Estado Islâmico aposta em "ciber-marionetes" para se espalhar
Investigações apontam que, em quase todos os casos, "lobos solitários" foram motivados e guiados por extremistas especializados
AFP
Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às 14h11.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2017 às 14h11.
Perdendo espaço no terreno, com seus santuários na Síria e Iraque ameaçados, o grupo Estado Islâmico (EI) aposta cada vez mais na manipulação, via internet, de aprendizes de extremistas para agir em todo o mundo, alertam especialistas.
Estes ataques ou tentativas de atentados são por vezes atribuídos aos famosos "lobos solitários", mas as investigações apontam que em quase todos os casos os autores foram motivados, encorajados, ajudados e guiados por extremistas especializados na arte de manipular e incentivar seus seguidores a "atacar os infiéis".
Com as rotas para as "terras do Califado" extremista na Síria e no Iraque cada vez mais controladas, o EI incentiva seus seguidores a atacar onde vivem, mesmo que por meio de ações artesanais, que não são menos mortais e aterrorizantes, como em Nice ou Berlim.
Em um relatório divulgado na segunda-feira, especialistas da ONU asseguram que "muitos ataques que parecem ter sido inspirados e reivindicados pelo EI são inicialmente atribuídos a atores solitários, mas as investigações que se seguem demonstram que os seus autores muitas vezes recebiam suporte ou assistência material de outros extremistas".
O verdadeiro "lobo solitário" que não revela suas intenções a alguém, não contacta ninguém, que não precisa de ninguém para escolher seu alvo, encontrar as suas armas e agir, é realmente algo muito excepcional.
"Na maioria das vezes", segundo a empresa de consultoria Soufan Group, "um parente próximo ou um amigo do autor do ataque sabe de algo, ou o jihadista recebeu via internet incentivo, motivação ou comunicado algo sobre seu projeto".
Durante os últimos meses ataques foram realizados, ou tentativas frustradas na França, Austrália, Alemanha, Indonésia, Índia, Malásia e Bangladesh por extremistas aprendizes, via internet, por manipuladores do EI especializado nestas tarefas, com base no Iraque e na Síria e opera por meio de aplicativos criptografados.
"Rasgue a passagem"
"Enquanto a recuperação (pela coalizão anti-EI) dos territórios que o movimento jihadista controla é crucial para enfraquecer a organização, ela vai encontrar, sem dúvida alguma, maneiras de se adaptar", ressalta Bridget Moreng, analista da Valens Global, com sede em Washington.
"O uso de coordenadores virtuais é uma estratégia que o grupo pode recorrer a longo prazo, afirma. Eles podem operar a partir de qualquer lugar, armados apenas com um computador e uma conexão com a internet (...) O Ocidente deve estar preparado para ser atacado por muito tempo após a queda do Califado".
Um dos manipuladores do EI mais reputado, e mais temido, é o francês de origem argelina Rachid Kassim, de 29 anos.
Seu nome, apelidos, traços de suas conexões foram encontrados por investigadores em vários casos, incluindo no assassinato, no final de julho na França, por dois jovens extremistas, de um padre em sua igreja.
Cerca de quinze pessoas, muitas vezes jovens ou até mesmo menores de idade, foram presos e acusados neste verão por ameaças ou projetos de atentados inspirados por seus apelos ao assassinato, geralmente publicados no Telegram.
"Rasgue a sua passagem para a Turquia, o firdaws (paraíso) está na sua frente", lançou em julho, em um vídeo. "Você manipula dois ou três delinquentes, encontra uma arma em qualquer bairro".
Durante uma longa investigação que será transmitida na quinta-feira, jornalistas do programa de televisão francês Envoyé Spécial se passaram para jovens radicalizada e contactaram Rashid Kassim.
"Em termos de ações, há duas possibilidades", lançou em uma mensagem de áudio: "Ou você tenta vir para cá, ou você faz uma coisa de louco aí, se você entende o que eu quero dizer. "