Crise no Haiti: ONU diz que quase 100 mil pessoas fugiram de Porto Príncipe por violência de gangues
Grupo, que irá supervisionar a transição política do país e tentará restaurar a ordem, foi criado um mês após a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, uma das exigências dos criminosos
Agência de notícias
Publicado em 12 de abril de 2024 às 18h32.
Última atualização em 12 de abril de 2024 às 19h25.
Relatório divulgado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) dasNações Unidas, nesta sexta-feira, mostra que quase 100 mil pessoas fugiram da região metropolitana de Porto Príncipe no último mês devido à intensificação dos ataques de gangues armadas, que agora controlam a maior parte da capital do Haiti.
Em meio aos deslocamentos e à instabilidade que predominam a região, uma pontada de esperança surge no horizonte com a criação oficial do Conselho Presidencial de transição, que promete trazer estabilidade ao país caribenho e supervisionar sua transição política.
Segundo dados recolhidos nas estações rodoviárias mais utilizadas, a OIM constatou que entre 8 de março e 9 de abril, 94.821 pessoas fugiram da capital com destino principalmente aos departamentos do Grande Sul, que já acolhem 116 mil deslocados que fugiram nos últimos meses. O número anterior da agência reportava 53 mil pessoas deslocadas entre 8 e 27 de março.
A OIM ressalta que esses números não refletem necessariamente todo o fluxo, já que alguns deslocados não passam pelos pontos onde os dados são coletados. Além disso, a agência destaca que as províncias de destino "não têm infraestrutura suficiente e as comunidades de acolhimento não têm recursos suficientes que lhes permitam enfrentar estes fluxos massivos de pessoas deslocadas da capital."
Novo fenômeno
De acordo com os dados, a maioria (63%) das quase 100 mil pessoas que fugiram de Porto Príncipe já estava deslocada internamente, muitas vezes refugiada primeiro com familiares na região metropolitana da capital — algumas já haviam sido deslocadas duas, três ou mais vezes. Mas a OIM observou um novo fenômeno: embora no início de março os deslocados internos tenham sido os primeiros a abandonar a capital, com o tempo, aqueles que não tinham sido deslocados antes também decidiram partir.
"Isso descreve ainda mais a deterioração da situação na capital, já que sair da capital poderia ser uma decisão relativamente mais rápida para alguém que já estava deslocado do que para alguém que ainda estava em casa e decidiu sair para procurar refúgio nas províncias", observou a agência da ONU.
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A grande maioria (78%) das pessoas entrevistadas pela OIM no âmbito deste exercício de coleta de dados afirmou que abandonou a capital devido à violência, e 66% disse que ficaria longe "o tempo que fosse necessário".
"Antes eu dizia que não ia deixar o país. Aconselhava os jovens a não irem embora, que era melhor juntar nossas economias para iniciar um negócio", contou Charles Jean Wilderson, um empresário de 38 anos, à AFP. "Mas agora, quando há um sequestro e uma gangue o reivindica, já não dá mais para aconselhá-los a ficar. Um jovem que vai embora neste momento está certo".
Conselho é oficialmente criado
Também nesta sexta-feira, um decreto publicado no diário oficial do país anunciou a formação do Conselho Presidencial transitório, um mês após o primeiro-ministro Ariel Henry ter informado que deixaria o cargo. A destituição do premier, que assumiu após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021, era uma das principais exigências das gangues, que desde o fim de fevereiro espalham o terror pelas ruas de Porto Príncipe, atacando esquadras policiais, prisões, edifícios públicos, aeroportos, porto e estabelecimentos.
O conselho, que ainda não está formalmente no comando do país, é formado por nove membros — sete votantes e dois observadores — representando os partidos políticos, o setor privado e a sociedade civil. "O mandato do conselho presidencial de transição termina no mais tardar em 7 de fevereiro de 2026", diz o decreto, que especifica que seus membros devem nomear "rapidamente" um primeiro-ministro e um governo "inclusivo".