Cresce a tensão entre Rússia e EUA
A notícia desta quarta-feira de que a Rússia e os Estados Unidos decidiram conversar sobre a questão síria no próximo sábado, em Lausanne, na Suíça, enche de esperança os defensores da paz e da diplomacia como forma de resolução de conflitos. Já os mais argutos desconfiam que pouca coisa de útil poderá sair desse encontro. […]
Da Redação
Publicado em 12 de outubro de 2016 às 17h58.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 19h07.
A notícia desta quarta-feira de que a Rússia e os Estados Unidos decidiram conversar sobre a questão síria no próximo sábado, em Lausanne, na Suíça, enche de esperança os defensores da paz e da diplomacia como forma de resolução de conflitos. Já os mais argutos desconfiam que pouca coisa de útil poderá sair desse encontro.
Desde o dia 3 deste mês, as conversas bilaterais sobre um novo cessar-fogo na Síria estavam suspensas pelos Estados Unidos. Na época, o porta-voz americano afirmou que “a paciência de todos com a Rússia se esgotara”. Motivos para isso não faltam. O cessar-fogo de setembro foi um fracasso. Alepo continua a sofrer com sucessivos bombardeios. Para piorar, os americanos acusam caças SU-24 russos de atacarem um comboio humanitário das Nações Unidas e do Crescente Vermelho. Dos 31 caminhões, 18 ficaram destruídos. 20 pessoas morreram.
Sergey Lavrov, ministro das relações exteriores da Rússia, deixou claro em entrevista à CNN nesta quarta-feira que EUA e Rússia não devem se entender tão cedo. E as questões vão muito além do conflito no Oriente Médio. Quando perguntado sobre a acusação de que hackers russos atacaram o servidor de e-mail dos democratas com o objetivo de influenciar a eleição presidencial americana, Lavrov se saiu com essa: “é um elogio ter esse tipo de atenção para uma potência regional, como o presidente Obama nos chamou faz pouco tempo”. Onde há ressentimento, falta realpolitik.
O método americano de lidar com a crise também não ajuda a diminuir as tensões. Após o encontro no próximo sábado com os russos, o secretário de Estado John Kerry deve se reunir com os aliados europeus, dessa vez em Londres, para tratar da mesma questão, só que sem os russos. Onde há descrença, falta diálogo.
Com tanta apreensão no ar, não chega a surpreender a fala de Jon Sawers, ex-chefe do MI6 — o serviço secreto britânico, na manhã desta quarta: “estamos entrando em uma época perigosa, até mais perigosa do que a Guerra Fria”. Segundo ele, o Ocidente não trata a “Rússia como uma grande potência capaz de nos causar um grande dano”. Infelizmente, os moradores de Alepo já conhecem esse mal na forma de bombas KAB destruindo edifícios, famílias e o moral. É preciso trabalhar para que outros lugares não venham a conhecer essa destruição também.