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Desastre contamina economia japonesa no curto prazo

Bolsa recua, setor de energia gera incertezas e exportações são paralisadas

O nível foi o menor de fechamento desde 28 de abril de 2009 e a maior baixa porcentual desde o declínio de 11,4% em 16 de outubro de 2008, após a quebra do banco Lehman (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 15 de março de 2011 às 21h32.

São Paulo - O cenário para a economia japonesa para as próximas semanas e meses piorou. Além da ameaça nuclear disparada pela explosão de reatores neste final de semana, o Japão também enfrenta a fuga de investidores – algo que pode ser bastante prejudicial a seu ritmo de recuperação. Somente nesta terça-feira, a bolsa de Tóquio desabou 10,5%, após o índice Nikkei (principal indicador do mercado japonês) ter atingido a queda máxima de 14% durante o dia. Contudo, a aposta de que haverá recuperação no médio e longo prazo permanece.

É sabido que o mercado de capitais costuma antecipar as tendências para a economia e as empresas que têm ações em bolsa; para o bem ou para o mal. Muitas vezes, o resultado disso pode ser a euforia ou, no caso do Japão atual, a aversão ao risco – o que deverá perdurar durante a semana, segundo analistas. Esta ‘correção’ – no jargão do mercado para as situações de queda brusca nos valores de ativos – afetou, sobretudo, os papéis de empresas ligadas a energia, tecnologia (e componentes eletrônicos) e varejo. O primeiro setor foi afetado por razões óbvias: companhias arcam com enormes prejuízos decorrentes do terremoto e do tsunami, além de serem protagonistas no acidente com os reatores nucleares. Já as ações de empresas de tecnologia sofrem os efeitos diretos da insuficiência de infraestrutura para exportar no curto prazo, haja vista que portos e aeroportos foram completamente destruídos. Por fim, o varejo tem sido duramente penalizado por conta das incertezas relacionadas ao tempo que levará para que a economia japonesa se reaqueça.

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Após o fechamento das bolsas asiáticas, o Ocidente sentiu o impacto e os índices das bolsas mostraram quedas. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 1,15%. Em São Paulo, um efeito mais tênue: queda de 0,24% no Ibovespa. “Há uma piora de cenário que acaba afetando os preços das commodities e, por conseqüência, os países exportadores. São coisas que estão associadas. É normal que, em situações como essas, haja uma procura por ativos menos arriscados, como títulos do tesouro americano”, afirma Carlos Thadeu de Freitas, economista-sênior da gestora de recursos Franklin Templeton.

Por outro lado, a queda nas cotações das commodities reduz a pressão de alta sobre a inflação. Nesse contexto, o petróleo tem papel importante. O preço do barril do produto do tipo Brent caiu mais de cinco dólares em Londres nesta terça-feira, aliviando um pouco a pressão das últimas semanas, que havia sido agravada pelos conflitos nos países do Oriente Médio. Segundo o relatório do Itaú BBA, os preços das commodities agrícolas cederam ainda mais, cerca de 7% em apenas uma semana – o que também representa um respiro ante as inquietações das autoridades econômicas do mundo no que se refere à inflação.

Ameaça nuclear – Apesar de existente, é considerado pequeno o risco de que as explosões em usinas japonesas transformem-se num acidente nuclear semelhante ao de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. Tanto que essa possibilidade nem chegou a ser incorporada às projeções dos economistas. Para Kilbinder Dosanjh, analista para Ásia da consultoria Economist Intelligence Unit (EIU), os impactos econômicos reais permanecem os mesmos – isto é, são os mesmos estimados na última sexta-feira, logo após o desastre. “A única mudança é que os componentes do PIB do Japão estão sendo ajustados, com uma possível redução de 0,2% em nossa estimativa inicial, que era de 1,3%, afirmou Dosanjh ao site de VEJA. Já o Itaú BBA espera uma desaceleração de 0,2% a 0,8% em 2011.

Impacto claro e efetivo será sentido nas empresas do setor de energia, como a Tokyo Electric Power Co (Tepco), que poderá levar cerca de um ano para conseguir restaurar suas operações por completo – caso consiga. “Será necessário que o Japão repense sua matriz energética para que não seja tão dependente de fontes nucleares”, avalia Cesar Canali, vice-presidente para América Latina da gestora MF Global, que acredita em uma expansão consistente das importações de carvão como substituto no curto prazo. Outros setores que poderão se beneficiar imediatamente com a reconstrução, na avaliação de Canali, são o de construção civil (sobretudo cimento), aço e limpeza de grande escala (onde se inclui também indústria química).

Fator China – Muito se fala em como a retração da economia japonesa no curto prazo poderá afetar as exportações da China, tendo em vista que o Japão é o terceiro mercado mais importante para os produtos chineses. No entanto, analistas acreditam que o impacto poderá ser absorvido pelo próprio mercado interno chinês – em ávida expansão e que sofre com o aumento de preços decorrente do aumento da demanda. De acordo com análise do banco Pine enviada a clientes, o mercado interno chinês absorve hoje 90% do PIB do país, o que reduz a importância do setor externo. “Não acreditamos em uma deterioração relevante de nível de atividade da China”, explica o relatório da instituição.

O pior impacto, no entanto, poderá vir no sentido contrário. O Japão exporta um volume próximo de 13 trilhões de ienes para a China – em forma, sobretudo, de componentes eletrônicos. Com a deterioração (e, em outros casos, destruição) dos portos japoneses, o escoamento da produção se torna inviável – mesmo que as fábricas não tenham sido afetada pelo desastre.

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