Documentos revelam tensão entre EUA e ditadura argentina
Centenas de páginas revelam em detalhes casos de detidos, torturados e desaparecidos, a partir de informações obtidas pela embaixada americana em Buenos Aires
Da Redação
Publicado em 10 de agosto de 2016 às 08h50.
Arquivos liberados pelos Estados Unidos sobre a ditadura argentina publicados nesta segunda-feira revelam a tensão entre o então presidente, Jimmy Carter, e o regime militar, quando o governo americano promovia uma política externa com prioridade para os direitos humanos .
A questão dos direitos humanos foi um dos dois únicos temas discutidos no encontro na Casa Branca, em setembro de 1977, no qual Carter confrontou o ditador argentino Jorge Videla com base em denúncias de prisões irregulares.
Segundo um memorando da conversa, Carter citou as detenções do editor Jacobo Timerman e de membros da família Deutsch, e perguntou se era "habitual" não informar à Justiça sobre os detidos e as acusações que enfrentavam, repercutindo denúncias de organizações dos direitos humanos sobre a prisão de até 3 mil pessoas.
Timerman e alguns membros da família Deutsch, que Videla vinculou a "grupos terroristas" em uma posterior carta a Carter, foram posteriormente libertados, revelam os documentos.
Carter também pressionou o ditador para que permitisse a visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o que de fato ocorreu dois anos depois, em 1979.
"Carter se envolveu pessoalmente em obter junto aos altos escalões das forças armadas argentinas a libertação de presos específicos e a desaceleração das violações dos direitos humanos que ocorriam", destacou Peter Kornbluh, analista do Arquivo de Segurança Nacional da Universidade George Washington.
Em carta enviada a Videla após a reunião em Washington, Carter expressou sua disposição de "ter a melhor relação" com a Argentina, mas denunciou "sérias violações dos direitos humanos".
"Guerra burocrática"
Centenas de páginas revelam em detalhes casos de detidos, torturados e desaparecidos, a partir de informações obtidas pela embaixada americana em Buenos Aires.
Ao menos 30 mil pessoas despareceram durante a chamada "guerra suja", o período a partir da segunda metade da década de 70, e que se aprofundou de forma dramática após o golpe militar de 1976.
"Os documentos realmente permitem constatar a tentativa de Jimmy Carter de implementar uma nova política externa com enfoque nos direitos humanos", declarou Kornbluh à AFP.
Mas os memorandos e notas também evidenciam o debate interno no governo americano entre os defensores dos direitos humanos e setores mais preocupados com a aliança contra o comunismo.
"Quando tomamos ações contra a Argentina, que são interpretadas como punitivas, não apenas encolerizamos os ideólogos de direita, mas também agitamos o setor de negócios e a imprensa nos Estados Unidos", escreveu o então assessor de segurança da Casa Branca, Zbigniew Brzezinski, em um memorando de março de 1979 enviado ao secretário de Estado, Cyrus Vance.
Os documentos também revelam o antagonismo pessoal entre Brzezinski e Pat Derian, a subsecretária de Estado e principal ativista de Carter a favor dos direitos humanos.
"Ela me critica em tudo", diz Brzezinski em um memorando.
"Se nota uma sensação de guerra burocrática", destaca Kornbluh.
Arquivos liberados pelos Estados Unidos sobre a ditadura argentina publicados nesta segunda-feira revelam a tensão entre o então presidente, Jimmy Carter, e o regime militar, quando o governo americano promovia uma política externa com prioridade para os direitos humanos .
A questão dos direitos humanos foi um dos dois únicos temas discutidos no encontro na Casa Branca, em setembro de 1977, no qual Carter confrontou o ditador argentino Jorge Videla com base em denúncias de prisões irregulares.
Segundo um memorando da conversa, Carter citou as detenções do editor Jacobo Timerman e de membros da família Deutsch, e perguntou se era "habitual" não informar à Justiça sobre os detidos e as acusações que enfrentavam, repercutindo denúncias de organizações dos direitos humanos sobre a prisão de até 3 mil pessoas.
Timerman e alguns membros da família Deutsch, que Videla vinculou a "grupos terroristas" em uma posterior carta a Carter, foram posteriormente libertados, revelam os documentos.
Carter também pressionou o ditador para que permitisse a visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o que de fato ocorreu dois anos depois, em 1979.
"Carter se envolveu pessoalmente em obter junto aos altos escalões das forças armadas argentinas a libertação de presos específicos e a desaceleração das violações dos direitos humanos que ocorriam", destacou Peter Kornbluh, analista do Arquivo de Segurança Nacional da Universidade George Washington.
Em carta enviada a Videla após a reunião em Washington, Carter expressou sua disposição de "ter a melhor relação" com a Argentina, mas denunciou "sérias violações dos direitos humanos".
"Guerra burocrática"
Centenas de páginas revelam em detalhes casos de detidos, torturados e desaparecidos, a partir de informações obtidas pela embaixada americana em Buenos Aires.
Ao menos 30 mil pessoas despareceram durante a chamada "guerra suja", o período a partir da segunda metade da década de 70, e que se aprofundou de forma dramática após o golpe militar de 1976.
"Os documentos realmente permitem constatar a tentativa de Jimmy Carter de implementar uma nova política externa com enfoque nos direitos humanos", declarou Kornbluh à AFP.
Mas os memorandos e notas também evidenciam o debate interno no governo americano entre os defensores dos direitos humanos e setores mais preocupados com a aliança contra o comunismo.
"Quando tomamos ações contra a Argentina, que são interpretadas como punitivas, não apenas encolerizamos os ideólogos de direita, mas também agitamos o setor de negócios e a imprensa nos Estados Unidos", escreveu o então assessor de segurança da Casa Branca, Zbigniew Brzezinski, em um memorando de março de 1979 enviado ao secretário de Estado, Cyrus Vance.
Os documentos também revelam o antagonismo pessoal entre Brzezinski e Pat Derian, a subsecretária de Estado e principal ativista de Carter a favor dos direitos humanos.
"Ela me critica em tudo", diz Brzezinski em um memorando.
"Se nota uma sensação de guerra burocrática", destaca Kornbluh.