Genebra -Mais de 20.000 pessoas estarão infectadas pelo ebola em novembro se não forem reforçadas as medidas de controle na África Ocidental, indicou nesta terça-feira a OMS , ao mesmo tempo em que a Libéria advertia que a lentidão da reação ante a epidemia pode levar a uma nova guerra civil.
"Supondo que não exista nenhuma mudança em nível de medidas de controle da epidemia", no início de novembro haverá cerca de 10.000 casos na Libéria, cerca de 6.000 na Guiné e mais de 5.000 em Serra Leoa, indicam os especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) em um estudo publicado pela revista New England Journal of Medicine.
"Estamos em uma terceira fase de crescimento da epidemia" que é explosiva, afirmou um dos coautores do estudo durante uma coletiva de imprensa realizada em Genebra. Trata-se do doutor Christopher Dye, que também é diretor de estratégia da OMS.
Segundo o último balanço da OMS publicado na segunda-feira, a epidemia provocou mais de 2.800 mortes na África Ocidental desde o início deste ano, sendo Libéria, Guiné e Serra Leoa os países mais afetados.
O rápido aumento da taxa de transmissão também é explicado pela lentidão da reação no início do surto, assim como pelo mau estado dos sistemas de saúde nos principais países afetados.
"Na Nigéria, onde o sistema de saúde é mais sólido, o número de casos foi limitado até o presente", explicou outra coautora da pesquisa, Christl Donnelly, professora no Imperial College London.
Já o Centro americano para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) informou nesta terça-feira que, com base no pior cenário possível, o número de infectados pelo vírus na Libéria e em Serra Leoa pode disparar para 1,4 milhão até janeiro de 2015.
Segundo o estudo divulgado pelo CDC, o número de casos de ebola nessas duas nações da África Ocidental pode variar de 550 mil a 1,4 milhão até 20 de janeiro de 2015.
A estimativa é baseada na suposição de que os casos de ebola no maior surto já registrado até hoje não estão sendo notificados em uma proporção de 2,5, segundo o relatório do CDC.
No entanto, os especialistas alertaram que os números são baseados em dados disponíveis em agosto, antes dos Estados Unidos planejarem sua resposta à epidemia na África Ocidental.
"Os números não refletem as condições atuais", disse o CDC em um comunicado sobre a projeção, publicado no Relatório Semanal de Morbidade e Mortalidade da agência.
"Os modelos sugerem que ações imediatas e extensas - como as já iniciadas - podem levar a epidemia a um ponto de inflexão para iniciar um rápido declínio no número de casos", esclareceu.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas classificou no dia 18 de setembro esta epidemia como uma ameaça para a paz e a segurança internacional, o que ocorre pela primeira vez com uma urgência sanitária. E a OMS reafirmou na segunda-feira que se trata de uma urgência de saúde pública mundial.
O mundo não pode esperar uma nova guerra civil na Libéria
Por sua vez, o governo da Libéria advertiu que tanto seu país quanto Serra Leoa e Guiné podem cair novamente em uma guerra civil diante da lentidão da resposta à epidemia.
"Os hospitais lutam, mas os hotéis também, assim como as empresas. Se isso continuar, os preços vão subir. A população está agitada", afirmou na segunda-feira à AFP o ministro da Informação, Lewis Brown, em Monróvia.
"O mundo não pode esperar que Libéria, Serra Leoa e Guiné afundem novamente na guerra que pode resultar desta lentidão na resposta" contra o vírus, disse o ministro.
O ministro da Defesa, Brownie Samukai, afirmou no dia 9 de setembro ante o Conselho de Segurança da ONU que a existência da Libéria é ameaçada pelo vírus.
As guerras civis deixaram 250.000 mortos na Libéria entre 1989 e 2003. O país é fronteiriço com Serra Leoa, que também viveu uma disputa bélica de 1991 a 2001, e com a Guiné.
Na Libéria, "nem todos contrairão o vírus, mas todos sofrem os efeitos devido às restrições que impusemos" para evitar a propagação, declarou o ministro Brown.
Segundo ele, o governo liberiano precisa de até 1.000 leitos em dez centros do país.
"Mas não temos a capacidade e os recursos para isso. Isso mina a confiança da população na luta e como governo não podemos nos permitir a perda de confiança de nosso povo", disse, pedindo "ajuda à comunidade internacional".
*Atualizada às 14h44 do dia 23/09/2014
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
2. A origem 2 /13(Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
3. A epidemia atual 3 /13(Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
4. Os sintomas 4 /13(AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
5. Transmissão 5 /13(Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
6. O tratamento 6 /13(Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
7. Como se proteger 7 /13(AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
8. Epidemia global 8 /13(Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
9. Vacina experimental 9 /13(sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
10. Fronteiras fechadas 10 /13(Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
11. Não há mercado para a vacina 11 /13(AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
12. Medicação 12 /13(Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde 13 /13(Reuters)