidas "imediatas" para reduzir as tensões em meio aos crescentes distúrbios em sua região fronteiriça.
"Pedimos a todos que exerçam moderação máxima, que tomem medidas imediatas para reduzir, incondicionalmente, a situação e que se abstenham de provocações, ameaças, ou intimidações", disseram UE e Estados Unidos em uma declaração conjunta, após Kosovo fechar sua maior passagem fronteiriça com o vizinho do norte.
"Estamos trabalhando com o presidente [ sérvio Aleksandar ] Vucic e com o primeiro-ministro [ kosovar Albin ] Kurti para encontrar uma solução política para aliviar as tensões e conseguir um avanço, visando à estabilidade, à segurança e ao bem-estar de todas as populações locais", reforçaram.
A Rússia afirmou, por sua vez, que "apoia" as ações da Sérvia para acabar com as tensões.
"Temos relações de aliados muito estreitas, históricas e espirituais com a Sérvia", declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à imprensa.
A medida foi tomada por Kosovo depois de os sérvios erguerem barricadas no local, em uma das piores crises da região nos últimos anos.
O norte do Kosovo se encontra mergulhado em uma crise desde novembro, quando centenas de policiais, juízes e fiscais servo-kosovares abandonaram seus postos em protesto por uma polêmica decisão de proibir os sérvios que vivem no Kosovo de usarem placas de matrículas de veículos emitidas por Belgrado.
Diante da pressão, a medida foi descartada por Pristina.
Em 10 de dezembro, esses trabalhadores instalaram barricadas que paralisaram o trânsito em duas passagens de fronteira.
Depois disso, a polícia kosovar e agentes das forças internacionais de manutenção da paz foram alvo de vários ataques com armas de fogo. Ao mesmo tempo, a Sérvia colocou suas Forças Armadas em estado de alerta máximo.
Na noite de terça-feira, 27, dezenas de manifestantes no lado sérvio da fronteira usaram caminhões e tratores para deter o tráfego que leva a Merdare, o maior cruzamento entre ambos os lados. A polícia de Kosovo reagiu, fechando hoje a passagem fronteiriça.
“Este bloqueio ilegal impede a livre-circulação de pessoas e de bens, pelo que convidamos nossos cidadãos e compatriotas a circularem pelas demais passagens fronteiriças”, declarou a polícia em um comunicado sobre esse ato.
Em seu comunicado, Estados Unidos e UE saudaram as garantias dadas por funcionários kosovares de que não havia uma lista de detenções de sérvios que possam ter participado de protestos pacíficos e erguido barricadas.
"Ao mesmo tempo, deve-se respeitar o Estado de direito, e qualquer forma de violência é inaceitável e não será tolerada", acrescentaram.
"Também esperamos que Kosovo e Sérvia voltem a fomentar um entorno propício para a reconciliação, a estabilidade regional e a cooperação, em benefício de seus cidadãos", completa a declaração.
Nesse contexto, o governo de Kosovo pediu às forças de manutenção da paz da Organização do Tratado do Atlântico Norte (KFOR, da Otan) o fim das barricadas.
A Sérvia não reconhece a independência declarada em 2008 por sua antiga província, povoada por uma grande maioria albanesa.
O país está incentivando os cerca de 120 mil sérvios de Kosovo a desafiarem as autoridades locais, no momento em que Pristina deseja estabelecer sua soberania sobre todo território.
O ministro sérvio da Defesa, Milos Vucevic, declarou, nesta quarta-feira, que o bloqueio de estradas é um meio de protesto "democrático e pacífico" e que seu governo mantém aberta sua linha de comunicação com diplomatas ocidentais para resolver a crise.
Rússia apoia Sérvia diante das tensões em Kosovo
O Kremlin comunicou nesta quarta-feira, 28, que a Rússia "apoia" as ações da Sérvia para acabar com as tensões no país vizinho, Kosovo, onde cidadãos sérvios levantaram barricadas e houve registro de tiros e explosões.
"Temos relações de aliados muito estreitas, históricas e espirituais com a Sérvia", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. A Rússia acompanha "muito atentamente" os acontecimentos em Kosovo, acrescentou.
"E, claro, apoiamos Belgrado nas ações executadas", insiste Peskov.
O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, enviou no domingo, 25, o chefe do Exército, o general Milan Mojsilovic, à fronteira com Kosovo. A comunidade sérvia ergueu barreiras nas passagens e provocou um novo aumento das tensões neste jovem país dos Bálcãs.
No dia seguinte, o governo sérvio reforçou o estado de alerta em suas tropas e aumentou a presença militar na área. Segundo o anúncio do ministro da Defesa, Milos Vucevic, o número de soldados foi de 1,5 mil para 5 mil.
De acordo com Peskov, "é natural que a Sérvia defenda os direitos dos sérvios, que vivem em condições tão difíceis, e reaja severamente quando seus direitos são violados".
Milos Vucevic confirmou nesta quarta-feira ao canal de televisão estatal RTS que o país está disposto a alcançar "um acordo" com Kosovo, mas não deu mais detalhes.
A Sérvia não reconhece a independência de sua antiga província do sul, habitada majoritariamente por albaneses étnicos e proclamada em 2008.
Belgrado estimula os 120 mil sérvios de Kosovo a desafiarem as autoridades locais, enquanto Pristina procura consolidar sua soberania em todo o território.
Em Kosovo, centenas de sérvios bloqueiam estradas do norte do país em protesto pela prisão de um ex-policial da Sérvia desde 10 de dezembro. A manifestação causou a paralisação do trânsito em dois postos fronteiriços com a Sérvia.
Na terça-feira, 27, dezenas de manifestantes do lado sérvio da fronteira utilizaram caminhões e tratores para pararem o tráfego, que leva ao maior posto da fronteira entre os dois países. Kosovo classificou o ato como "bloqueio ilegal" e fechou a passagem na quarta-feira.
No início de novembro, uma polêmica decisão do governo de Pristina proibiu os sérvios residentes em Kosovo de usarem placas de veículos emitidas na Sérvia.
A medida, que foi suspensa, também incendiou as tensões. Centenas de policiais sérvios integrados à polícia de Kosovo, assim como juízes, promotores e outros funcionários se demitiram em sinal de protesto.
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