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EUA adotam a cautela ante crise líbia

Barack Obama fala em "banho de sangue", mas não anuncia medidas práticas para acabar com a violência; prioridade é tirar americanos do país

Obama não pediu a saída de Kadafi, diferente do que fez com Mubarak no Egito (AFP/Alejandro Pagni)
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Da Redação

Publicado em 23 de fevereiro de 2011 às 18h24.

Washington - Barack Obama reagiu por enquanto prudentemente à violência na Líbia - uma atitude criticada nos Estados Unidos, mas que poderia se explicar pela presença de centenas de americanos naquele país.

O presidente dos Estados Unidos deve falar pela primeira vez sobre o assunto nesta quarta ou na quinta-feira, depois de sua secretária de Estado, Hillary Clinton.

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Ela exigiu o fim do "banho de sangue", mas evitou comentar o discurso incendiário do coronel Kadafi na terça-feira.

O contraste é grande com a consternação e horror exprimidos por vários dirigentes europeus, começando pela chanceler alemã Angela Merkel.

O fato de o governo não mencionar pessoalmente Muamar Kadafi nos pronunciamentos contrasta também com os apelos urgentes - e públicos - feitos ao ex-presidente egípcio Hosni Mubarak, há apenas algumas semanas.

Hillary Clinton também destacou que a segurança dos americanos presentes na Líbia - 650 cidadãos, assim como mais de 50 diplomatas e membros de suas famílias, era a "prioridade" do governo, sugerindo que este aspecto guiava sua resposta relativamente comedida.

Após dois dias de expectativa, um certo número de americanos começou a embarcar nesta quarta-feira num ferry que deve seguir para Malta, o que poderia significar uma mudança de tom do governo.

Em 2004, 15 anos após o atentado que havia causado a queda de um Boeing americano em Lockerbie na Escócia, o dirigente líbio havia renunciado às armas de destruição em massa e ao terrorismo, em troca de uma promessa de normalização das relações com os Estados Unidos.

O especialista conservador Elliott Abrams, do Conselho das Relações Exteriores (CFR), se impacienta e propõe medidas concretas, tais como a exclusão da Líbia do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o bloqueio de contas bancárias e o aviso ao ministro líbio das Relações Exteriores, Mussa Koussa, de que pagaria pessoalmente o preço, se sangue americano correr na Líbia.

A prudência da aministração também recebeu uma alfinetada da ex-candidata à vice-presidência Sarah Palin, a musa da direita do Partido Republicano.

"Os Estados Unidos não podem fazer grande coisa para mudar a situação" na Líbia, afirmou à AFP Marina Ottaway, da Fundação Carnegie.

A analista estima que a relativa falta de vigor da reação americana deve ser interpretada no contexto da agitação generalizada do mundo árabe.

"Se os Estados Unidos pedirem a derrubada de Khadafi, as pessoas vão se perguntar por que não fazem o mesmo com Bahrein, ou até com o presidente Saleh do Iêmen", disse ela.

A imposição de uma zona de exclusão aérea, que impediria a aviação de Khadafi bombardear sua própria população, está entre os argumentos evocados em Washington. Mas até os promotores desta ideia reconhecem que convencer o Conselho de Segurança da ONU, depois a Otan, levaria tempo.

Quanto a sanções, Marina Ottaway não acredita nelas: "as sanções têm um impacto a longo prazo. Num caso como este, quando a solução pode ser encontrada nos próximos 15 dias, as sanções em nada mudariam".

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