Crimeia aprova declaração de independência
Esta é a etapa prévia ao referendo de domingo para permitir a anexação do território à Rússia, enquanto o diálogo entre americanos e russos não avança
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2014 às 18h14.
As autoridades separatistas da Crimeia aprovaram nesta terça-feira uma declaração de independência da Ucrânia , etapa prévia ao referendo de domingo para permitir a anexação do território à Rússia , enquanto o diálogo entre americanos e russos não avançava e reduzia as chances de uma saída da crise.
Ao mesmo tempo, o chefe de Estado destituído da Ucrânia Viktor Yanukovytch, refugiado na Rússia desde a sua queda em fevereiro após três meses de uma contestação pró-Ocidental que terminou com uma centena de mortos em Kiev, afirmou que continua sendo o "presidente legítimo" do país.
No Parlamento regional da Crimeia, península autônoma de língua russa controlada há mais de duas semanas por tropas russas, "a declaração de independência (...) foi aprovada por 78 dos 81 deputados presentes", segundo um comunicado do Parlamento.
A iniciativa do Parlamento, declarado ilegal pelo novo governo de Kiev, parece destinada a criar um marco legal para uma união à Rússia como Estado soberano.
A declaração cita a separação de Kosovo da Sérvia e acrescenta que "a declaração unilateral de independência de uma parte de um Estado não representa nenhuma violação das leis internacionais".
"A República da Crimeia será um Estado democrático, laico e multinacional, que estará comprometido com a paz e o intendimento interétnico e interreligioso em seu território", indica a declaração.
O referendo previsto para o próximo domingo definirá a adesão da Crimeia à Rússia. Em seguida, a península "se dirigirá à Federação da Rússia para ser admitida com base em um acordo intergovernamental adequado como novo membro da Federação".
Esta iniciativa acontece no momento em que as forças russas controlam todos os pontos estratégicos da península ucraniana.
Tudo foi organizado para uma secessão rápida da península: o "primeiro-ministro" Serguei Axionov se auto-proclamou "chefe dos Exércitos" e os 2 milhões de habitantes da Crimeia, em sua maioria de língua russa, viram os canais de televisão russos substituírem os canais ucranianos em seus televisores.
Homens em uniformes vasculham qualquer viajante que chega em Simferopol vindo do Norte e apenas voos de Moscou podem pousar.
Yanukovytch espera retornar
Do outro lado do mar de Azov, em Rostov, sul da Rússia, o ex-presidente Yanukovytch apareceu pela segunda vez diante das câmeras. Apresentando-se como o único presidente "legítimo" da Ucrânia ele, no entanto, pareceu em desacordo com o Kremlin ao lamentar a secessão da Crimeia da Ucrânia.
"Quando as circunstâncias permitirem - e tenho certeza de que não será necessário esperar muito -, retornarei sem dúvida alguma a Kiev", declarou o presidente destituído.
"Eu me dirijo à comunidade internacional: ninguém tem o direito de apoiar um golpe de Estado", afirmou Yanukovytch, que chamou o novo governo pró-Ocidente de "bando" composto por "ultranacionalistas e neofascistas".
"O país vai se recuperar e encontrar sua unidade", acrescentou, enquanto a Rússia parece apoiar a perspectiva de divisão do país e declarou que Yanukovytch não tem mais futuro político.
Na véspera de uma viagem a Washington do primeiro-ministro ucraniano interino Arseni Yatseniuk, que buscará o apoio de Barack Obama a cinco dias do referendo na Crimeia, a incompreensão é total entre russos e ocidentais.
O primeiro-ministro britânico David Cameron advertiu que haveria "sanções duras se Moscou não mudar de rumo". O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, lançou a ameaça de novas sanções "esta semana".
Mas, no geral, o diálogo de surdos que sucedeu a intensa atividade diplomática na semana passada não sugeriu uma possível resolução para a crise.
Washington acusa Moscou de ignorar as propostas sobre a mesa para tirar a Ucrânia da rise. Em contrapartida, Moscou prometeu contra-propostas, dizendo que não está satisfeito com a mudança de poder em Kiev.
Sinal da tensão extrema entre russos e americanos, o chefe da diplomacia americana, John Kerry, desistiu de uma reunião programada com seu colega russo Sergei Lavrov.
Kerry "afirmou claramente que aceitaria debates centrados na desescalada da crise na Ucrânia se e somente se víssemos evidências concretas de que a Rússia está pronta para discutir estas propostas", declarou o Departamento de Estado.
Awacs na Polônia e Romênia
Neste contexto de tensão, o ministro da Defesa ucraniano, Igor Teniukh, anunciou manobras militares. Os ucranianos "estão prontos para defender o seu Estado", garantiu.
A Otan anunciou na segunda-feira o envio de aviões AWACS para missões de reconhecimento sobre a Polônia e a Romênia, dois países vizinhos da Ucrânia.
No plano econômico, o Banco Mundial (BM) declarou que estava pronto para emprestar "até US$ 3 bilhões" em ajuda para a Ucrânia este ano a fim de poder superar as suas graves dificuldades financeiras.
As novas autoridades de Kiev solicitaram assistência financeira do Fundo Monetário Internacional, de "pelo menos US$ 15 bilhões", depois de constatar que os cofres estavam vazios.
A Comissão Europeia, por sua vez, ofereceu nesta terça-feira para a Ucrânia uma redução nas tarifas alfandegárias, em um valor total de 500 milhões de euros ao ano, indicou o presidente do Executivo comunitário, José Manuel Durao Barroso.
A Comissão "aceitou uma série de medidas comerciais unilaterais" de acesso preferencial ao mercado europeu para as exportações ucranianas por um equivalente "de 500 milhões de euros por ano", indicou Barroso, acrescentando tratar-se de uma prova "tangível" do apoio a Kiev.
Putin bate recorde de popularidade
Em meio à crise, o presidente russo Vladimir Putin bateu seu recorde de popularidade desde a sua reeleição à presidência russa em maio de 2012, principalmente graças a sua intervenção na Ucrânia, constataram nesta terça-feira os principais institutos de pesquisa russos.
Mais de dois russos em cada três (69% dos entrevistados, 9% a mais do que em fevereiro 2013) dizem que aprovam a política de Vladimir Putin, de acordo com um estudo realizado no final de fevereiro pelo Centro Levada (independente) com 1.603 pessoas em 45 regiões russas.
Apenas trinta por cento dos russos (contra 35% há um ano) desaprovam a atividade de seu presidente, de acordo com a pesquisa publicada no site do Centro.
Já o instituto VTsIOM, próximo do poder, vê a popularidade de Putin em 68%, e revela, ao mesmo tempo, que 53% dos entrevistados consideram a crise ucraniana a "principal notícia atual".
"A popularidade de Putin, que se aproxima da registrada em maio de 2012, data da sua reeleição para o seu terceiro mandato como presidente, ainda pode aumentar, visto que a ofensiva do Kremlin na Ucrânia deve continuar", acredita o sociólogo Alexei Levinson, do centro Levada.
As autoridades separatistas da Crimeia aprovaram nesta terça-feira uma declaração de independência da Ucrânia , etapa prévia ao referendo de domingo para permitir a anexação do território à Rússia , enquanto o diálogo entre americanos e russos não avançava e reduzia as chances de uma saída da crise.
Ao mesmo tempo, o chefe de Estado destituído da Ucrânia Viktor Yanukovytch, refugiado na Rússia desde a sua queda em fevereiro após três meses de uma contestação pró-Ocidental que terminou com uma centena de mortos em Kiev, afirmou que continua sendo o "presidente legítimo" do país.
No Parlamento regional da Crimeia, península autônoma de língua russa controlada há mais de duas semanas por tropas russas, "a declaração de independência (...) foi aprovada por 78 dos 81 deputados presentes", segundo um comunicado do Parlamento.
A iniciativa do Parlamento, declarado ilegal pelo novo governo de Kiev, parece destinada a criar um marco legal para uma união à Rússia como Estado soberano.
A declaração cita a separação de Kosovo da Sérvia e acrescenta que "a declaração unilateral de independência de uma parte de um Estado não representa nenhuma violação das leis internacionais".
"A República da Crimeia será um Estado democrático, laico e multinacional, que estará comprometido com a paz e o intendimento interétnico e interreligioso em seu território", indica a declaração.
O referendo previsto para o próximo domingo definirá a adesão da Crimeia à Rússia. Em seguida, a península "se dirigirá à Federação da Rússia para ser admitida com base em um acordo intergovernamental adequado como novo membro da Federação".
Esta iniciativa acontece no momento em que as forças russas controlam todos os pontos estratégicos da península ucraniana.
Tudo foi organizado para uma secessão rápida da península: o "primeiro-ministro" Serguei Axionov se auto-proclamou "chefe dos Exércitos" e os 2 milhões de habitantes da Crimeia, em sua maioria de língua russa, viram os canais de televisão russos substituírem os canais ucranianos em seus televisores.
Homens em uniformes vasculham qualquer viajante que chega em Simferopol vindo do Norte e apenas voos de Moscou podem pousar.
Yanukovytch espera retornar
Do outro lado do mar de Azov, em Rostov, sul da Rússia, o ex-presidente Yanukovytch apareceu pela segunda vez diante das câmeras. Apresentando-se como o único presidente "legítimo" da Ucrânia ele, no entanto, pareceu em desacordo com o Kremlin ao lamentar a secessão da Crimeia da Ucrânia.
"Quando as circunstâncias permitirem - e tenho certeza de que não será necessário esperar muito -, retornarei sem dúvida alguma a Kiev", declarou o presidente destituído.
"Eu me dirijo à comunidade internacional: ninguém tem o direito de apoiar um golpe de Estado", afirmou Yanukovytch, que chamou o novo governo pró-Ocidente de "bando" composto por "ultranacionalistas e neofascistas".
"O país vai se recuperar e encontrar sua unidade", acrescentou, enquanto a Rússia parece apoiar a perspectiva de divisão do país e declarou que Yanukovytch não tem mais futuro político.
Na véspera de uma viagem a Washington do primeiro-ministro ucraniano interino Arseni Yatseniuk, que buscará o apoio de Barack Obama a cinco dias do referendo na Crimeia, a incompreensão é total entre russos e ocidentais.
O primeiro-ministro britânico David Cameron advertiu que haveria "sanções duras se Moscou não mudar de rumo". O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, lançou a ameaça de novas sanções "esta semana".
Mas, no geral, o diálogo de surdos que sucedeu a intensa atividade diplomática na semana passada não sugeriu uma possível resolução para a crise.
Washington acusa Moscou de ignorar as propostas sobre a mesa para tirar a Ucrânia da rise. Em contrapartida, Moscou prometeu contra-propostas, dizendo que não está satisfeito com a mudança de poder em Kiev.
Sinal da tensão extrema entre russos e americanos, o chefe da diplomacia americana, John Kerry, desistiu de uma reunião programada com seu colega russo Sergei Lavrov.
Kerry "afirmou claramente que aceitaria debates centrados na desescalada da crise na Ucrânia se e somente se víssemos evidências concretas de que a Rússia está pronta para discutir estas propostas", declarou o Departamento de Estado.
Awacs na Polônia e Romênia
Neste contexto de tensão, o ministro da Defesa ucraniano, Igor Teniukh, anunciou manobras militares. Os ucranianos "estão prontos para defender o seu Estado", garantiu.
A Otan anunciou na segunda-feira o envio de aviões AWACS para missões de reconhecimento sobre a Polônia e a Romênia, dois países vizinhos da Ucrânia.
No plano econômico, o Banco Mundial (BM) declarou que estava pronto para emprestar "até US$ 3 bilhões" em ajuda para a Ucrânia este ano a fim de poder superar as suas graves dificuldades financeiras.
As novas autoridades de Kiev solicitaram assistência financeira do Fundo Monetário Internacional, de "pelo menos US$ 15 bilhões", depois de constatar que os cofres estavam vazios.
A Comissão Europeia, por sua vez, ofereceu nesta terça-feira para a Ucrânia uma redução nas tarifas alfandegárias, em um valor total de 500 milhões de euros ao ano, indicou o presidente do Executivo comunitário, José Manuel Durao Barroso.
A Comissão "aceitou uma série de medidas comerciais unilaterais" de acesso preferencial ao mercado europeu para as exportações ucranianas por um equivalente "de 500 milhões de euros por ano", indicou Barroso, acrescentando tratar-se de uma prova "tangível" do apoio a Kiev.
Putin bate recorde de popularidade
Em meio à crise, o presidente russo Vladimir Putin bateu seu recorde de popularidade desde a sua reeleição à presidência russa em maio de 2012, principalmente graças a sua intervenção na Ucrânia, constataram nesta terça-feira os principais institutos de pesquisa russos.
Mais de dois russos em cada três (69% dos entrevistados, 9% a mais do que em fevereiro 2013) dizem que aprovam a política de Vladimir Putin, de acordo com um estudo realizado no final de fevereiro pelo Centro Levada (independente) com 1.603 pessoas em 45 regiões russas.
Apenas trinta por cento dos russos (contra 35% há um ano) desaprovam a atividade de seu presidente, de acordo com a pesquisa publicada no site do Centro.
Já o instituto VTsIOM, próximo do poder, vê a popularidade de Putin em 68%, e revela, ao mesmo tempo, que 53% dos entrevistados consideram a crise ucraniana a "principal notícia atual".
"A popularidade de Putin, que se aproxima da registrada em maio de 2012, data da sua reeleição para o seu terceiro mandato como presidente, ainda pode aumentar, visto que a ofensiva do Kremlin na Ucrânia deve continuar", acredita o sociólogo Alexei Levinson, do centro Levada.