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Egípcios mantêm protestos contra Mubarak em meio ao caos

Insatisfeitos com as novas nomeações do presidente, anunciadas para tentar conter a fúria da população, os manifestantes agora exigem também a saída dos recém-empossados

Protestos no Egito já estão no sexto dia (Mohammed Abed/AFP)

Protestos no Egito já estão no sexto dia (Mohammed Abed/AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de junho de 2012 às 19h54.

Cairo - Milhares de pessoas voltaram às ruas do Cairo neste domingo para exigir a renúncia do presidente egípcio Hosni Mubarak e de seu novo governo, no sexto dia de uma rebelião popular que já contabiliza mais de 100 mortos e tenta manter a força política em meio ao caos de saques e fugas de presos, muitos deles políticos.

"O povo quer a queda do regime", gritavam os manifestantes, concentrados na Midan Tahrir - a "Praça da Libertação" -, no centro da capital egípcia. "Vá embora, Mubarak!" Laicos e islamitas, jovens e velhos: a onda de protestos, que também ocorre em outras grandes cidades do Egito como Alexandria e Suez, é de longe a maior e mais importante desde 1981, quando Mubarak chegou ao poder.

Insatisfeitos com as novas nomeações do presidente, anunciadas para tentar conter a fúria da população, os manifestantes agora exigem também a saída dos recém-empossados primeiro-ministro e vice-presidente, respectivamente Ahmed Shafiq e Omar Suleiman, ambos militares.

Em um comunicado, a Irmandade Muçulmana rejeitou as nomeações de Suleiman e Shafiq. "Isto é uma tentativa (do governo) de esquivar-se das reivindicações do povo e abortar sua revolução", afirmou o movimento, principal força de oposição do país. Neste domingo, as forças de oposição do Egito lideradas pela Irmandade encarregaram o dissidente Mohamed ElBaradei de negociar com o regime do presidente Mubarak.

A Coalizão Nacional pela Mudança, que reúne vários movimentos de oposição egípcios - incluindo a Irmandade Muçulmana, que foi ilegalizada pelo governo - escolheram o Prêmio Nobel da Paz para representá-los "nas negociações com as autoridades", disse à AFP Saad al-Katatni, membro da Irmandade.

Pela manhã, Mubarak visitou o centro de operações das forças armadas, para - segundo a televisão estatal - acompanhar de perto a evolução das medidas de segurança aplicadas para conter os protestos.

Uma das primeiras medidas das novas autoridades foi proibir a emissora qatariana Al-Jazeera, que vinha fazendo uma extensa cobertura dos acontecimentos, de trabalhar no país, caçando as credenciais de todos os seus jornalistas e funcionários.


O ministro da Informação, Anas El Feki "ordenou que a Al-Jazeera na República Árabe do Egito feche as portas (...), que sejam canceladas suas autorizações e que sejam retirados os crachás de imprensa de seus funcionários a partir de hoje (domingo)", indicou a agência oficial Mena. Pouco depois, a rede emitiu um comunicado denunciando sua expulsão e afirmando que o objetivo desta medida é "silenciar o povo egípcio".

"Neste momento de profundo conflito e tensão na sociedade egípcia, é indispensável que as vozes de todos os lados sejam ouvidas", afirma a nota. "O fechamento de nossa redação pelo governo egípcio tem como objetivo censurar e silenciar as vozes do povo egípcio". Além disso, o satélite egípcio Nilesat, administrado pelo Estado, suspendeu a transmissão dos programas da Al-Jazeera, anunciou a própria emissora, baseada no Qatar.

"A transmisssão por satélite foi interrompida pela Nilesat", declarou um diretor técnico da emissora. A Al-Jazeera, que também é retransmitida por outros satélites árabes, entre eles o Arabsat, comunicou a seus telespectadores uma nova frequência para captar os programas.

O clima de insegurança que domina as principais cidades do país aumentou ainda mais neste domingo, com a fuga de dezenas de prisioneiros - entre eles, 34 membros da Irmandade Muçulmana, inclusive dois de seus dirigentes: Essam el Aryan e Saad el Katatni. "Suas vidas correriam perigo se permanecessem na prisão", disse à AFP o advogado Abdel Moneim Abdel Maqsud. Muitos estavam detidos há anos.

A fuga aconteceu na penitenciária de Wadi Natrun, perto do Cairo, que foi abandonada pelos carcereiros e guardas, segundo o advogado da Irmandade Muçulmana. Um funcionário das forças de segurança indicou que os fugitivos se espalharam por várias cidades e povoados da região, e afirmou que este não é um incidente isolado: houve fugas semelhantes em várias prisões do país.

A prisão de Abu Zaabel foi palco de uma rebelião, que terminou com a morte de pelo menos 14 pessoas, cujos corpos foram levados para uma mesquita próxima ao centro de detenção. "Há muito mais corpos lá dentro", disse à AFP um morador, que não quis se identificar. Dois dos corpos encontrados na mesquita são de policiais.

Em Abu Zaabel, situada em uma estrada que liga o Cairo a Alexandria, um repórter presenciou uma cena inusitada: em meio à fuga em massa, alguns prisioneiros recusavam-se a deixar as celas, alegando faltar pouco tempo para o fim de suas penas. "Saia daí, saia daí!", gritava um detento em fuga, dirigindo-se a um homem que, no meio da confusão, permaneceu sentado dentro da cela. "Não, para mim só falta um mês, e eu não quero sair para depois ser preso de novo", respondeu o homem.

"Olha, não vai ter ninguém para vir e trazer comida ou água para você", argumentou o fugitivo. "Deus proverá para mim", disse o prisioneiro, com olhar assustado. Muitos egípcios acreditam que a polícia está deliberadamente deixando que os prisioneiros fujam para aumentar ainda mais o caos, forçando a população a interromper os protestos para pedir que as forças armadas intervenham para manter a ordem.

Nos últimos dias, centenas de saques foram registrados no Cairo, em Alexandria e em Suez, onde vigora desde sábado um toque de recolher das 16H00 às 08H00 (12H00 às 06H00 de Brasília). Nos bairros, a população se mobiliza em comitês e milícias para vigiar suas propriedades e conter saqueadores - que uma vez capturados são entregues ao exército.

Já não há combustível na maioria dos postos da capital, e muitos caixas automáticos estão sem dinheiro. Ainda não se sabe se os bancos abrirão na segunda-feira, já que permaneceram fechados, assim como a Bolsa de Valores, por ordem do governo durante o final de semana. Vários países, entre eles os Estados Unidos, já preparam a evacuação de seus cidadãos do Egito a partir de segunda-feira.

O governo americano também recomendou a seus cidadãos que evitem viagens ao Egito, além de autorizar a partida das famílias de diplomatas e de funcionários não-essenciais da embaixada, informou o departamento de Estado.

A comunidade internacional acompanha com ansiedade a situação no país de 80 milhões de habitantes - o mais povoado do mundo árabe -, aliado de Washington e dono de papel fundamental nas negociações no conflito entre israelenses e palestinos.

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