Crise política no Equador: entenda em cinco pontos o que está acontecendo no país
Mecanismo de "morte cruzada" permite que mandatário governe seis meses via decreto; mobilização popular pode agravar tensão social
Agência de notícias
Publicado em 17 de maio de 2023 às 16h51.
Última atualização em 17 de maio de 2023 às 16h59.
Um dia após apresentar sua defesa em um segundo processo de impeachment, o presidente do Equador, Guillermo Lasso , dissolveu a Assembleia Nacional, mecanismo previsto na Constituição, conhecido como "morte cruzada". A medida permitirá que o presidente governe seis meses por decreto até a convocação de um novo pleito.
Entenda o cenário político atual no país:
Direto ao ponto? Porque Lasso dissolveu a Assembleia?
O Congresso equatoriano autorizou a abertura de um processo de impeachment do presidente há uma semana. O presidente, no poder desde 2021, é acusado de ter cometido peculato na gestão da estatal de navegação Flota Petrolera Ecuatoriana (Flopec);
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O julgamento político de Lasso, um ex-banqueiro de 67 anos, é apoiado por diversos partidos.Além disso, sua popularidade despencou, e chega a 80% de reprovação;
Esta é a segunda vez que a Assembleia Nacional, onde a oposição tem maioria, tenta destituir o impopular governante;
Acuado, o presidente decidiu a decretar a "morte cruzada", mecanismo que nunca havia sido usado no país até então, mas que é previsto na Constituição;
Para adotar a medida, Lasso alegou que o país vive uma crise política e comoção interna.
Como funciona a 'morte cruzada'?
A "morte cruzada" é um termo jurídico-político, adotado em 2008, que consiste na faculdade do poder Executivo de dissolver o Legislativo em três cenários: obstrução do Parlamento contra o governo "de forma injustificada e reiterada"; se o Legislativo assumir funções que não lhe correspondam; ou em uma crise política e comoção interna, motivo que levou Lasso a adotar a medida, segundo o decreto.
Com a medida em vigor, o presidente continuará governando através de decretos executivos de urgência econômica, que serão previamente examinados pelo Tribunal Constitucional.
Ao mesmo tempo que prevê a dissolução do Legislativo, o recurso obriga o Executivo a convocar eleições presidenciais e legislativas, que devem ocorrer no mesmo dia. O presidente em exercício pode participar do pleito, o que também pode ser visto como um plebiscito sobre seu governo — o mandato de Lasso terminaria apenas em 2025.
Acusações de peculato
O presidente é acusado de ter cometido peculato na gestão da estatal de navegação Flota Petrolera Ecuatoriana (Flopec). Segundo as denúncias, ele manteve em vigor um contrato assinado antes de sua posse para o transporte de petróleo bruto com o grupo internacional Amazonas Tanker, que deixou prejuízos de mais de US$ 6 milhões (R$ 29,6 milhões).
Lasso, que não foi condenado pelo crime, nega todas as acusações.
"Não há provas e nem testemunhos relevantes. A única coisa que há são informações que comprovam minha total, evidente e inquestionável inocência", disse o presidente na terça-feira ao Parlamento, onde não tem apoio.
Oposição
Alguns partidos já falam em não reconhecer a 'morte cruzada' e enviar a decisão à Suprema Corte. No Twitter, o ex-presidente Rafael Correa, condenado a 8 anos de prisão no país e que vive na Bélgica, chamou a medida de ilegal:
“É óbvio que não há um estado de comoção interna, mas um julgamento político em aplicação da Constituição. De qualquer forma, é a grande oportunidade de enviar Lasso, seu governo e seus legisladores para casa".
Apoio das Forças Armadas
As Forças Armadas têm, historicamente, um papel conciliador no país. Em um vídeo publicado após a medida, o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas (Comaco), Nelson Proaño, garantiu que, junto com a Polícia Nacional, permanecerão em sua "posição inalterável de absoluto respeito à Constituição e às leis".
O cenário, contudo, pode mudar se houver forte comoção popular, especialmente protestos da poderosa Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), que já ajudou a derrubar três presidentes equatorianos.