Da Síria à China: quem confia em Donald Trump?
Presidente americano abandonou aliados curdos numa mostra de que pode intensificar decisões intempestivas de olho nas reeleições de 2020
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2019 às 06h35.
Última atualização em 8 de outubro de 2019 às 06h46.
São Paulo — Para além do vaivém entre Washington e Pequim, vem do Oriente Médio o novo foco de tensão política envolvendo o governo de Donald Trump . A qualquer momento tropas curdas podem invadir áreas curdas na Síria depois de Trump anunciar, no domingo, a retirada de soldados americanos da região.
Embora o movimento seja esperado há tempos, Trump o fez a seu estilo: numa enxurrada de posts nas redes sociais e sem consultar aliados. Para aumentar o nível de tensão, ainda ameaçou o presidente turco, Recep Erdogan, que uma invasão pode ter sérias consequências.
Uma invasão turca pode levar à dispersão de 750.000 curdos que hoje vivem numa zona considerada “segura”. Pode também ter consequências imediatas para os mais de 3,6 milhões de sírios que vivem como refugiados na Turquia — segundo a revista Economist, pelo menos 1 milhão deles poderiam ser realocados para a zona curda.
O que mais preocupa analistas internacionais é a capacidade de o novo conflito espalhar uma nova onda de instabilidade para a região. A milícia curda, apoiada pelos Estados Unidos, foi a principal responsável por expulsar, em março, o grupo terrorista Estado Islâmico da região. Um vácuo pode trazer os terroristas de volta. A nova onda migratória também pode chegar ao Iraque, que vive um novo período de instabilidade com ataques que levaram à morte mais de 100 pessoas no final de semana.
A guinada também reforça que Trump é um aliado pouco confiável dentro e fora dos Estados Unidos. Além dos curdos, aliados republicanos também foram surpreendidos com a iniciativa. Segundo a agência Reuters, assessores próximos ao presidente temem que a volatilidade de suas decisões políticas cresça com o pedido de impeachment e a aproximação das eleições. Trump tem discussões abertas com Coreia do Norte, Irã e Afeganistão.
Enquanto isso, uma delegação chinesa está a caminho de Washington para uma nova leva de discussões comerciais. Ontem, notícias de um recuo chinês derrubaram as bolsas mundo afora. A única certeza, em se tratando de Donald Trump, é a incerteza — vale para o comércio, vale para as incursões militares.