Refugiados sírios: para o analista militar egípcio Hussam Suelem, o grupo radical critica os deslocados sírios porque não conseguiu recrutá-los para sua causa (Reuters/ Yannis Behrakis)
Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2015 às 10h38.
Cairo - O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) respondeu à onda de sírios que buscam refúgio na Europa demonizando-os por fugirem do "bom governo da lei islâmica" e acusando a Europa de tentar despovoar o autoproclamado califado.
Em dezenas de vídeos divulgados recentemente pelo EI, os radicais afirmam que as pessoas que abandonam a Síria estão fugindo, em sua grande maioria, dos territórios sob o controle do regime do presidente Bashar al Assad ou dos curdos.
Nos comunicados, eles pedem que os sírios busquem refúgios nas terras do EI ao invés de se dirigir à Europa. Eles tentam estabelecer uma clara diferença entre o suposto "orgulho" de viver sob o califado e a "humilhação" de viajar aos países governados pelas "leis apóstatas".
Além disso, os jihadistas reiteram que é um pecado se estabelecer nos chamados "estados apóstatas", enquanto elogiam os extremistas que deixaram os países do Ocidente para lutar ao lado do EI na Síria e no Iraque.
"Abandonamos Alemanha, Tunísia, tudo o que tínhamos para vir ao Estado do Islã. Aconselhamos a eles (os deslocados) que também venham para cá, porque nós não cometemos injustiças contra ninguém", afirma um jihadista em um dos vídeos.
Grande parte da jurisprudência da lei islâmica divide o mundo em duas partes: a terra do islã, onde se aplica a "sharia", e a terra da guerra, onde o Islã não é aplicado, algo considerado como pecado.
"Os sírios e os iraquianos que sonham em emigrar à Europa vão para um paraíso de ficção e de miragem. A Europa não vai fornecer segurança, nem orgulho, nem bem-estar. Estão cometendo o erro mais grave de sua vida", garante outro combatente radical, que diz ter vindo da França para lutar pelo EI.
Os vídeos divulgados pelos extremistas são acompanhados de textos religiosos que fazem referência à proibição dos muçulmanos de viver em países onde a "sharia" não é aplicada e nos quais se critica os fiéis que se recusam a se unir à "jihad" (guerra santa).
"Se não você não for à guerra, sofrerá um doloroso castigo. Fará com que outra pessoa o substitua", diz um dos textos mais repetidos nas mensagens dos EI.
Para o analista militar egípcio Hussam Suelem, o grupo radical critica os deslocados sírios porque não conseguiu recrutá-los para sua causa.
No entanto, o diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos, Rabi Abdul-Rahman, afirma que, até o momento, o EI só pune os profissionais que considera indispensáveis para o califado, como médicos e professores, que, em caso de fuga, têm seus bens confiscados.
A demonização dos refugiados é feita de forma paralela nos vídeos às acusações contra os países europeus de receber os sírios com a única intenção de explorá-los economicamente e obrigá-los a abandonarem suas religiões.
A maior parte das gravações começa mostrando imagens de policiais de países europeus, como a Hungria, reprimindo os imigrantes sírios. Ou exibem as grandes avalanches de refugiados tentando conseguir alimentos nos centros de amparo.
Em um dos vídeos, um imã faz um sermão para dezenas de fiéis contra a União Europeia (UE), por abrir suas portas aos sírios.
"Como não conseguiram colocar de joelhos a população do Levante (EI) com os tanques, inventaram esse estratagema malicioso. Querem esvaziar o Levante de sua população porque necessitam de mão de obra e um exército para nos combater no futuro", declara o imã.
Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de quatro milhões de sírios fugiram da guerra que assola o país desde 2011. Há 1,9 milhão de refugiados na Turquia, além de outros 2 milhões divididos entre Líbano, Egito, Jordânia e Iraque.
Já a Organização Internacional das Migrações (OIM) informou no início desse mês que 2.760 imigrantes morreram neste ano na tentativa de atravessar o Mediterrâneo, na viagem rumo a uma vida melhor na Europa.