Encurralado em Mosul, EI ataca cidade iraquiana de Kirkuk
Ao menos 22 pessoas morreram nos confrontos e em atentados suicidas que tiveram início à noite
AFP
Publicado em 21 de outubro de 2016 às 16h57.
Dezenas de extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) atacaram nesta sexta-feira a cidade de Kirkuk (norte) em uma aparente tentativa de desviar a atenção, enquanto forças iraquianas continuavam avançando para seu reduto, Mosul.
No quinto dia da ofensiva das forças iraquianas e combatentes curdos para arrebatar dos extremistas seu último reduto iraquiano, o EI lançou uma série de ataques coordenados atrás da linha de frente, em setores sob o controle curdo.
Ao menos 22 pessoas morreram nos confrontos e em atentados suicidas que tiveram início à noite.
Segundo autoridades iraquianas, pelo menos cinco suicidas atacaram durante a noite vários edifícios do governo em Kirkuk, assim como uma central elétrica em obras, situada a noroeste desta cidade, em que morreram 4 técnicos iranianos que trabalhavam ali.
Kirkuk foi cenário na sexta-feira de ações de guerrilha urbana que obrigaram os dirigentes locais a decretar um toque de recolher total nessa cidade multiétnica, situada a 150 km de Mosul, em uma região petroleira.
Um de seus franco-atiradores matou um jornalista de uma emissora local, Ahmed Hajer Oglu, de 30 anos, pai de dois filhos, que cobria os confrontos em Kirkuk.
Células latentes reativadas
Um correspondente da AFP em Kirkuk observou nove homens, "vestidos ao estilo afegão", armados com granadas e fuzis, em uma rua do bairro de Adan.
Testemunhas ouviram explosões e tiros durante toda a manhã. Os canais de televisão locais exibiram imagens da guerrilha urbana em vários pontos da cidade.
"Durante a oração da manhã, vi jihadistas entrando na mesquita de Al-Mohamadi", afirmou à AFP Haidar Abdel Hussein, professor que mora no bairro de Tesaeen.
"Utilizaram os alto-falantes para gritar 'Alá Akbar' (Deus é grande) e 'Dawla al Islam baqiya' (O EI vencerá)", disse.
O governador da província de Kirkuk, Najmedin Karim, disse que suspeita que células adormecidas do EI foram reativadas na cidade.
Os atacantes não pareciam contar com veículos ou equipamentos pesados.
"Trabalhamos sem cessar para eliminar as células terroristas antes do final do dia", afirmou à AFP o coronel Arkan Hamed, da policial provincial. "Apenas a presença de franco-atiradores nos impede de terminar com eles rapidamente", acrescentou.
Em um comunicado para reivindicar uma série de atentados suicidas na região de Kirkuk, a Amaq, a agência de propaganda do grupo, afirma que "as forças do EI atacavam a cidade de Kirkuk a partir de todos os eixos e controlavam quase metade da cidade".
Testemunhas e dirigentes indicaram, no entanto, que estas afirmações são exageradas.
Em outro incidente em Dakuk, ao sul de Kirkuk, 15 mulheres que participavam de comemorações xiitas foram mortas em um bombardeio aéreo contra o local de culto onde estavam reunidas. Outras cinquenta pessoas ficaram feridas.
Enquanto o EI se prepara para defender Mosul, não parece que o grupo possa realizar contra-ofensivas terrestres de envergadura, como fez no passado.
"Vão utilizar cada vez mais ataques terroristas e voltar às táticas de uma organização rebelde", alerta David Witty, analista e ex-oficial das forças especiais dos Estados Unidos.
A comunidade internacional parece determinada a fazer frente comum a eles. Nesta sexta-feira, em Ancara, autoridades curdas e americanas, cujos militares estão disseminados em várias frentes do norte do Iraque, afirmaram estar decididos a manter uma "estreita coordenação" para "infligir uma derrota duradoura" ao EI.
Dez mil peshmergas
No quinto dia da grande ofensiva para tentar retomar Mosul dos extremistas do EI, uma operação que envolve 30.000 membros das forças de segurança e conta com o apoio da coalizão internacional anti-extremista, as tropas do Iraque prosseguem em seu avanço.
As forças curdas, que controlam Kirkuk, participam nessa ofensiva. "Cerca de 10.000 peshmergas estão envolvidos nessa operação", indicou o comando dos combatentes curdos em um comunicado.
Os líderes políticos e as autoridades celebraram os avanços até o momento, mais rápidos que o previsto.
Em Bartala, localidade de maioria cristã reconquistada na quinta-feira, as forças iraquianas estão a apenas 15 km ao leste de Mosul, onde quase 1,5 milhão de civis se encontram bloqueados.
Segundo as Nações Unidas, apenas 5.640 deslocados foram contabilizados nos três primeiros dias de ofensiva, mas espera que "o número de pessoas vulneráveis que tentam ir para áreas seguras aumente à medida que os combates se aproximam das zonas urbanas".
A comunidade internacional está preocupada com o 1,5 milhão de civis bloqueados em Mosul, onde ainda haveria entre 3.000 e 4.500 extremistas que os utilizariam como escudos humanos.