Arquipélago de Palau: presidente do país anunciou que sancionaria uma lei que protege contra a pesca 80% das águas territoriais do país (dothow/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 16 de novembro de 2015 às 19h54.
O minúsculo arquipélago de Palau, no Pacífico Ocidental, há muito tempo é um dos líderes em conservação oceânica.
Na última década, o país criou o primeiro santuário de tubarões do mundo, aprovou algumas das leis mais rigorosas proibindo arrastões em águas profundas e desenvolveu uma estrutura de conservação que conta com a ajuda da comunidade, treinando os pescadores para que eles coletem informações sobre o que pescaram.
No fim de outubro, Palau mais uma vez foi celebrado pelos conservacionistas.
O presidente Tommy Remegesau Jr. anunciou que sancionaria uma lei que protege contra a pesca 80% das águas territoriais do país – cerca de 500.000 quilômetros quadrados.
A reserva será uma das cinco maiores do mundo.
Ao todo, um total de 2,6 milhões de quilômetros quadrados de oceano receberam proteção este ano, segundo o The Washington Post. O número é recorde, e inclui o Reino Unido (860.000 km²), Nova Zelândia (595.000 km²) e Chile (298.000 km²).
Mas, apesar desses avanços, somente 1,9% dos oceanos são estritamente protegidos – em outras palavras, áreas em que você não pode pescar, extrair minerais nem depositar lixo. Os conservacionistas gostariam que a porcentagem estivesse mais perto dos 30%.
Elliot Norse, cientista-chefe do Instituto de Conservação Marinha, trabalha nessa questão desde 1978 e diz que aceitaria 20%. Na realidade, ele diz que “daria a vida” por isso.
“Daria a vida tranquilamente para alcançarmos o modesto objetivo de 20% até 2030”, disse Norse.
“Se fôssemos realmente eficazes, não só falando mas fazendo, salvaríamos virtualmente todos os tipos de animais e plantas e bactérias e vírus dos oceanos, cujo funcionamento é essencial para a continuidade de nossa existência na terra.”
Nada é mais eficaz na proteção da biodiversidade marinha que o estabelecimento de reservas, diz Norse.
Sem essa proteção, as formas de vida marinhas vão continuar entrando em extinção, os oceanos vão ficar cada vez mais ácidos e surgirão mais “áreas mortas”.
Os mamíferos marinhos vêm desaparecendo há milênios – considere a vaca-marinha-de-steller, um dos maiores mamíferos marinhos do mundo, extinta em 1786, somente 27 anos depois de sua descoberta pelos europeus --, mas o processo vem se acelerando nos últimos 50 anos.
Norse nasceu em 1947. Os oceanos, afirma ele, estão “se esvaziando durante minha vida”.
Palau tem cerca de 1.300 espécies de peixes e 700 espécies de corais. O país aposta que, no longo prazo, o turismo é uma aposta melhor que a pesca. Até agora, a estratégia parece ser acertada.
Segundo um estudo, em seus 16 anos de vida, cada tubarão de coral nadando nas águas do arquipélago traz 2 milhões de dólares para ao país.
Mas, como observou Remengesau em um discurso na ONU no ano passado, Palau não tem como proteger o oceano sozinho.
“Volto mais uma vez para uma questão que meus antepassados nunca conceberam: de que adiantam os esforços de Palau se o mundo não nos acompanhar?”, disse ele.
“A chave é fazer cumprir [as restrições das reservas]”, diz Robert H. Richmond, professor da Universidade do Havaí que trabalha em Palau desde 1986.
Em junho, as autoridades de Palau queimaram quatro barcos vietnamitas que foram flagrados com 7,7 toneladas de peixes pescados ilegalmente, incluindo tartarugas marinhas, pepinos do mar e peixes de corais protegidos.
Richmond acredita que a nova reserva oceânica de Palau pode virar o jogo, levando a mais águas protegidas. Ele cita uma fonte improvável para sustentar seu argumento.
“Estava conversando com pessoas do setor pesqueiro. Eles disseram que não estava muito preocupados com Palau, porque é apenas um arquipélago”, disse ele.
“O que os preocupava é que, quando Palau faz alguma coisa, as outras ilhas vão atrás.”
Lila Shapiro cobre a ficção científica da ciência, as maneiras engenhosas pelas quais os cientistas estão tentando resolver os problemas mais difíceis do mundo.